Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 13, 2009

"Um trimestre preocupante" Vinicius Torres Freire



Lula está certo em não deixar a peteca cair, mas falta força a medidas anticrise e sobram metas exageradas para o PIB

A GENERAL Motors ainda não começou a cortar na carne, a demitir no núcleo principal de empregados, os de fato contratados. Mas começou a cortar. Na carne de quem ficou sem emprego, temporário ou não, isso dói muito. São agora mais 744 pessoas sem emprego e sem consumir, desempregadas na unidade de São José dos Campos.

Nem se mencione o susto que isso vai dar nos trabalhadores empregados, que devem retrair seus gastos. A Embraer anunciou que nunca entregou tantos aviões como em 2008, mas também divulgou que sua carteira de pedidos caiu pela primeira vez em dois anos. Os números das demissões na Vale são controversos, mas a empresa foi uma das primeiras grandes a demitir.

As dificuldades atingem os setores que estavam na primeira linha de tiro da crise: exportadores e produtores de bens duráveis, os quais dependem muito de crédito. Também se trata de setores para os quais é mais difícil elaborar medidas diretas de atenuação da crise. Não há, óbvio, como influenciar o mercado mundial ou obrigar bancos a emprestar.

Como a produção despencou em dezembro, a de veículos em particular, e como os preços das commodities também desabam, pode-se dizer que os horrores do desemprego mal começam. Por outro lado, como mal começam, as dificuldades podem ainda ser atenuadas. Mas agilidade, urgência e impacto importam.

Muitas demissões devem estar "contratadas". As montadoras reduzirão suas produções, o que vai transbordar em breve para os fornecedores. Cortes na produção da grande empresa, que afetam seus fornecedores, e crédito raro e caro para médias empresas são uma combinação que tende a capilarizar o desemprego e desorganizar ainda mais a vida dos pequenos negócios.

Caso tal ciclo ganhe ritmo, os bancos vão relutar ainda mais a emprestar. Há mais. O preço das commodities e correlatos continua a cair, afetando as maiores empresas do Brasil. Está previsto que a agricultura vai produzir menos, será menos produtiva e vai faturar menos. Estoques mundiais sobem e o comércio de grãos cai. Deve cair mais, mesmo com a baixa de preços, segundo o Conselho Internacional de Grãos. O custo do frete caiu a um quinto, em média, do que era faz um ano.

"Vamos ter um trimestre preocupante", disse ontem Lula em seu programa de rádio. Deveras. O governo Lula está certo em não deixar a peteca cair demais. Tomou algumas medidas sensatas, mas está faltando harmonia e evolução no enredo luliano anticrise. É uma tolice tanto deixar o barco correr como se comportar apenas como líder de torcida, balançando o pompom do crescimento de 4% em 2009.

O mais importante agora é tomar as poucas e possíveis medidas de estímulo que tirem velocidade do ciclo vicioso que está começando. Mas é preciso mais impacto. O conta-gotas pode não funcionar, como pouco funcionou no modesto relaxamento monetário (via compulsório). O governo por ora parece decidido a queimar cartuchos em aumento de gastos que pouco deve se traduzir em estímulo econômico (como no caso dos aumentos salariais de servidores). Mas Lula e cia. precisam reunir a munição disponível, que não é muita, e atirar de uma vez.

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