Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 24, 2008

Dora Kramer - Com o pé no tubo



O Estado de S. Paulo
24/4/2008

O apoio do PMDB à candidatura do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi anunciado, mas não se pode dizer que esteja sacramentado.

Há tantas implicações numa aliança como essa, há tantas variantes nacionais, regionais, partidárias, presentes e futuras envolvidas, que é difícil acreditar em definições imutáveis tomadas dois meses antes do fim do prazo fatal: junho.

Por enquanto, de certo o que existe é um movimento que vai mexer na armação da disputa municipal mais importante do País.

Por exemplo: nem bem o acordo foi anunciado, o grupo do prefeito correu para fazer declarações públicas de apreço à manutenção da aliança entre tucanos e democratas.

Demonstrações de amizade a Geraldo Alckmin como não se ouviu nos últimos meses. Isso ao mesmo tempo em que se dava publicidade a um acerto cujo primeiro efeito é retirar oxigênio da candidatura de Alckmin.

Claro, pois se Kassab que já tem a máquina municipal e conta com a sustentação extra-oficial da administração estadual ainda ganha o tempo de televisão do PMDB e mais o simbolismo do apoio do maior partido da coligação do presidente Luiz Inácio da Silva, o que sobra para Geraldo Alckmin?

Parte da estrutura do PSDB, o apoio de lideranças tucanas fora de São Paulo (de influência zero sobre o eleitorado paulista) e os índices das pesquisas que, de resto, já foram mais substanciais.

Ao “pisar no tubo” do ex-governador, seus adversários devem ter um objetivo. O único à vista seria levá-lo a aceitar uma conversa sobre desistência da disputa municipal para aguardar a vez de concorrer ao governo do Estado em 2010.

É de se aguardar a reação do cardinalato tucano que trabalha a distância em prol de Alckmin. Certamente haverá e obviamente produzirá algum efeito.

Do lado do PT, que era tido como o interlocutor preferencial de Orestes Quércia, também houve gritaria e invocações de respeito à coligação federal.

Haverá, portanto, reações, ofertas de toda sorte e tentativas de mudar o quadro. Ao interromper as conversações, Quércia deve ter um objetivo.

O mais vistoso no horizonte é a valorização do passe diante do PT, que resiste em entregar uma vaga ao Senado porque a primazia é de Aloizio Mercadante, enquanto o DEM abre de bom grado mão da vez até então reservada a Guilherme Afif Domingos.

A despeito das novidades dos próximos capítulos, tal acerto, se confirmado, não pode ser visto como uma aliança entre o PMDB e o DEM. Não resulta de acordo com o PSDB nem indica abalo na coligação nacional PT-PMDB.

Diz respeito à conjugação de interesses de Orestes Quércia e José Serra, com a importante contribuição, em retrospectiva, de Marta Suplicy e sua inesquecível (para Quércia) participação no programa Roda Viva, em 2004.

Na entrevista, a então prefeita disse que o PMDB não era “confiável” como parceiro.

E não é mesmo. Mas, como diz um ex-adversário do PT, hoje ministro de Lula: “Os outros podem nos achar de quinta, mas precisam saber que temos o direito de discordar.”

Enfim

“Alguns movimentos sociais atuam na fronteira da legalidade, o que exige firmeza das autoridades constituídas”, disse no discurso de posse o novo presidente do Supremo, Gilmar Mendes, ao lado do presidente Lula, que de olhos baixos estava, de olhos baixos ficou.

Aos fatos

Tal como já fizera Lula ao saudar a derrota presidencial de 1989, porque, confessou, não estava “preparado” para governar o Brasil, Ciro Gomes comemorou o fato de não ter sido eleito em 2002. “Não estava maduro.”

Compreende-se que o intuito da autocrítica sobre as imperfeições do passado seja o de reforçar o primor dos atributos do presente.

Mas não deve soar bem aos eleitores de ambos nas referidas eleições a revelação de que foram vítimas de assumida propaganda enganosa.

Tal como fez o presidente Lula recentemente em visita a Pernambuco, redesenhando a história da ascensão e queda de Severino Cavalcanti, Ciro Gomes revisou o episódio apresentando Severino como o cerne de um “golpe” em marcha contra Lula.

Segundo Ciro, a oposição planejava usar o então presidente da Câmara para dar curso a um pedido de impeachment, desistindo apenas quando Severino aderiu ao governo.

É possível que Lula e Ciro tenham seus motivos para tentar conferir a Severino Cavalcanti um papel histórico que ele não teve. Mas, quaisquer que sejam, não têm o condão de alterar a realidade: Severino subiu no vácuo da divisão do PT e caiu por corrupção comprovada.

Quanto ao impeachment, a decisão de não apresentar o pedido foi tomada numa reunião dos partidos de oposição na segunda-feira seguinte ao depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios, quando o publicitário confessou ter recebido recursos de caixa 2 para fazer a campanha presidencial de 2002.

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