Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 12, 2009

A luta das mulheres contra o envelhecimento

Elas são um ótimo exemplo...

Chegar aos 50 com corpinho, e o resto, de 30?
Recursos estéticos não faltam. Difícil mesmo é não passar dos limites


Suzana Villaverde

Fotos Brian Zak/Sipa Press, Kevan Brooks/Admedia/Sipa Press, Braninpix e Getty Image

Vamos começar pela verdade inconveniente: é im-possível conseguir a aparência das mulheres que aparecem nas fotos ao lado, todas, inacreditavelmente, na faixa do fim dos 40 e começo dos 50. Mas existe um bocado de coisas que dá para fazer, mesmo no caso de quem nasceu sem o equipamento genético de beldades como as atrizes americanas Demi Moore e Sharon Stone, a ex-modelo australiana Elle MacPherson ou a editora francesa Carine Roitfeld. Algumas custam caro, como buscar excelentes profissionais do ramo da estética. Outras exigem autodisciplina feroz – não engordar é um dos mandamentos mais básicos de quem quer combater a aparência envelhecida. Existe, por fim, um recurso que não custa nada e pode ser até engraçado para quem dispõe de suficiente distanciamento crítico: mentir, mentir sempre sobre as magias (e os sacrifícios) do rejuvenescimento. No máximo, reconhecer um retoquezinho aqui e ali.

Mas não dá para dizer que fez só um pequeno preenchimento e aparecer com a aparência excessivamente plastificada que caracteriza os exageros da busca da autopreservação. A ex-mulher de Silvio Berlusconi, Veronica Lario, e a estilista Donatella Versace, ambas italianas, são exemplos de mulheres pós-50 que extrapolaram na conservação da juventude – um resultado nada incomum entre as loucas por Botox. Por que, dispondo de vastos recursos e acesso aos maiores especialistas, umas conseguem e outras não? Para começar, retomando as verdades básicas, continua linda aos 50 quem já nasceu linda. "Um lifting pode refrescar o rosto, mas não transforma uma mulher feia em uma mulher linda. Ela ficará muito melhor, mas a beleza natural ajuda 200% no envelhecer bem", constata, realistamente, o cirurgião plástico Ricardo Marujo, de São Paulo.

Também pesam outros fatores genéticos, que vão desde o tipo de pele até a ossatura facial. "Rostos mais quadrados, com o malar mais alto e a mandíbula mais larga, seguram melhor a pele", explica o cirurgião plástico Carlos Fernando Gomes de Almeida. Ele cita como exemplo a atriz Susana Vieira, de incrivelmente bem conservados e muito bem esticados 67 anos. Ter as maçãs do rosto naturalmente altas, como as ex-modelos Sharon Stone e Elle MacPherson, é meio caminho andado para as intervenções estéticas sutis que caracterizam os bons cirurgiões plásticos. "O conceito anterior de esticar tudo foi amadurecendo e sendo substituído pela ideia de repor os tecidos onde eles estavam", diz o cirurgião paulista Fabio Carramaschi. "Na hora de fazer uma plástica, a ideia não é esticar a pele flácida, mas sim reestruturar camadas profundas de gordura e músculos e dessa forma repor o volume da face. É como se o cirurgião levasse tudo o que caiu para o andar de baixo de volta para o andar de cima", compara. É por causa da mão leve dos ases do bisturi que as belas mentem na cara, digamos, não dura, mas bem reestruturada. Demi Moore, com um conhecido histórico de aprimoramentos, incluindo a reformulação da linha da mandíbula, os seios e o pescocinho de adolescente, recentemente proclamou: "Nunca fiz plástica". Carine Roitfeld, editora da Vogue francesa e ícone do mundo da moda, excepcionalmente conservada aos 54 anos, também diz que nunca, jamais, fez coisa alguma. "Tenho sorte de manter o mesmo corpo que tinha aos 20 anos", esnoba. "E, à medida que envelheço, vou descobrindo novos truques." E quais seriam? Pilates todo dia, nunca franzir a testa e frequentes "massagens faciais". Concordamos todas que está dentro da regra universal de não entregar o ouro.

