Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 12, 2009

Sintomas de fadiga na candidatura Dilma

CANDIDATURA EM ESTADO DE ALERTA

O governo prepara uma ofensiva para estancar a queda nas pesquisas da ministra Dilma Rousseff. O alvo imediato já foi escolhido: a senadora Marina Silva


Otávio Cabral

Ana Araujo

SINAL AMARELO
As intenções de voto em Dilma Rousseff vêm migrando
para Marina Silva, do PV. O apoio à ministra está exclusivamente
ligado à popularidade de Lula, também em queda


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A estratégia oficial para eleger a ministra Dilma Rousseff presidente da República foi moldada dentro de um cenário político paradisíaco. Os arquitetos políticos do governo montaram em sua cabeça uma eleição plebiscitária em que os brasileiros iriam às urnas daqui a um ano apenas para dizer sim ou não às conquistas do governo Lula. A força da alta popularidade do governo se encarregaria de apontar o vencedor, independentemente dos personagens e das circunstâncias envolvidos na disputa – simples assim. O sim seria expresso pelo voto em Dilma e ganharia de lavada. Faltou combinar com os eleitores e com os verdes. A ministra tem perdido simpatizantes e as intenções de voto estão migrando para a senadora Marina Silva, do Partido Verde. Marina já ganhou o apelido de "criptonita", a pedra esverdeada que intoxica as células do Superman, da Supergirl e do Superboy, criaturas imortais dos mestres dos quadrinhos Jerry Siegel, Joe Shuster e Otto Binder.

No princípio, a tática mostrou-se correta. Desconhecida da maioria da população, Dilma foi apresentada como a "mãe do PAC", o Programa de Aceleração do Crescimento, e passou a frequentar palanques ao lado de Lula. Em pouco tempo, ela conquistou 20% das intenções de voto. Como um comprimido efervescente em um copo com água, aos poucos a fórmula foi perdendo gás. A última pesquisa divulgada pelo instituto Sensus revelou que a ministra não está ganhando novos adeptos e vem perdendo simpatizantes, que desembarcam do projeto carregando no peito até certo ressentimento – de apoiadores, eles passaram a rejeitar a candidata oficial. "Dilma não conseguiu ganhar força eleitoral por seus próprios méritos. Os votos que ela tem hoje são do eleitorado que segue cegamente a orientação do presidente Lula", afirma Ricardo Guedes, diretor do Sensus. A rejeição à candidatura Dilma bateu na casa dos 37%. Para os especialistas, a derrocada de um candidato atinge seu ponto de não retorno quando a taxa de rejeição chega a 40%. Falta pouco.

O detalhamento da pesquisa mostra que a redução das intenções de voto da ministra está diretamente ligada à queda de popularidade de Lula. Como os dois eleitoralmente se fundiram, acabam também sofrendo junto os desgastes provocados pelos recentes escândalos. Dilma foi acusada pela ex-chefe da Receita Federal Lina Vieira de tê-la pressionado para arquivar uma investigação contra as empresas da família do senador José Sarney. A ministra negou a pressão, mas a pesquisa mostra que a maioria do eleitorado que soube do episódio considera que ela mentiu. Dilma também é identificada como responsável pela salvação do mandato de Sarney na presidência do Senado, embora tenha partido do presidente Lula a ordem para poupar o aliado. Já estava dando tudo errado para a Supergirl quando, para piorar, começou a chover criptonita.

"Marina saiu-se melhor entre as camadas mais informadas da população, que já tiveram conhecimento de sua candidatura. A tendência agora é que esse apoio se espalhe entre as camadas mais baixas", afirma o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos mentores da campanha verde. Algumas pesquisas regionais confirmam a tendência nacional. No Acre, estado natal da senadora, pesquisa encomendada pelo PMDB mostra que ela atinge 52% das intenções de voto e fez Dilma desabar de 20% para 2%. Em São Paulo, pesquisa do Vox Populi mostra a mesma tendência. Tudo isso, aliado ao fato de que o governador José Serra segue inabalável como favorito absoluto (veja o quadro abaixo), fez com que os marqueteiros alterassem completamente a estratégia da pré-campanha governista. "Para uma candidata que já estava com dificuldade em decolar, a entrada em cena de Marina foi a pior notícia possível", admite um dirigente petista. Agora, o alvo imediato é tentar inviabilizar a candidatura do Partido Verde.

Na semana passada, Lula encarregou Juca Ferreira, ministro da Cultura e membro do PV, de convocar a cúpula do partido para um jantar no Palácio da Alvorada. Os verdes responderam que só iriam se acompanhados do deputado Fernando Gabeira. A exigência não foi atendida e o encontro foi suspenso. Nesta semana, Lula deverá ter uma conversa com Gilberto Gil, filiado ao PV e ex-ministro da Cultura. O presidente quer saber se o cantor tem realmente intenção de ser vice de Marina, como se cogita. Se a ofensiva diplomática fracassar, o governo planeja convocar até um exército de ruralistas para tentar mostrar que Marina e seu ambientalismo serão um entrave ao crescimento do país. Já há até uma moeda para pagar a missão: o Planalto desiste de implantar novas regras para desapropriação de terras, medida que desagrada aos fazendeiros. Por último, lideranças no Congresso já foram acionadas para reforçar o discurso de que Marina é evangélica, defende o ensino do criacionismo e se opõe à regulamentação do aborto. Acreditam que com isso impedirão um crescimento mais significativo da candidatura da senadora junto às classes médias urbanas mais escolarizadas.

Bruno Kelly/A Crítica/AE

EX-COMPANHEIROS
O governo pediu a ajuda de ruralistas para enfrentar
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Apesar das dificuldades, Dilma não pode ser considerada carta fora do baralho. Ainda faltam treze meses para a eleição, e a força do apoio de Lula não pode ser descartada. "Há uma grande parcela do eleitorado, mais pobre, menos escolarizada e com menor acesso à informação, que ainda não sabe que Lula não pode disputar mais um mandato e que sua candidata é Dilma", afirma Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Nas últimas eleições, restando um ano para o pleito, como agora, o candidato que liderava as pesquisas acabou confirmando o favoritismo nas urnas. Foi assim com Fernando Henrique, em 1998, e com Lula, em 2002 e 2006. A exceção aconteceu em 1994, quando Lula liderava com folga a disputa e terminou perdendo na reta final para Fernando Henrique – na ocasião impulsionado por um cabo eleitoral poderoso e popular: o Plano Real. Dilma e Lula não têm nada da mesma envergadura do Plano Real para jogar sobre o tabuleiro. Mas também é sabido que a superpoderosa família do planeta Krypton sempre dá um jeito de afastar a criptonita do caminho.

Roberto Jayme/Reuters e Alan Marques/Folha Imagem

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O apoio de Lula a Sarney e o caso envolvendo a ex-chefe da Receita Lina Vieira
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