Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 20, 2012

Um barril de confusões - MÍRIAM LEITÃO




O GLOBO - 20/09

A indústria de petróleo do mundo reunida no Rio, e o ministro das Minas e Energia preferiu anunciar em Brasília a nova rodada de concessões de áreas de exploração. A ausência de autoridades na Rio Oil & Gas é só um sinal dos erros nessa área. Perdeu-se tempo sem fazer novas concessões, o modelo de partilha é confuso, a produção estagnou e a Petrobras teve prejuízo.

O governo garantiu que o petróleo é o nosso passaporte para o futuro, mas o Brasil tem importado cada vez mais gasolina, a Petrobras perdeu, em cinco anos, 20% do seu valor de mercado, enquanto a Ecopetrol subiu mais de 100%. O site MSN Money disse que a Petrobras teve nos últimos dois anos a pior performance em bolsa entre as grandes petrolíferas. A área prospectada em regime de concessão está minguando e, se nada fosse feito, em 2016 poderia acabar. Isso porque a última licitação aconteceu em 2008. Esse intervalo já está perdido.

Estranho, porque como disse em sua coluna o jornalista George Vidor, só em bônus de assinatura o governo pode receber US$ 1 bilhão. O especialista Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), calcula que o governo perdeu entre US$ 4 bi a US$ 6 bi de 2008 a 2012. Uma parte desses constantes adiamentos no leilão foi provocada pela decisão de alterar o marco regulatório. Ainda há dúvidas sobre como funcionará esse novo modelo, nem tudo foi aprovado no Congresso. Uma nova estatal no setor preocupa até a Petrobras.

Os números indicam que alguma coisa está fora da ordem: a produção de petróleo de janeiro a julho aumentou apenas 0,7% em relação ao mesmo período de 2011. Ficou estagnada. A produção da Petrobras desde março é menor do que a do mesmo mês do ano passado. A produtividade da Bacia de Campos está caindo e a exportação de petróleo recuou. Na área de derivados, o país teve déficit na balança comercial de US$ 10 bilhões em 2011. A exportação de derivados cai a quatro anos seguidos, enquanto a importação subiu 90% de 2007 a 2011.

A indefinição e a incerteza sobre o setor afastaram o investidor que há alguns anos achava que o Brasil era uma nova fronteira. Hoje, ele está dividido entre várias áreas interessantes que surgiram no mundo nos últimos anos.

— De 2008 para cá, foram feitas grandes descobertas na Colômbia, Estados Unidos e na África. Enquanto o Brasil ficou parado, esses lugares andaram e atraíram parceiros — disse Pires.

Entre os vários erros cometidos na excessiva politização do setor está a construção da refinaria Abreu e Lima, formatada também para refinar o petróleo da Venezuela. O país vizinho não contribuiu com os custos da construção, a Petrobras até agora bancou sozinha, e o orçamento do projeto deu um salto ornamental. Prevista para custar US$ 2,3 bilhões, custará mais de US$ 20 bilhões.

Mas a lista de tropeços é maior: a capitalização derrubou as ações da Petrobras. A mudança do regime de concessão sobrecarregou a empresa de investimentos e aumentou a obrigatoriedade de compras de conteúdo nacional. O consumo de gasolina subiu, mas ela não pode elevar os preços, arcando com o prejuízo das importações.

A nova diretoria da Petrobras tem o grande mérito da sinceridade. Isso fez com que a ação subisse no dia em que a presidente, Graça Foster, estava anunciando o prejuízo. Mas o presidente do conselho de administração da empresa, o ministro Guido Mantega, deu entrevista neste fim de semana dizendo que os combustíveis não podem subir toda hora. Ou seja, o principal produto da companhia terá sempre o preço no valor e na hora que a Fazenda decidir. 

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