Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 30, 2008

Dora Kramer - No altar do próprio umbigo



O Estado de S. Paulo
30/4/2008

Ganhar eleição não depende só de popularidade e capacidade de emocionar as massas. Requer prática e, sobretudo, muita habilidade.

É como disse o presidente Luiz Inácio da Silva dia desses sobre a ministra Dilma Rousseff: “Ser gerente é uma coisa, candidata à Presidência é outra conversa, porque a política exige outras credenciais.”

O raciocínio de Lula pode ser aplicado à direção nacional do PT que, nos primeiros movimentos da armação do ambiente eleitoral de 2008 com vistas à preparação do cenário para 2010, demonstrou ainda não ter se dado conta de que ter um presidente popular é uma coisa, construir uma candidatura viável é outra conversa.

Exige outras credenciais, como especial aptidão para o alinhavo de alianças. Capacidade para fazer amigos e influenciar pessoas é indispensável a todos com pretensões de poder, notadamente àqueles que precisam tirar leite de pedra na construção de uma candidatura competitiva em menos de dois anos.

Ou, então, nesse mesmo espaço de tempo conseguir alterar a Constituição, preparar uma mudança geral de opinião, convencer o Brasil que tem massa crítica da normalidade da tese do terceiro mandato e ainda provar ao mundo que isso não significa instabilidade institucional.

Qualquer das tarefas é dura, leva tempo e, por isso mesmo, o presidente Lula antecipou o debate da própria sucessão. Consta ter dado à tropa ordem para bordar com dedos hábeis, mas firmes, as alianças municipais. A idéia seria armar palanques sólidos e gentis, para permitir ao presidente freqüentar todos os ambientes em paz.

Sem precisar administrar conflitos ou ser obrigado a fugir de terrenos minados. Principalmente em localidades de eleitorado robusto.

Pois o certame nem começou e o PT já conseguiu desarrumar o plano. Perdeu seu maior aliado em São Paulo (o PMDB), deu um tranco feio na sua principal liderança nacionalmente emergente em Minas Gerais (Fernando Pimentel), escolheu um candidato sem chance no Rio enquanto o presidente empresta apoio a outrem (Marcelo Crivella) e despertou a ira de um neoaliado muito tudo cioso dos próprios calos (Geddel Vieira Lima), em Salvador.

Falamos aqui do primeiro, segundo, terceiro e quarto colégios eleitorais do País. Tratados com uma displicência desproporcional às necessidades objetivas do partido, obcecado que parece estar com a idéia de invencibilidade sustentada na análise de um panorama risonho, mas não necessariamente imutável.

O PT - e Lula também, dada a inverossimilhança da versão do distanciamento entre essas entidades indissociáveis quando se trata de disputar eleições - padece de excesso de confiança, que lhe anuvia a visão. Olha para 2010, desdenha as variantes de 2008 e não vê a conveniência do outro.

Por isso lidou com o PMDB como fava contada, fez aliança sem pé nem cabeça no Rio, quebrou o acerto da Bahia e, em Belo Horizonte, no afã de atirar em Aécio Neves, feriu gravemente um dos seus.

Nova edição

O envolvimento de políticos do PDT com favorecimento de repasses de verbas a entidades amigas, lobbies para fins ilícitos, contratos de empréstimos fraudulentos e armação de ardis contra adversários, já aponta o partido como sucessor do PTB na série “como era problemática a minha aliança”.

De posse desse poderoso cabedal, o PDT em breve poderá estar para um escândalo de boa monta como já esteve o PTB para o caso do mensalão, conhecido a partir das estripulias petebistas nos Correios.

A ala enrolada do partido é aquela ligada ao sindicalismo. Mais especificamente à Força Sindical, que junto com as outras centrais acabou de ser duplamente contemplada pelo governo federal: ganhou parte do dinheiro do imposto sindical e ficou livre da fiscalização do Tribunal de Contas da União por obra da graça de um veto presidencial.

Caráter

O governador do Ceará, Cid Gomes, já tem lugar garantido no pódio dos campeões do ano, por ora imbatível na categoria revelação.

Revelou-se, primeiro, na arrogância ao qualificar de “demagogia barata” o requerimento de informações de deputados da oposição sobre sua viagem em jato fretado à Europa.

Revelou-se, depois que o caso ganhou repercussão nacional, na pusilanimidade ao jogar sobre a mulher a culpa pela presença da sogra no avião e transferir à Casa Civil a responsabilidade pela escolha da hospedagem de luxo e pela ocultação das informações do Diário Oficial.

Revelou-se, por ocasião da apresentação de desenxabido pedido de desculpas, no cinismo ao insistir na natureza perfeitamente regular da viagem.

Revelou-se, por fim, um discípulo do reitor Fagundes Neto, da Unifesp, aquele que pensava que cartão corporativo “era como uma diária, um dinheiro que você bota no bolso e não tem que explicar”.

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