Prometendo tudo a todos, o senador José Sarney
consegue a proeza de unir até o governo contra a
candidatura do petista Tião Viana e se transforma em
favorito na disputa pela presidência do Congresso
Otávio Cabral
Fotos Sergio Dutti/AE e Ricardo Marques/Folha Imagem |
PELO COMANDO O peemedebista José Sarney e o petista Tião Viana têm plataformas de campanha diferentes. Viana (no alto) prega a moralização do Parlamento, enquanto Sarney prioriza a distribuição de cargos e vantagens aos parlamentares. Na Câmara, a eleição do deputado Michel Temer (à esq.), tida como certa, pode ser afetada pela disputa no Senado |
O senador Tião Viana, do PT do Acre, acreditava que o apoio do presidente da República, sua biografia e as elogiáveis propostas de moralização do Parlamento seriam suficientes para convencer os colegas de que seu nome era o que havia de melhor para presidir o Congresso. A política, porém, não se move apenas por virtudes. Há interesses gigantescos, alguns inconfessáveis, a maioria infelizmente direcionada ao fisiologismo. Na semana passada, o senador José Sarney apresentou-se como candidato do PMDB e, mantida a lógica, assumirá nesta segunda-feira o comando do Senado. Sarney fez uma campanha de bastidores usando a mesma fórmula que marcou sua trajetória ao longo de mais de meio século de política. Prometeu cargos aos que não têm, assumiu o compromisso de manter os cargos dos que já têm, garantiu um ambiente de tranquilidade ao governo e, ao mesmo tempo, assegurou à oposição que será um presidente independente, como se isso tudo fosse possível.
Em novembro do ano passado, Tião Viana procurou Sarney e pediu apoio. "Conte comigo", respondeu o senador, que já estava costurando sua candidatura com a ajuda de Renan Calheiros, um de seus principais discípulos na política e que dispensa maiores apresentações. E tome promessas. O DEM, que flertava com Tião Viana, foi o primeiro a fechar com Sarney, após a garantia de que continuará comandando a primeira-secretaria, responsável pela administração de um orçamento anual de 2 bilhões de reais e epicentro de uma série de escândalos de corrupção. O PSDB chegou a piscar diante da proposta de assumir a primeira-vice-presidência, a quarta-secretaria e a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos. Adversário histórico de Sarney, até o senador Fernando Collor prometeu entregar seu voto e o de mais seis petebistas em troca do comando da Comissão de Relações Exteriores. O PR, partido com quatro senadores, obteve o compromisso mais prosaico: a troca da frota de carros oficiais, hoje composta de Fiat Marea da década de 90.
No atacado, Sarney garantiu ainda que não mexerá na estrutura do Conselho de Ética – uma promessa que agrada em cheio a um colégio eleitoral no qual um quarto de seus membros responde a processos. O senador também avisou a Dilma Rousseff que a apoiará na sucessão de Lula, ao mesmo tempo em que falou a José Serra, o provável candidato tucano, que não tem nada contra ele e que ainda está indeciso sobre os rumos que tomará em 2010. Foram tantas promessas que elas acabaram se sobrepondo e criando um incidente. Na quinta-feira passada, depois de anunciarem o apoio a Sarney, os tucanos voltaram atrás e se alinharam ao petista Tião Viana. Descobriram que os cargos prometidos ao partido entraram em negociações com outras bancadas. A confusão, que pode acabar criando dificuldades para o PMDB na Câmara, onde o deputado Michel Temer tinha uma eleição tranquila, expõe o nível de preocupação institucional que orienta as decisões de uma boa parte dos nossos políticos. Caso Sarney confirme seu favoritismo, os petistas ameaçam trair Temer em benefício de Ciro Nogueira, do PP. Ciro é afilhado político de Severino Cavalcanti, que renunciou ao ser apanhado em negociações nada institucionais. Solução no Senado, problema na Câmara.
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