PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
3/4/2008 |
Os dados do investimento no Brasil são animadores para um país que já se acostumou com baixo investimento, mas nem de longe confirmam essa visão delirante de que se voltou aos níveis de investimento do governo Geisel. O governo investe pouco; o PAC é mais propaganda que fato. Neste início de ano, a Petrobras sozinha investiu 57% a mais que a União. O investimento privado tem crescido em setores importantes. Do montante empenhado em 2007 para o PAC, só 44,2% foram pagos, segundo dados do site Contas Abertas. Este ano, o R$1,39 bilhão que efetivamente saiu do cofre para o PAC foi resto a pagar, e ainda faltam outros R$11,2 bilhões. Para 2008, estão no Orçamento R$16,8 bilhões, metade para o Ministério dos Transportes, mas ninguém sabe quanto disso sairá do papel. Ocupado politicamente, esse ministério é uma negação. A produção industrial divulgada pelo IBGE anteontem mostrou que, no quarto trimestre de 2007, comparado ao mesmo tri do ano anterior, houve aumento de 24% nos bens de capital. No primeiro bimestre deste ano, o dado foi de 20%. Está havendo desaceleração. Uma das boas notícias, segundo Silvio Sales, do IBGE, é que está havendo um "espalhamento" do crescimento de bens de capital. Equipamentos para energia elétrica, transporte e construção já vêm crescendo há mais tempo. Desde o segundo semestre do ano passado, o maior aumento relativo tem sido nos bens de capital para agricultura, isso porque a base era fraca. Por outro lado, quem está perdendo ritmo são os computadores, considerados "de uso misto", dado que vinham de anos muito bons. Se esse incremento está se espalhando, como afirma Silvio Sales, e é constatável em várias cadeias produtivas, é exatamente isso o que se quer para que o país tenha um crescimento sustentado. O problema é que ainda está havendo pouco investimento em estradas, os grandes projetos de energia estão no início, os investimentos do PAC são pífios. O que o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff têm feito, com toda esta agitação, é inaugurar pedra inaugural. - O governo tem um discurso para o investimento, mas, na prática, ele não tem conseguido ter a efetividade que gostaria - comenta Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sinicon, Sindicato da Indústria da Construção Pesada. Este ano, ele conta que o setor que representa está "extremamente aquecido", devido a três vertentes: a primeira delas, a iniciativa privada, sobretudo mineração (com a Vale) e siderurgia (CSA, expansão de Usiminas, Açominas e CST) e também papel e celulose. O segundo vetor é a Petrobras, que vem construindo plataformas, refinarias e dutos e constitui o maior cliente da indústria da construção pesada. Não à toa. O Contas Abertas informa que, só neste primeiro bimestre do ano, dos R$5,9 bilhões investidos pelas estatais, R$5,4 bi foram da Petrobras. Os investimentos do governo foram R$3,4 bilhões, não em dois, mas já em três meses, considerando março. - Algumas obras do governo agora é que começam a sair do papel. Há também obras estaduais, como o rodoanel, em São Paulo - diz Luiz Fernando, chegando, assim, ao terceiro investidor. A grande dúvida dele é se o governo vai conseguir manter um ritmo crescente de investimento: - Que as privadas e a Petrobras vão, isso já é certo - afirma. Construção civil é 2/3 da formação bruta de capital fixo, do investimento. Por enquanto, tem havido mais aumento da construção imobiliária que da construção pesada, que indica ampliação da infra-estrutura. O governo tem sido lento em projetos cruciais para melhorar a logística. Nos portos, por exemplo, cujas obras, em muitos casos, estão sendo tocadas mesmo pela iniciativa privada; ou nas estradas. Em geral, o governo atrapalha ao criar restrições e adiar concessões e decisões. Um dos setores em que têm ocorrido alta forte no investimento é o de energia, com crescimento de 26%, em 12 meses, nos bens de capital para este setor. - A parte de transmissão já vinha se mantendo. A novidade agora é na geração. Tem havido uma demanda enorme para as PCHs - diz Paulo Godoy, da Associação da Infra-Estrutura e Indústrias de Base. As PCHs são as pequenas centrais hidrelétricas. Elas ajudam, mas não garantem energia suficiente para o aumento de demanda previsível num cenário de crescimento forte. - Parte da indústria de bens de capital está exportando, empresas como a Siemens, por exemplo, estão exportando para a Argentina. O complexo automotivo começa a investir depois do aumento da demanda dos últimos anos - diz o economista José Roberto Mendonça de Barros. Os investimentos privados vão expandir a capacidade de produção, mas o investimento público ainda está muito abaixo do mínimo necessário para se garantir um período de crescimento sustentado. O investimento agora tem que ser mesmo liderado pelo setor privado, mas o governo Lula aumentou a presença do Estado em áreas decisivas, e cria obstáculos. Na era Geisel, que Lula pensa estar repetindo, a administração pública (sem estatais) chegou a investir 4% do PIB. Em 1994, foram 3,6%. Agora está em 1,7%. |
Entrevista:O Estado inteligente
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