Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 24, 2009

O efeito Obama Villas-Bôas Corrêa JORNAL DO BRASIL



FOFOCAS INTENCIONALMENTE VAZADAS pelas brechas do Palácio do Planalto espalham o aviso que acende a luz vermelha de advertência, sobre o mau humor que virou pelo avesso o temperamento alegre do presidente Lula . O tom de voz subiu na escala para os berros que ressoam nos corredores palacianos sem que se saiba exatamente o que provocou a explosão. Não é necessário o faro de detetive para reconhecer que os últimos dias, ou semanas, têm sido férteis em aborrecimentos. A marolinha da crise econômica explode nas praias em ondas que desafiam a ousadia dos surfistas. E a equipe econômica bate cabeça na teimosia de quem insiste nos erros, com a esperança de uma nova reviravolta.

Acautelo-me contra a praga da arrogância. E não quero descobrir a pólvora. Mas tenho lá a minha desconfiança de que o efeito Obama mexeu com a cuca do menino nordestino que fugiu da seca no pau-de-arara com a heróica mãe, Dona Lindu, vendeu badulaques nas ruas de São Paulo, completou o curso primário em três escolas públicas até matricular-se no Senai para conquistar a profissão de torneiro mecânico. Daí, um pulo para a militância sindical que revelaria o maior líder popular do país ­ comandou greves que paralisaram as empresas em São Bernardo do Campo. A fundação do Partido dos Trabalhadores foi o arranque para a militância política, com a escalada que impôs a disciplina do aprendizado dos insucessos para o impulso dos sucessos. Lula perdeu e ganhou eleições.

Deputado federal por São Paulo, com milhares de votos, não se ajustou à rotina parlamentar, nem mesmo com o estímulo da Assembléia Constituinte, responsável pela contraditória colcha de retalhos da Constituição de 88, mais remendada que calça de mendigo. O menino de Garanhuns, o rapaz do Senai, o líder sindical de São Bernardo do Campo chegou à Presidência da República, em 2003, e emplacou o segundo mandato que termina em 1º de janeiro de 2011. Lula sorveu a suprema delícia da ascensão vertiginosa. E com a sua pronta inteligência e aguda intuição logo ficou à vontade entre os grandes do mundo ­ presidentes, reis e rainhas, primeiros-ministros de países parlamentaristas ­ galgando os degraus da escada até o reconhecimento como um dos mais destacados líderes, não apenas do continente mas de assembléias internacionais. Juscelino e Jânio também desfrutaram de grande popularidade.

Mas ­ se JK naufragou no JK-65 pela sofreguidão com que foi ao pote, inaugurando Brasília antes de estar pronta e injustamente punido com a cassação do mandato de senador e a perda dos direitos políticos pelo constrangido marechal-presidente Castelo Branco, e se Jânio se perdeu com o golpe frustrado da renúncia, tramado para a volta ao poder nos braços do povo, que não saiu à rua nem para assistir ao embarque para o exterior ­ nenhum dos dois chegou ao recorde de Lula de popularidade aos seis anos já passados de dois mandatos. Lula acusa o golpe de inesperadas dificuldades em duas frentes.

Tem até o fim do ano para comprovar que é capaz de transferir pelo menos metade da sua popularidade para viabilizar a candidatura da ministra Dilma Rousseff, por ele lançada sem ouvir ninguém, ignorando o PT, calado e submisso. A munição armazenada para a arrancada da ministra-candidata este ano, a partir do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá que ser dividida entre as centenas de obras em diferentes estágios, alguns com tudo por fazer, e os socorros urgentes, inadiáveis para os milhares de desabrigados, que perderam tudo menos a vida, na interminável e dramática sucessão de enchentes em várias regiões do país: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, estado do Rio, São Paulo, Espírito Santo.

E a chuvarada continua a castigar os que não têm mais nada a perder e os que construíram suas casas em áreas de risco. Há dezenas de pontes a serem reconstruídas, rodovias com o asfalto comprometido, trechos com o trânsito desviado. Além de porto com filas intermináveis de caminhões lotados de carga, paralisados pela buraqueira das estradas, com trechos interditados.

É difícil manter o bom humor com tantos problemas a reclamar a urgência prioritária do socorro.
E, para mal dos pecados, o Barack Obama a explodir como um fenômeno político ­ que junta 2 milhões de pessoas nas ruas geladas de Washington para assistir à posse do presidente do mais poderoso país do mundo.
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