Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Podemos exportar mais Alberto Tamer


O Estado de S. Paulo - 29/01/2009
 

O governo, que acertou tanto até agora, está perdido diante da crise que se agrava no exterior e já se instalou firme no Brasil. Assusta-se com o desemprego, a queda das exportações, o aumento das importações, o primeiro déficit comercial desde março de 2001. Assusta-se, mas ainda não fez nada. E errou quando tentou fazer. Dificultar importações é perder para ganhar pouco. Só acabará nos prejudicando pois irá provocar desabastecimento interno e reação dos parceiros comerciais, que também irão restringir as nossas vendas. No fundo, é isso o que está exatamente querendo...

E os primeiros a fazerem isso serão os Estados Unidos, a União Europeia e a China que, em recessão ou retração. Eles só esperam uma oportunidade para importar menos e proteger seus produtores. E é evidentemente que nós seremos afetados. Queríamos exportar mais e vamos acabar exportando menos...

Só se pode atribuir esse erro à desorientação do governo nesta terceira fase da crise que chegou ao emprego e derruba a economia mundial.

Tudo isso reforça o que esta coluna já registrou: está faltando um comando econômico unificado em Brasília. O presidente já deveria ter criado um "conselho de crise", uma frente que incluiria também dois ou três economistas e técnicos fora do governo. Isso é urgente, por demais urgente, pois não há mais dúvida de que a recessão mundial chegou para ficar pelo menos mais um ano.

VAI PIORAR...

...antes de melhorar lá por 2010. Isso se tudo sair bem. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento mundial de ínfimos 0,5% neste ano e, como o Banco Mundial, reafirma que os países desenvolvidos, já em recessão, não estão agindo com a urgência e o empenho necessários. Socorreram os bancos e, na verdade, ficaram nisso. Estão demorando muito, pelo menos cinco meses, para estimular a demanda.

Só agora os EUA, com Obama, começam a agir, com um plano de investir inicialmente até US$ 1 trilhão e outro trilhão a mais para socorrer os bancos. Todos sabem que é pouco, mas é o possível para não atrasar a aprovação do Congresso.

ESTAMOS ERRANDO MUITO

E nesse cenário sem adjetivos suficientemente negativos para descrevê-lo, ficamos aí, parados, perplexos. O ministro do Trabalho nem fica corado ao afirmar que a crise no mercado de trabalho vai acabar depois de março... Isso enquanto vê que as empresas continuam demitindo porque não conseguem produzir e vender mais. Há mais de um milhão de novos desempregados, o que praticamente anula o grande número de criação de vagas nos anos de bonança.

Sem mais produção, consumo interno e exportação, não há emprego e não há como evitar a recessão. Ponto final.

É preciso atacá-la com urgência ou será a depressão. Vejo sinais disso no número crescente de e-mails de leitores que perderam seus empregos ou estão ameaçados. A saída está nas mãos do governo que deve incentivar as exportações, reduzindo seus custos e fechando acordos bilaterais, e o consumo interno, oferecendo crédito a prazo maior e juro menor.

PODEMOS EXPORTAR MAIS!

Sim, para produzir e empregar mais. Sei que o leitor deve estar pensando que enlouqueci... Exportar mais como, se o mercado externo enfraquece a olhos vistos?

Ainda podemos, sim, porque o Brasil é um personagem marginal no comércio mundial. Sabem qual é sua participação? Bem... 1,2%! Estamos liderando os atrasados. E vocês sabem qual é o maior importador, com algo aí em US$ 1,8 trilhões? Os Estados Unidos. E sabem qual é a nossa participação nesse mercado enorme? Em torno de 1,2%!

Parece que, em questão de mercado exterior, somos o país do 1%. Somos anões no comércio mundial e só não pioramos por causa das commodities. De acordo com dados oficiais, nós sempre mantivemos essa brilhante posição.

Mas eles também estão encolhendo,vocês vão dizer! Sim, porém menos do que os outros parceiros. E mesmo assim ainda representam 15% das importações mundiais e apenas 9,7% das exportações. Carregam um déficit comercial de quase US$ 700 bilhões. Eles absorvem, sozinhos, 14% das nossas vendas externas.

Temos nos EUA um espaço enorme a ocupar, mesmo com a crise, ou melhor, exatamente por causa dela.

E querem saber mais? Enquanto dormíamos no ponto, os Estados Unidos nos exportaram mais.

Sim. De acordo com dados oficiais, em 2008, nossas exportações para o mercado americano aumentaram 9,2% e as exportações deles para o Brasil nada menos que 36,6%!

E agora vem me dizer que não há como exportar mais para os Estados Unidos... Senhores de Brasília, mesmo com a recessão, as importações americanas do resto do mundo recuaram em apenas US$ 140 bilhões!

Com recessão ou não, eles ainda acumulam um déficit comercial de quase US$ 700 bilhões e continuam comprando muito de todos os países do mundo, menos do Brasil... Preconceito deles? Não, nosso. Mas isso é assunto para outra coluna...

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