Folha de S. Paulo - 15/10/2009 | |
INTEGRANTES DO primeiro escalão de Lula e que vieram do setor privado dizem que "não compreendem bem" o conflito entre o governo e a direção da Vale, mas dizem identificar num "grupo de articuladores" da candidatura de Dilma Rousseff o "núcleo dos insatisfeitos" com a empresa. Esses tais articuladores seriam também do primeiro escalão do governo e de fora dele, do PT. São pessoas para quem a Vale é uma "empresa estratégica" que não funciona como tal, por não adequar seus objetivos ao "incremento da indústria nacional". Lula, grosso modo, quer que a Vale faça aço. Hoje, fazer aço é menos rentável do que vender minérios, para a Vale. Logo, investidores privados não gostam da ideia da Vale siderúrgica. Esses dois informantes dizem não compreender bem o conflito, "que tem muito de plantação de notícias também", porque: 1) se a insatisfação é com Roger Agnelli, haveria maneiras mais sutis e práticas de tentar afastar o executivo; 2) o governo sempre esteve bem informado sobre as mudanças nos investimentos da Vale, embora tenha sido de fato surpreendido pelas demissões na empresa; 3) o "barulho" para afastar Agnelli tornaria a operação mais difícil, pois coloca um grande banco nacional, o Bradesco, e um grande sócio estrangeiro, a Mitsui, em posição "constrangedora". Logo, na avaliação desses informantes do governo, o projeto, ainda que "atrapalhado" e "sem muito futuro", seria o de alterar o controle da Vale. Por que "sem muito futuro"? Porque não é de um dia para o outro que algum empresário levantaria capital para comprar uma fatia relevante da Vale, porque os fundos de pensão não poderiam aumentar sua fatia do controle da empresa e porque Bradesco e Mitsui não vão se desfazer de uma hora para outra de um investimento gordo num setor quente. Para que alguma empresa entre no grupo de controle da Vale, seria necessária a aprovação dos demais controladores. Pela avaliação desses informantes, portanto, não haveria nem plano organizado nem por ora muito factível de alterar o controle da Vale, a não ser por meio de operações financeiras exóticas e de um conflito grave e desgastante com os sócios de fato privados. Consideram que o presidente do fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, não dá mostras de querer entrar num conflito aberto com seus sócios. O presidente da Previ, Sérgio Rosa, em público até agora criticou apenas a recente campanha publicitária da Vale, na qual a empresa se defende da crítica de Lula à redução de investimentos, campanha que teria irritado o presidente. Lembram que outro fundo de pensão de estatal, a Funcef (da Caixa), faz menos de uma semana dizia em público que poderia vender sua participação na Vale (na verdade, na Litel Participações, que tem parte da Valepar, que controla a Vale). A Funcef se queixa de "ter pouca influência" na Vale. Mas os informantes observam que a Vale é um ativo importante para a Funcef. Nem seria fácil vender participação como a da Funcef, grande mas insuficiente para morder o controle da empresa. Seria preciso que a Previ entrasse no negócio, vendendo também. Ou comprando. Falta combinar com os sócios privados. Ou confrontá-los violentamente. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, outubro 15, 2009
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