A etapa vencida mostra algumas coisas. Nem a Grécia quer sair do bloco do euro nem o bloco do euro quer perder a Grécia
O princípio de acordo entre a Grécia e o Eurogrupo (reunião dos ministros de Finanças da área do euro) não põe fim ao cabo de guerra.
Esses conflitos lembram os do governo do Brasil nos anos 80. O então ministro Delfim Netto assinava as cartas de intenções com o Fundo Monetário Internacional e não cumpria nenhuma delas. Era uma após outra, como os cigarros sucessivos do tabagista.
Mas a etapa vencida mostra algumas coisas. Mostra, por exemplo, que nem a Grécia quer sair do bloco do euro nem o bloco do euro quer perder a Grécia.
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Varoufakis. Cabo de guerra
Jogar a vaquinha precipício abaixo produziria imensamente mais prejuízo para a Grécia do que o sacrifício pedido do ajuste de contas. Apenas a operação de troca de moedas seria um desastre de vastas proporções, porque implicaria brutal desvalorização do patrimônio das famílias que hoje têm suas propriedades e reservas precificadas em euros. Uma nova moeda (eventualmente o retorno da velha dracma) chegaria fortemente desvalorizada em relação ao euro.
Em caso de necessidade de troca de moedas, um feriado bancário prolongado não evitaria o pânico no país. O eventual calote da dívida poderia proporcionar alívio imediato, mas fecharia as portas para o crédito por muito tempo, como acontece hoje com a Argentina. Como as contas públicas estão desarrumadas, as emissões de moeda abririam as portas para a inflação.
O ponto de maior pressão sobre os demais países da área continua sendo o risco de contágio. A simples rejeição ao programa de ajuste, além de tecnicamente não garantir a recuperação (e, com ela, a capacidade de pagamento da dívida), abriria um precedente pelo qual países mais fracos da área, como Portugal, Itália e, eventualmente, Espanha, poderiam enveredar e colocar em risco a sustentabilidade do bloco.
Ficou demonstrada, também, a fragilidade do argumento, defendido pelo ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, de que programas de austeridade são inaceitáveis. A rigor, a parcela mais importante do programa de ajuste da Grécia não é de medidas que espremem a qualidade de vida dos cidadãos comuns, como aumento de impostos e contenção de salários. São as reformas que eliminam as irracionalidades do sistema, como a moleza na concessão de aposentadorias, os cartórios que beneficiam certos segmentos da população, a eliminação de privilégios, privatização de serviços públicos ineficientes (como o de portos e aeroportos) cuja agenda foi paralisada pelo novo governo de Atenas.
Todas as saídas que não levassem em conta o cumprimento do atual programa de ajuste implicaria obrigar o contribuinte de outros países – e não só os da Alemanha – a pagar pelo menos parte das contas dos gregos.
Como esta Coluna sugeriu em outras oportunidades, essa e outras crises da área do euro vêm expondo o mesmo problema de fundo: a falta de convergência fiscal (e política) do bloco, que pudesse dar sustentação para o euro, e, também, o controle central da administração pública de cada um dos seus membros que proporcionasse um sistema de transferências de recursos que garantam cobertura para casos críticos.
CONFIRA
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O faturamento do setor de serviços está em retração, como o gráfico mostra. Cresceu no período de 12 meses terminado em dezembro apenas 6%. Não acompanhou nem a inflação do período, que ficou nos 6,4%. A desaceleração da economia chegou ao setor que mais vinha se expandindo.
Peso no PIB
Mais grave, a retração pega em cheio o setor que tem maior participação no PIB, mais de 60%, e é, de longe, não só o maior empregador de mão de obra, mas também de atuação dos autônomos. Nada indica uma reação ao longo de 2015.
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