As contas externas mostram o momento de extremos: com recordes e números altos tanto em entradas como em saídas de capital. O déficit foi maior que o previsto, mas o investimento direto também surpreendeu. Altamir Lopes, diretor do BC, acha que a crise fará com que as empresas remetam ao exterior pelo menos US$13 bilhões a menos só em lucros e dividendos.
- Mesmo excluindo-se a operação da CSN, de venda de participação acionária da Namisa aos japoneses por US$3,1 bilhões, o investimento direto, só em dezembro, foi de US$5 bilhões, e isso é muito bom para um momento de crise - diz Lopes.
Há boas e más notícias nos dados divulgados pelo Banco Central, mas a deterioração na área externa foi muito rápida, e agora é que vem o pior da crise, com queda do investimento das grandes empresas e queda de volume e valor dos produtos que o Brasil exporta. Altamir acha que as empresas farão menos remessas de lucros e dividendos este ano, porque haverá menos lucros. Em janeiro, a remessa foi de US$480 milhões e, no ano passado, havia sido de US$ 3 bilhões. Haverá menos exportação, mas, por outro lado, menos importação também. Haverá menos saídas do mercado de capitais, porque os estrangeiros já remeteram bastante, o valor das ações caiu fortemente e o dólar subiu. Por tudo isso, ele acredita que o déficit de conta corrente vai cair de US$28 bilhões para US$20 bilhões. Mas é um ajuste pelo lado negativo.
Comparada a outras crises, a situação de composição de passivos e ativos da área externa é completamente outra, como lembrou ontem Altamir, na conversa que eu tive com ele. Mas o que Armínio Fraga alerta é que a situação internacional continua confusa e pode ficar pior.
- Está havendo uma revisão para baixo da perspectiva das principais economias do mundo. Bem para baixo. Os Estados Unidos podem ter uma queda de 2% a 3% do PIB, a Europa de 2%, o Japão de 4%. A China está desacelerando fortemente, a previsão de crescimento hoje está mais para 5% a 6% do que para 7% a 8%. Nós estamos bem comparativamente, mas há um consenso de que cair de 5,5% para 2% não é agradável.
Por isso, do ponto de vista da resposta, nas áreas fiscal e monetária, Armínio diz que o governo deveria aumentar menos o gasto para que os juros caiam mais rapidamente.
- A impressão que eu tenho é que a Fazenda acha o Banco Central conservador, e por isso aumenta mais os gastos, e que o BC acha a expansão do gasto excessiva e, por isso, corta menos os juros. O melhor seria ser menos agressivo na parte fiscal, para ser mais flexível na monetária.
A crise externa não terminará tão cedo e há vários riscos à espreita. O déficit americano crescente é um deles, na visão de Armínio.
- O déficit é alto hoje, sem contar os prejuízos, e pode ficar mais alto no médio prazo, pelos gastos que o governo terá que fazer.
Hoje, o déficit público americano está indo para 10% do PIB, mas há promessas de campanha do presidente Barack Obama de ampliar a assistência pública à saúde.
- Há, no prazo de anos, o risco de uma deterioração fiscal americana em mais cinco pontos percentuais do PIB - diz Armínio Fraga.
Isso pode levar a uma onda de queda do valor do dólar, que subiu muito na primeira fase da crise atual. O economista Nouriel Roubini, que acertou tantas previsões, errou ao considerar que o dólar se desvalorizaria na crise. Ele se valorizou.
- Talvez seja o caso de dizer que o dólar não se desvalorizou ainda - acredita Armínio Fraga.
As incertezas fiscais americanas, a expansão da crise para outros países além dos EUA, a oscilação gigantesca de valor dos ativos que ainda não acabou, tudo mostra uma crise ainda em expansão. O pacote do presidente Obama não esclareceu, ainda, que ações vai adotar, além das duas ferramentas mais convencionais, de política fiscal e de expansão do gasto, e financeira, a capitalização do sistema bancário.
- Ele ainda está muito descapitalizado - diz Armínio Fraga.
No balanço da área externa feito pelo Banco Central, há vários pontos de preocupação. Um deles é que as empresas não estão conseguindo rolar suas dívidas de curto prazo. O ajuste forçado está provocando uma queda forte do endividamento de curto prazo, ressalta Altamir Lopes, mas o custo dessa parada brusca tem sacudido as empresas.
- A taxa de rolagem da dívida de curto prazo era de 126% em outubro. Isso quer dizer que havia mais empréstimos do que o necessário para pagar as amortizações. Em dezembro, foi de 47%, o que significa que as empresas estavam tendo que pagar mais do que as amortizações devidas. A queda foi tão brusca que, mesmo chegando a dezembro com esta taxa, a média do ano foi de 109% - diz Altamir.
Com a crise ainda em andamento, é hora de ficar de olho no painel.
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