Ana Araujo |
O ministro Direito, do STF: pedido de vista |
Uma reportagem da presente edição de VEJA mostra que é um erro comum confundir o potencial de tratamentos e curas que se podem obter com o uso de células-tronco embrionárias com os benefícios terapêuticos prometidos pelas células-tronco adultas. Essa diferenciação é crucial. Enquanto as primeiras podem cortar caminho rumo ao tratamento eficaz de uma miríade de doenças hoje consideradas irreversíveis, as segundas, infinitamente menos potentes, projetam uma rota bem mais longa e tortuosa. Seria apenas uma confusão comum e compreensível, dada a complexidade do tema, se ela não estivesse sendo usada de forma proposital para tentar convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) da inutilidade do uso de células-tronco embrionárias.
Como se sabe, o STF está em processo de julgamento da constitucionalidade das pesquisas com embriões liberadas pela Lei de Biossegurança em 2005. O mesmo lobby religioso que levou a questão até o STF trata agora de confundir a cabeça dos ministros. Faz-se uso da tese falaciosa e desamparada pela ciência de que as duas linhas de pesquisa se equiparam. Elas são coisas totalmente diferentes. Uma não anula a outra.
O uso de células embrionárias é, no atual estágio da ciência, a mais tangível promessa de cura de doenças sérias e incapacitantes. Quanto mais cedo as pesquisas começarem, mais rapidamente os resultados serão atingidos. Por essa razão, é inquietante que a votação esteja há quase dois meses parada no STF em razão do pedido de vista do processo feito pelo ministro Carlos Alberto Menezes Direito. A maioria dos colegas do ministro Direito já fez saber que é favorável à liberação das pesquisas. Eles foram tocados pela argumentação de que não se atenta contra a ética ou a moral religiosa, uma vez que os embriões usados nas pesquisas, obtidos em tubos de ensaio, são inviáveis para o implante em úteros maternos e destinados a ser descartados quando ainda invisíveis a olho nu. A posição dissidente do ministro Direito é conhecida. Ele vota como quiser. Mas não é razoável atrasar por mais tempo o desfecho de um processo capaz de melhorar a qualidade de vida de milhares de brasileiros.