Marido milionário, agenda estrelada
e terreno amazônico dão projeção
global a Ana Paula Junqueira
Bel Moherdaui
Antonio Milena/AE |
Senhora de seus domínios: da fazenda no interior paulista para casas em São Paulo, Londres, Paris, Saint-Tropez e nos Alpes |
Ela vai se encontrar com o Leo (DiCaprio); se dá bem com o Lenny (Kravitz); acha o Johnny (Depp), a quem conheceu no aniversário do Mick (Jagger), uma graça. Sua melhor amiga, naturalmente, é a Naomi (Campbell). Conversar com Ana Paula Junqueira (socialite?) é como estar diante de uma versão falada das revistas de celebridades – ela conhece ou vai conhecer logo, logo uma impressionante lista de famosos. Seu passaporte para esse mundo rarefeito tem todos os carimbos certos: corpinho com tudo no lugar, um jeito cativante para fazer amigos e um marido multimilionário, disposto a despejar um bocado de dinheiro em causas ambientais. Seu feito mais propalado foi comprar um naco de terra no Amazonas para manter intocado – em termos amazônicos, a área de 160 000 hectares é um nada, mas basta dizer que "é maior que Londres" para deixar europeus de queixo caído. Criada em fazenda em Santa Rita do Passa Quatro, cidade do interior de São Paulo onde geralmente não se passa muita coisa, Ana Paula não terminou a faculdade nem seguiu carreira, mas à sua maneira conquistou o mundo. Ou, pelo menos, uma agenda de contatos de matar de inveja a concorrência.
"Amo o Brasil, e ela é uma das razões disso. É uma amiga fiel e nos falamos todos os dias. Sempre que fico na casa dela, sei que vou comer feijoada", disse a VEJA uma doce e simpática Naomi Campbell, a modelo inglesa conhecida pelo temperamento atômico. As credenciais ecológicas do casal já aproximaram Ana Paula de personalidades como o ex-secretário de Estado americano Colin Powell e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, embora os mortais comuns queiram mesmo saber é dos famosos na acepção mais mundana do termo. E como é circular nas altas esferas? "Recentemente olhei e estava ao lado do Eric Clapton, do Nick Mason, baterista do Pink Floyd, da Frida (Lyngstad), do Abba, e do George Lucas. É um pouco surreal, mas não me surpreendo. Aprendi que são normais como qualquer um. Envelhecem, têm seus problemas", filosofa Ana Paula, que no mês que vem será uma das anfitriãs de uma recepção em prol do meio ambiente na sede da ONU, em Nova York, função que dividirá com Leonardo DiCaprio, o herdeiro da Fiat Lapo Elkann e o milionário grego Stavros Niarchos, entre outros.
Fotos álbum de família e Luciana Prezia/AE |
Amigos são coisas para guardar: com o estilista italiano Roberto Cavalli; ao lado da amicíssima Naomi Campbell e de Glória Maria; com Lenny Kravitz e Guilhermina Guinle; com Ban Ki-moon, da ONU; e posando com o ator Johnny Depp |
Com roupa impecável, cabelos impecáveis, educação impecável, Ana Paula às vezes se atrapalha e mistura expressões em inglês, impecável, à conversa. Sobre a corrida de Fórmula 1 em Barein, no início do mês, diz: "Fomos a convite do crown prince, que é muito amigo do Johan". Tradução: príncipe herdeiro. Johan, naturalmente, é o marido, Johan Eliasch, 46 anos, sueco radicado na Inglaterra, dono do grupo Head, de materiais esportivos, e de uma fortuna calculada em 700 milhões de dólares. Outro "amigo do Johan" é o príncipe Andrew, da Inglaterra, que se hospedou em sua casa de São Paulo no ano passado. "Perguntei a ela: como você chama o príncipe? Ela me disse que chamava de Andrew mesmo. A Ana Paula é cuca fresca", diverte-se a mãe, Anna Maria. Carismática e generosa são outros adjetivos freqüentemente pronunciados pela multidão de amigos. "Ela não é possessiva. Pôs a Naomi na roda mesmo", anota a atriz Alexia Dechamps. A dermatologista Adriana Vilarinho também se encanta. "Ela me trouxe muitos pacientes de fora: Naomi, Lenny Kravitz, um jet set internacional ao qual eu jamais teria acesso", diz. Esse constante apresentar amigos e conectar pessoas às vezes resulta em grandes negócios e, informalmente, em comissões, mas nem pensar em entrar em detalhes sobre assuntos tão comezinhos. "Ela tem uma agenda incrível de nomes fantásticos", elogia o empresário Mario Bernardo Garnero, que a nomeou secretária-geral de uma ONG de políticas sociais, a Anubra.