Cada mulher, evidentemente, envelhece à sua maneira, mas de forma geral existe um protocolo seguido pelos cirurgiões responsáveis. Se uma paciente na faixa dos 45 anos pedir para entrar na faca, será confrontada com propostas alternativas. "Eu colocaria preenchimento no chamado bigode chinês e Botox no vinco entre as sobrancelhas, dois procedimentos que deixam o rosto natural e fazem uma grande diferença", diz Carramaschi. "No máximo, faria a cirurgia de pálpebra, a blefaroplastia, que dá um ar descansado." Aos 50, continua o médico, o preenchimento pode se estender à região das bochechas, para dar mais volume ao rosto. Também é nessa faixa que se pode considerar um primeiro lifting parcial, a cirurgia plástica feita para rejuvenescer o pescoço e remover a pele flácida na linha da mandíbula. "O lifting aos 50 não precisa ser total e dá ótimos resultados para a mulher que pensa 24 horas nas suas rugas", diz Ricardo Marujo. Quem chega aos 55 sem mexer em nada precisa pensar grande: os cirurgiões recomendam aí o lifting facial completo, em que o rosto todo é reposicionado, na linguagem elegante dos plásticos. "Se já tiver sido feito embaixo, é hora de mexer na parte superior", recomenda Carramaschi.

Como a música que é feita de sons e silêncio, os médicos precisam se preocupar tanto com o que fazem quanto com o que deixam de fazer. O exagero estraga rostos naturalmente bonitos e acaba com os que nunca foram muito privilegiados. Veronica, a ex de Berlusconi, é considerada um catálogo ambulante de excessos. "Ela é o cúmulo da mal operada: encheu demais os lábios, fez os olhos, mas não retirou direito as bolsas, pode até ter feito um lifting, mas já caiu tudo. O rosto está murcho e há preenchimento em excesso", analisa o cirurgião Farid Hakme, do Hospital da Plástica, no Rio de Janeiro. Mexer na boca e adjacências é um dos procedimentos em princípio mais fáceis – e, portanto, passível de absurdos. Muitas vezes, as pacientes querem contornos que não condizem com o resto das feições. Até a magnífica Elle Mac-Pherson diz que inflou e se arrependeu. "Fiquei ridícula. Mas todo mundo estava fazendo", justifica. "Já atendi uma senhora de 73 anos que chegou com uma foto da Angelina Jolie e pediu lábios iguais", espanta-se Marujo. "Cirurgia plástica não é supermercado, em que se pede 1 quilo disso ou daquilo", diz Almeida. "O cirurgião tem de ter bom senso estético e saber o que fica bom ou não naquele rosto. Pode ter certeza: se não ficou bom, a culpa é do médico."

Ao bocão das exageradas se somam a maquiagem excessiva e o cabelão, loiro-branco ou, pior ainda, avermelhado. Ou, em duas palavras, Cristina Kirchner, a presidente da Argentina, 56 anos e mão pesadíssima, em todos os sentidos. "Os tons de vermelho são muito fortes e acabam denunciando a pele manchada e as rugas. Além disso, dão sombra ao rosto", diz Juha Antero, finlandês radicado em São Paulo, onde fez fama como especialista em sofisticadas tinturas de cabelo. "A mulher de 50 deve buscar uma cor suave, natural ou que, pelo menos, exista na natureza. O ideal é a cor de cabelo que ela tinha quando criança", recomenda.

Da mesma forma que existe excesso de bisturi, pode haver também de procedimentos temporários em rostos que já passaram da fase em que funcionam bem. "O que uma cirurgia plástica corrige não se resolve só com injeções. Quando o rosto está muito flácido, qualquer Botox, qualquer preenchimento fica muito aparente", diz Hakme. Outra recomendação dos médicos é que quem faz plástica para rejuvenescer deve se concentrar nesse efeito, e não incluir no pacote outras correções. "Não é a hora certa de consertar problemas que sempre incomodaram. O que mais deforma uma pessoa é a correção exagerada", avisa Almeida. A pele esticada como tamborim também contribui para a aparência artificial, ainda mais quando contrastada com a de outras partes, não esticáveis, do corpo, como colo e mãos. "Na busca de um rosto natural, algumas ruguinhas são desejáveis. A pessoa de 50 anos tem de ter um mínimo de marcas", diz Hakme. O.k., mas bem mínimo, pois chegar aos 50 com corpinho, e o resto, de 30 é uma aspiração universal das mulheres que entram no que se chamava, num passado merecidamente remoto, de meia-idade. "Elas não querem ter uma aparência que não condiz com o modo como se veem", diz Aguinaldo Silva, autor da série Cinquentinha, com estreia prevista para outubro. "São mulheres que se cuidam e não querem se aposentar da vida. Não têm a idade que têm."

Fotos Brian Zak/Sipa Press e Leo la Valle/Corbis/Latin Stock

O EXCESSO DO EXCESSO
Veronica, Donatella e Cristina: maquiagem demais, boca demais, pele lisa demais.
Sem falar no cabelão

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