John Neschling foi demitido da Osesp, a maior
orquestra brasileira. O maestro francês Yan Tortelier
deverá substituí-lo pelos próximos dois anos
Sérgio Martins
Monalisa Lins/AE |
SOZINHO NO PÓDIO Neschling atacou seus últimos apoiadores e ficou isolado: "Vou decidir com meus advogados o que fazer em seguida" |
Depois de doze anos de trabalho, o ciclo do maestro John Neschling à frente da principal orquestra brasileira, a Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), chegou ao fim. Na quarta-feira passada, ele foi demitido pelo conselho que administra a instituição. Seu substituto para as temporadas de 2009 e 2010 deverá ser o francês Yan Pascal Tortelier, que esteve à frente da Filarmônica da BBC, na Inglaterra, e causou excelente impressão entre os músicos da Osesp no ano passado, ao conduzi-los numa série de concertos. Estuda-se a contratação de um regente brasileiro para dividir as datas com Tortelier. Um novo diretor artístico – cargo que Neschling acumulava – só deverá ser empossado em 2011. Um comitê formado por músicos, conselheiros da orquestra e dois consultores internacionais foi criado para chegar ao nome.
O contrato de Neschling com a Osesp terminaria em 2010. Em junho do ano passado ele anunciou que, naquela data, deixaria de fato a orquestra. Foi uma cartada política – uma tentativa de angariar apoios que o levassem a um "dia do fico". A administração da orquestra, contudo, começou realmente a programar sua saída. Concluiu que, depois de uma gestão brilhante, Neschling estava desgastado politicamente e, mesmo no âmbito do trabalho artístico, já não contava com o apoio incondicional dos músicos. A gota-d’água para que o demitissem foi uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na qual o maestro criticou o conselho da orquestra e o plano para substituí-lo. As declarações o deixaram isolado. Sua demissão foi assinada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que encabeça o conselho da Osesp e foi, por muito tempo, seu principal apoiador. "Estou em conferência com meus advogados para decidir o que faremos em seguida", disse Neschling a VEJA na semana passada.
Fotos Divulgação |
SOLUÇÕES Tortelier (à esq.) rege até 2010 e Mechetti é opção brasileira |
O processo de reestruturação da Osesp é ambicioso, a começar pela escolha dos consultores internacionais. Henry Fogel, ex-presidente da Liga das Orquestras Americanas, e Timothy Walker, diretor artístico da Filarmônica de Londres, gozam de grande respeito no mundo erudito. O diagnóstico inicial da dupla foi que a Osesp, no atual estágio de seu desenvolvimento, deveria trocar de diretor artístico a cada quatro anos, em média. A rotatividade faria com que o grupo ganhasse versatilidade. Os músicos também procuram influir no processo de renovação. Produziram uma lista de maestros-visitantes que, em anos recentes, brilharam à frente da Osesp. Entre os nomes brasileiros, destaca-se apenas o de Fabio Mechetti, atual diretor musical da Filarmônica de Minas Gerais. Mechetti, hoje com 51 anos, estava cotado para assumir a Osesp em 1996 – quando o cargo foi entregue a Neschling.
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