No dia 6, esta coluna fez uma afirmação ousada: "Acabou o pânico." Agora dá para dizer mais: dissemina-se a percepção de que "o pior já passou".
É a avaliação que os analistas já não receiam fazer. No início do mês, o comentário semanal do Millenium Investment Banking, maior grupo financeiro privado de Portugal, já observara uma novidade: a "resiliência do mercado às más notícias".
Há pouco mais de um mês, qualquer embaço na economia americana provocava um pandemônio. Bastava a divulgação de uma queda algo maior do que a esperada das vendas de residências usadas nos Estados Unidos para que as bolsas despencassem e o dólar engolisse água. A tal ameaça de recessão americana vinha com energia apocalíptica e os catastrofistas contabilizavam ruínas trilionárias nos ativos financeiros globais.
A mudança no sentimento geral acusou a primeira grande modificação no dia 17 de março, quando os mercados souberam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deixara que o quinto banco de investimentos americano quebrasse. Os ativos bons do Bear Stearns foram colocados sobre o colo do JP Morgan e o Fed assumiu os créditos podres de US$ 29 bilhões. Simultaneamente, foi aberta a janela especial de socorro aos bancos de investimento e outras instituições que geralmente não têm direito a essas facilidades.
Espalhou-se então a percepção de que, nesta crise, banco não quebra ou, por outra, que os contratos daqueles que eventualmente tiverem de desaparecer (como o Bear) serão repassados intactos a outras instituições. E, assim, a calma voltou aos mercados. Desde então, notícias de descoberta de novos esqueletos, prejuízos bilionários, cortes de ativos dos balanços, aumento do déficit comercial americano, salto da inflação, deterioração dos fundamentos da economia, nada disso parece abalar os mercados.
Na semana passada, outros elementos positivos pareceram reforçar a impressão de que o fundo do poço foi ultrapassado. O dólar recuperou-se alguma coisa nos mercados (confira no gráfico) e o comportamento das bolsas globais mostrou mais confiança. Nada disso, por si só, garante que a doença tenha ido embora. Mas há razões para que se acredite em que a recuperação esteja à vista ou, se não isso, em que as coisas não vão piorar. Aqui vão algumas delas:
(1) Os bancos estão saneando seus balanços e reforçando seu capital; (2) os grandes bancos centrais continuam abrindo suas torneiras (na semana passada o Banco da Inglaterra colocou US$ 100 bilhões à disposição das instituições financeiras); (3) a forte redução dos juros nos Estados Unidos parece contribuir para dissolver a crise de crédito que paralisava os negócios; (4) as economias emergentes vão demonstrando inequívoca resistência à crise e compensam em parte os estragos produzidos no mundo rico; e (5) ainda não chegaram aos consumidores americanos os cheques correspondentes aos US$ 167 bilhões que o Tesouro dos Estados Unidos vai distribuir para enfrentar a ameaça de recessão.
Ainda se pode afirmar que mal um inimigo se retira do campo de batalha e já chega outro: a inflação. Mas esta é outra guerra.
É a avaliação que os analistas já não receiam fazer. No início do mês, o comentário semanal do Millenium Investment Banking, maior grupo financeiro privado de Portugal, já observara uma novidade: a "resiliência do mercado às más notícias".
Há pouco mais de um mês, qualquer embaço na economia americana provocava um pandemônio. Bastava a divulgação de uma queda algo maior do que a esperada das vendas de residências usadas nos Estados Unidos para que as bolsas despencassem e o dólar engolisse água. A tal ameaça de recessão americana vinha com energia apocalíptica e os catastrofistas contabilizavam ruínas trilionárias nos ativos financeiros globais.
A mudança no sentimento geral acusou a primeira grande modificação no dia 17 de março, quando os mercados souberam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deixara que o quinto banco de investimentos americano quebrasse. Os ativos bons do Bear Stearns foram colocados sobre o colo do JP Morgan e o Fed assumiu os créditos podres de US$ 29 bilhões. Simultaneamente, foi aberta a janela especial de socorro aos bancos de investimento e outras instituições que geralmente não têm direito a essas facilidades.
Espalhou-se então a percepção de que, nesta crise, banco não quebra ou, por outra, que os contratos daqueles que eventualmente tiverem de desaparecer (como o Bear) serão repassados intactos a outras instituições. E, assim, a calma voltou aos mercados. Desde então, notícias de descoberta de novos esqueletos, prejuízos bilionários, cortes de ativos dos balanços, aumento do déficit comercial americano, salto da inflação, deterioração dos fundamentos da economia, nada disso parece abalar os mercados.
Na semana passada, outros elementos positivos pareceram reforçar a impressão de que o fundo do poço foi ultrapassado. O dólar recuperou-se alguma coisa nos mercados (confira no gráfico) e o comportamento das bolsas globais mostrou mais confiança. Nada disso, por si só, garante que a doença tenha ido embora. Mas há razões para que se acredite em que a recuperação esteja à vista ou, se não isso, em que as coisas não vão piorar. Aqui vão algumas delas:
(1) Os bancos estão saneando seus balanços e reforçando seu capital; (2) os grandes bancos centrais continuam abrindo suas torneiras (na semana passada o Banco da Inglaterra colocou US$ 100 bilhões à disposição das instituições financeiras); (3) a forte redução dos juros nos Estados Unidos parece contribuir para dissolver a crise de crédito que paralisava os negócios; (4) as economias emergentes vão demonstrando inequívoca resistência à crise e compensam em parte os estragos produzidos no mundo rico; e (5) ainda não chegaram aos consumidores americanos os cheques correspondentes aos US$ 167 bilhões que o Tesouro dos Estados Unidos vai distribuir para enfrentar a ameaça de recessão.
Ainda se pode afirmar que mal um inimigo se retira do campo de batalha e já chega outro: a inflação. Mas esta é outra guerra.