FOLHA DE SP - 24/06
O crescimento sustentável tornou-se fundamental; porém, muitas das teses são destituídas de fundamentos
Escrevo esta crônica bem antes que a conferência Rio+20 tenha chegado a suas conclusões. Por isso mesmo, me limitarei a algumas considerações acerca de problemas que foram levantados e discutidos neste dias.
Confesso que há 40 anos ou mais, quando tomei conhecimentos da questão ecológica, achei que havia muito exagero em tudo aquilo, ainda que me faltassem maiores informações sobre o assunto.
Mas eu não estava de todo errado. Tanto que, com o passar dos anos, as teses ecológicas tornaram-se menos radicais, e eu, de minha parte, admiti que a defesa do meio ambiente é uma necessidade vital, para a qual todos devemos contribuir, de uma maneira ou de outra.
Quanto a isso, minha adesão é total. Como gosto de bichos, de gato a passarinho, onça, anta, macaco, jacaré, não poderia assistir indiferente à destruição das florestas, nem ao corte de árvores centenárias como as que têm sido postas abaixo por traficantes de madeira.
Tampouco podemos ser tolerantes com a queima de combustíveis altamente poluidores, que envenenam a atmosfera das cidades, especialmente de metrópoles como São Paulo e Rio. Não resta dúvida de que essa quantidade excessiva de carbono, lançada por milhares de veículos, altera as condições atmosféricas locais.
O caminho certo é, evidentemente, reduzir ao máximo a emissão desses gases poluentes, substituindo os motores movidos a petróleo por outros, movidos a eletricidade. Não acredito que alguém, em sã consciência, se oponha a isso. A dificuldade, portanto, não está aí e, sim, na concretização de tais objetivos.
São problemas complexos, que envolvem dificuldades efetivas e interesses de tudo quanto é ordem, a começar pelos econômicos, que, por sua vez, têm implicações sociais nacionais e internacionais.
Para mover os trens e os metrôs, é necessário dispor de energia elétrica, que por sua vez implica na queima de combustíveis poluentes ou na construção de usinas hidrelétricas, que levam à inundação de vastas áreas de florestas.
Outras energias não poluentes, como a eólica e a solar, não terão tão cedo condições de suprir essas necessidades. A solução não é desistir delas, mas tampouco será a pregação alarmista, que ignora as dificuldades reais.
O crescimento sustentável tornou-se um tema fundamental da atualidade, como o demonstra, por exemplo, a realização da Rio+20, com a participação de representantes de mais de cem países. Não obstante, muitas das teses defendidas pelos ambientalistas são classificadas por especialistas no assunto como destituídas de fundamentos científicos.
Agora mesmo, 18 cientistas brasileiros, entre os quais estão físicos, geólogos e climatologistas, dirigiram à presidente Dilma uma carta afirmando que "as mudanças climáticas têm sido pautadas por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas".
Tal atitude contraria "os princípios basilares da prática científica como também os interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira".
Diz ainda o documento que não há evidências físicas da influência humana no clima do planeta, sendo portanto destituída de fundamento a afirmação de que a atividade industrial tem provocado o seu aquecimento.
Segundo a carta, "o relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de mudanças climáticas registra que, no período de 1850-2000, as temperaturas aumentaram 0,74º C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m".
Acrescenta que, nos últimos 12 mil anos, houve diversos períodos com temperaturas mais altas do que as de hoje e que o nível do mar chegou a subir três metros acima do atual.
Não se verifica, afirma o documento, qualquer aceleração anormal desses indicadores nos últimos 20 mil anos, uma vez que as variações observadas no período da industrialização se enquadram na faixa de oscilações naturais do clima, não podendo ser atribuídas ao uso de combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.
Acrescenta que, embora milhares de estudos científicos sobre o assunto tenham sido feitos e publicados, nenhuma repercussão tiveram na mídia.
Essa carta, por sua vez, tampouco teve a repercussão esperada.