Que foi que houve cara, ganhou na megassena? Tu tá com uma cara de felicidade como há muito tempo eu não vejo, desde a data histórica em que o Fluminense ganhou um jogo. Tu não sabia que era o último, senão tinha festejado mais, né não? — Dispenso gozação de flamenguista, estou acima disso. Agora, pensando bem, você não deixa de ter razão, eu devo estar com a cara feliz, não por nenhum acontecimento em especial, mas como se por alguma coisa que eu sentisse no ar.
— Se for um fedorzinho, eu também sinto, mas dizem que em Brasília é pior.
— Você não leva nada a sério, mas eu levo. Você me conhece, desde rapazinho que eu me preocupo com os problemas brasileiros, sempre fui um patriota. Você está certo, é como se eu tivesse ganho a megassena mesmo, todos nós ganhamos a megassena.
— Fundaram a Megassena Família, é isso? Agora quem se cadastrar vai ter direito a fazer um joguinho de graça por semana? Bem bolado, é isso que é a famosa distribuição da riqueza? Vai ter vale-megassena? — Deixa de fazer ironia sem graça, cara, tu não tem o que dizer, a verdade é essa.
— Eu não tenho o que dizer de quê? Tu vem com essa conversa de que todo o povo tirou na megassena e quer que eu te leve a sério? Que é que tu andou bebendo antes de chegar aqui? — Eu disse que tinha feito uma metáfora e você veio logo querer curtir com a minha cara. Mas eu não vou deixar o cinismo e a descrença me vencerem. Então eu retiro a metáfora, mas dá no mesmo. O fato é que nossa situação hoje é excepcional.
— A nossa, aqui do bairro, no momento é. Faz três dias que não se tem notícia de nenhum assalto aqui nas redondezas.
— Assim não dá pra conversar.
Eu quero falar sobre uma coisa séria e você fica me interrompendo pra fazer gracinha. Eu não estou me referindo a assalto.
— Mas eu estou. Você vem com essa conversa de que nossa situação é excepcional e aí eu achei que só podia ser por isso. Acabaram os assaltos, não? — Eu não estou me referindo a problemas de segurança pública.
— Porque não quer, porque quer que eles não existam, todo mundo quer isso, mas eles existem.
— É, assim não dá. Se a gente for falar em problema de segurança pública, não acaba nunca.
— Certo, certo, então vamos falar em educação. Nós estamos num momento excepcional, em matéria de educação? Todo mundo na escola, professores bem-pagos e respeitados, todo mundo orientado, todo mundo educado. Eu pensava que estava tudo como antes e até um pouco pior, mas, a julgar pelo seu jeito, a educação vai muito bem.
— Você fica desviando o assunto, antes eu não estava falando em segurança e agora não estou falando em educação.
— Então fale em saúde. Vamos falar em saúde? Eu sei que qualquer um pode receber tratamento igual ao do presidente da República, eu ouvi ele dizendo isso. Mas você queria saber a história da mãe de minha empregada, que teve outro derrame enquanto esperava uma senha do SUS às quatro horas da manhã e morreu depois de esperar até o dia seguinte, numa maca no corredor do hospital? — Cara, tu tá parecendo deputado da oposição. Se é para desviar o assunto, então não tem papo.
— Eu sei, teve as reformas. Teve a reforma agrária, a reforma política, a reforma eleitoral, a administrativa, a tributária, diz aí as outras, em qualquer setor que você pense, teve reforma.
— Lá vem você de novo, assim não dá mesmo.
— A política outro dia teve uma reformazinha, aumentaram o número de vereadores no Brasil todo.
E a tributária, a tributária também é boa, tem bancos que não pagam imposto de renda e o Daniel Dantas recebe restituição do imposto de renda, ele mesmo contou.
— Eu já vi que hoje não adianta conversar com você. Mas eu lhe faço uma pergunta só, basta uma. O que é que você me diz do pré-sal? — Eu, nada. E o que é que você me diz? Você entende desse negócio de pré-sal? — Entendo o suficiente para saber que hoje nós temos uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Não é para agora, é coisa para começar a dar frutos depois dos próximos dez ou quinze anos. Mas os nossos descendentes desfrutarão dessa riqueza, o futuro está garantido.
— O petróleo é o combustível do futuro? Eu pensava que eram os biocombustíveis e outros renováveis, mas agora mudou tudo, não foi? É, de fato mudou. Você quer que eu lhe diga o que foi que mudou? — Pode dizer, finalmente você reconhece que alguma coisa mudou.
— Ah, nesse ponto mudou radicalmente: na época do biocombustível, não ia ter eleição, e agora vai.
Mas vamos mudar de assunto, eu passei a te entender melhor do que entendia, antes deste nosso papo.
Agora mostra aí aquela tua prova matemática de que o Fluminense não vai pra segundona.
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, setembro 13, 2009
O pré-sal num boteco do Leblon JOÃO UBALDO RIBEIRO
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