Correio Braziliense - 15/06/2012 |
Vi na internet uma brincadeira sobre a utilidade do papel higiênico que é na verdade uma crítica inteligente e bem-humorada à política brasileira. Na folha de um rolinho está escrito: "O PSDB leva no bolso; o DEM leva na meia; o PT leva na cueca; e o povo leva no mesmo lugar de sempre..." Parto do chiste para uma provocação. Com a conversão do PT à direita, talvez até à direita do DEM, a esquerda — aquela que andava de cabeça erguida — morreu no Brasil. Pelo menos em termos de partidos com forte inserção popular. Considero PSB e PPS de centro. O PSDB, de centro-direita. O PMDB, o velho guarda-chuva de sempre. Continua sendo uma frente e abriga políticos de todos os matizes. Depois da ascensão de Lula ao poder, em vez da ética na política que o país tanto esperava, veio a frustração. E o discurso de esquerda sofreu duro golpe. Foi avacalhado por mensaleiros, aloprados, assessor com dólar na cueca, camaradas que roubam até o dinheiro do lanche das criancinhas... Quando adolescente, ser de esquerda, no meu conceito, era quase um atestado de boa índole. Descobri, pouco a pouco, que não passava de um bobo sonhador. Sim: a ética não é monopólio de ninguém. Mas, à época, eu parecia cego. Vi dom Hélder pregar a luta desarmada, e o julguei um equivocado. Hoje, me pergunto: será que a verdadeira postura de esquerda não era a de dom Hélder, Gandhi e Luther King? Gente que saía às ruas e enfrentava os tiranos de peito aberto. Na linha de frente. Sem defender o extermínio de quem quer que fosse. Há coragem maior do que morrer lutando por justiça de verdade? E não por justiçamento? Continuo a defender um mundo mais justo, mais fraterno, sem discriminações raciais nem religiosas, sem favelas, sem ninguém passando fome nem morando nas ruas. No Brasil, não pode haver retrocesso. A distribuição de renda deve ser cada vez mais aprofundada. Mas não pode servir de álibi a quadrilhas que a condicionam ao "direito" de saquear os cofres públicos. Faz falta ao país uma nova esquerda. Comprometida com a democracia. A justiça social. E com a ética. O combate sem trégua à corrupção devolveria a dignidade à política. Há líderes que poderiam encabeçar esse movimento. Uns raros que dignificam o Congresso. Mas parecem mais céticos e desanimados do que eu, apesar de não terem desistido da política. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, junho 15, 2012
A esquerda morreu? Plácido Fernandes Vieira
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