Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 03, 2008

Idéia a rechaçar


EDITORIAL
Folha de S. Paulo
3/4/2008

Vice-presidente reacende hipótese, acalentada por ampla e silenciosa base do governo, de permitir terceiro mandato a Lula

A POPULARIDADE recordista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ausência de um nome forte do PT para a sua sucessão atuam como um incentivo para o queremismo. Até 3 de outubro de 2009, quando vai se fechar a janela legal para mudanças nas regras da eleição do ano seguinte, a centelha do terceiro mandato continuará sendo atiçada vez ou outra.
Desta feita coube ao vice-presidente da República alimentar o braseiro que estava esquecido havia quatro meses. "Os brasileiros desejam que Lula fique mais tempo no poder", afirmou José Alencar durante entrevista à rádio Bandeirantes. Disse-o de modo espontâneo, sem que houvesse sido questionado sobre o assunto pelo entrevistador.
Oblíquas e intermitentes, as aparições da idéia de permitir a Lula mais uma reeleição respondem a uma inquietação crescente na base do governo. Os petistas -que ocupam 5.000 postos na máquina federal e controlam largas fatias dos orçamentos da União, de estatais e de fundos de pensão- não têm, ainda, perspectiva de preservar o "statu quo" a partir de 2011.
Nesse contexto, Lula, cada vez mais popular, torna-se um desaguadouro natural de desejos continuístas. Manter a hipótese do terceiro mandato acesa na esperança de que venha a incendiar os ânimos da população é um experimento que não custa nada ao PT. A cúpula do partido e a do governo observam com altíssimo interesse o resultado dos "balões de ensaio" enquanto manifestam repúdio indignado à simples menção do tema.
O que torna inviável a proliferação das chamas, no entanto, é a resposta da população quando exposta à possibilidade do terceiro mandato. Os brasileiros, que garantem a Lula recordes de avaliação positiva, rechaçam, numa proporção ainda maior, de 65%, a hipótese de uma nova reeleição para o presidente.
Ainda que o placar fosse oposto -com o continuísmo endossado por ampla maioria-, seria preciso barrar as tentativas de legalizar o terceiro mandato consecutivo. Se o advento da reeleição no Brasil sacrificou em alguma medida o princípio da alternância no poder, esse custo foi suplantado pelo benefício da continuidade administrativa.
O balanço se inverte, no entanto, quando se pensa num período de 12 anos. Nesse caso, os custos -a propensão ao mandonismo, à erosão dos freios institucionais que tentam equilibrar o peso desproporcional da Presidência no Brasil e a crises políticas violentas advindas da falta de circulação de partidos e lideranças no poder- ficariam proibitivos.
Instituir o terceiro mandato seria uma aventura potencialmente desastrosa no Brasil. Toda tentativa de emplacar essa idéia, mesmo que aparentemente anódina, deve ser combatida.

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