Não que Ana Paula seja perfeita, ao contrário. Dois defeitinhos ela assume: sonha em fazer carreira política (já se candidatou, em vão, duas vezes a deputada e pretende tentar de novo) e tem uma relação maleável com os fatos quando se trata da data do nascimento. "Às vezes a gente mente a idade, sim", diz, com seus 37 anos declarados. As intervenções estéticas também são tratadas em termos vagos. "Fiz uma lipozinha há muito tempo. E é claro que já coloquei Botox e já fiz preenchimento", resume. Ana Paula nasceu e cresceu bem de vida na fazenda onde os pais plantam cana e criam gado. "Era gorducha, gostava de jabuticaba, andava descalça e era amiga dos filhos dos empregados. Acho que daí veio sua facilidade em circular nos mais diferentes meios", conta a irmã, Renata Azevedo Silva, produtora cultural em São Paulo. Saiu de lá aos 15 anos para estudar e logo começou a viajar. "No começo ganhou do padrinho uma passagem para a Europa. A avó também dava viagem. Daí arrumou um namorado e ficou uma temporada por lá. Quando precisava, o Lincoln, meu marido, mandava dinheiro para ela. Logo depois teve outro namorado e depois o Johan", relata a mãe. A lista de ex-namorados na verdade é um pouquinho maior. Inclui os pilotos Pedro Paulo Diniz e Gianni Morbidelli (com quem morou na Itália), o tenista Fernando Meligeni, o investidor Felipe Nabuco. Do currículo profissional constam algumas fotos como modelo na adolescência e "uns meses" organizando eventos em São Paulo. Atualmente discute, vagamente, um projeto de negócio de cosméticos com a Francesca (Versace).
Luciana Prezia/AE |
Com Eliasch, o milionário sueco com quem vive há seis anos: "Casamento para sempre, como o de meu pai e minha mãe" |
Há seis anos, Ana Paula acompanha Eliasch, com quem se considera perfeitamente casada, embora ainda falte oficializar – as casas (Londres, Paris, Saint-Tropez, São Paulo e "um chalezinho" nos Alpes) são "nossas", a empresa é "nossa", os aviões idem. O empresário só no ano passado finalizou o divórcio de Amanda Eliasch, com quem tem dois filhos adolescentes. Ex e atual se dão bem. "Acho mais saudável trazer a Ana Paula para a família do que detestá-la. Ela até é bem graciosa. Seja lá o que for que deu errado no nosso casamento, foi muito antes da Ana Paula. Ela pode não ter ajudado, mas o problema já estava lá", diz a despachada Amanda. "Sempre falei para o Johan que ele precisava de uma italiana com cérebro. E ele conseguiu uma brasileira com cérebro." Ao estilo upper class (casta superior que só existe na Inglaterra), Amanda evocou, em entrevista a um jornal inglês, uma frase do falecido milionário Jimmy Goldsmith, famoso por manter assumida e simultaneamente três mulheres: "Quem casa com a amante abre uma vaga". Ana Paula nem liga para insinuações do gênero: "Na Inglaterra, os advogados que fazem divórcio dão uma cartilha para a ex-mulher dificultar o processo e conseguir um bom acordo".
Como a mulher, Eliasch tem ambições políticas. Começou no Partido Conservador, mas mudou de lado e hoje é assessor para assuntos ambientais do primeiro-ministro Gordon Brown, trabalhista, embora seja difícil de perceber. A imensidão amazônica que comprou lhe deu projeção global e, no futuro, pode também render na forma de venda de créditos de carbono para poluidores. Ana Paula é uma relutante rainha das amazonas. Já visitou a área três vezes, mas nunca dormiu em rede. Faz projetos mais afinados com seu perfil: de lá sairiam os óleos e plantas para a projetada parceria com a herdeira Versace. Ainda neste ano ela acha que se casa de papel passado (sem acordo pré-nupcial: "Vou casar, e para sempre, como meu pai e minha mãe"). Quem vai fazer o vestido? "Adoro Alaïa, Dolce & Gabbanna, Stella McCartney, Reinaldo e Gloria, Raia de Goeye", enumera ela. "Coloca também o Roberto Cavalli, que é meu amigo. Ai, essa reportagem vai me causar uma confusão."