FH: Terceiro mandato desmoralizaria Lula e abriria portas para o autoritarismo
Publicada em 30/04/2008 às 14h04m
GLOBO ON LINE
-O presidente Lula já declarou muitas vezes que não aceitaria e eu acredito na palavra dele. Um terceiro mandato seria um erro institucional - disse ele, ao participar de uma reunião da Comissão Latino-Americana sobre drogas e democracia, no Rio de Janeiro. - O presidente Lula ficaria muito desmoralizado - acrescentou ( Ouça trechos da entrevista de FH ).
O tucano explicou por que considera um terceiro mandato um risco institucional:
" O presidente Lula já declarou muitas vezes que não aceitaria e eu acredito na palavra dele. "
- Uma coisa é o instituto da reeleição, que já existe em muitos países. Mas não existe o instituto do terceiro mandato, porque aí não haveria limitação e perde o princípio da democracia - disse FH. - Terceiro mandato é um mandato indefinido e mandato indefinido é abrir as portas para o autoritarismo, para o personalismo. Acho que não tem cabimento. Quem fica três mandatos, fica dez - completou.
Fernando Henrique lembrou que Lula já foi contra a reeleição, mas se candidatou uma segunda vez.
- Ele pode achar que não é suficiente (um mandato de quatro anos), e ele (Lula) acabou concordando tanto que acabou sendo candidato.
Perguntado se ele não acha pouco oito anos para pôr em prática os planos presidenciais, FH disse:
- Acho pouco, mas a alternância de poder é sadia.
Fernando Henrique ponderou que uma mudança profunda na estrutura de um país não precisa ser obra de uma pessoa ou um partido.
- Entendo que quem está no poder queira continuar, isso faz parte do jogo, faz parte da vida .Mas num país não se faz por um governo, é uma continuidade, ou uma ruptura, depende.
Perguntado se a opinião pública não defenderia um terceiro mandato para Lula, foi taxativo:
- Uma parte da população quer pena, de morte, mas você acha que vale a pena? Não acho que este tema tenha que ser tratado neste nível. Mas com responsabilidade institucional, mais do que uma pesquisa de opinião pública.
Ainda defendendo a alternância no poder, afirmou que o presidente Lula não pode ceder a pressões por mais um mandato que vêm da própria base do governo.
-A pressão existe para um terceiro mandato por parte dos partidos interessados... Oito anos é pouco, mas não precisa só um mudar ou um partido. O PT que parecia que ia mudar tudo o que eu tinha começado deu continuidade à maior parte das coisas. Alternância pode ter continuidade. Isso que é um país maduro.
FH: Alckmin não vai desistir e terá meu apoioO ex-presidente afirmou que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin não vai abrir mão da pré-candidatura a prefeito da capital paulista e que terá seu apoio nesta decisão. Perguntado se não preferia uma aliança com o DEM, que quer a reeleição do prefeito Gilberto Kassab, FH respondeu que "não prefere nada" e que não teme um racha no seu partido, mas acrescentou:
-Claro que todo mundo sabe qual é a minha estratégia. Mas política não é só estratégia. São interesses concretos, momentâneos - afirmou ele.
FH critica setores do PT de intransigência em torno da aliança com o PSDB em Minas
Críticas ao PT por veto à aliança em MinasO ex-presidente criticou setores do PT pelo veto à aliança com o PSDB em torno da candidatura de Márcio Lacerda, secretário do governador tucano Aécio Neves (MG), à prefeitura de Belo Horizonte. Ele disse considerar esses setores do PT intransigentes:
- Isso caracteriza o PT do passado, 'Eu sou bom, os outros não servem' - disse ele, acrescentando que já considerou positiva a tentativa de fazer a coligação.
Segundo o ex-presidente, em vários estados e municípios houve alianças, mas a atitude de alguns setores do PT - que ele diz ser de intolerância - faz com que o partido "não ajude na construção de um caminho comum para o Brasil".
- Você repara que o próprio presidente Lula já percebeu isso. E quando percebeu, mudou de atitude. Mas há setores no PT que ainda continuam com essa idéia de que há partidos com os quais eu não vou me coligar - disse FH, que completou: - 'Com esse eu não me caso' é uma visão de curto prazo.
O presidente acredita que os políticos do PT e do PSDB em Minas têm razão em procurar um caminho conjunto
Chegamos a um momento no Brasil em que nós estamos precisando de maior generosidade, sem perda de posição (naquilo em que se acredita) - disse o tucano. - Foi uma pena que houvesse intransigência.