O GLOBO - 24/06
Odesfecho da Rio+20 estava predefinido. O fato de a conferência das Nações Unidas ocorrer em meio a temores realistas de um ciclo de agravamento da crise mundial, a partir da deterioração do sistema financeiro europeu, cortou qualquer possibilidade de os países ricos, e até remediados, se comprometerem com desembolsos para financiar a conversão de economias mais frágeis a modelos "sustentáveis". Em decorrência deste obstáculo, surgiu outro: impossibilidade de se estabelecer metas. Se não há dinheiro para projetos de sustentabilidade, por suposto é impossível definir alvos a atingir. Daí, esta sensação de tempo perdido, de frustração e fracasso.
A conclusão é muito ácida - sem trocadilho. É preciso relembrar que a Rio+20 não era um encontro sobre clima, mas acerca de algo muito maior, incluindo as variações atmosféricas. A ONU, com o Brasil à frente, por ser anfitrião, lançou-se a uma tarefa impossível de cumprir no período de debates em Nova York e nos poucos dias de conversações e discursos - estes, sem importância - no Riocentro: encontrar consensos para patrocinar uma gigantesca guinada planetária em busca de modelos de produção mais limpos - ou menos sujos -, que preservem recursos naturais finitos.
A definição de "economia sustentável" pode preencher o espaço de um pequeno verbete de enciclopédia ou cartapácios e gigabites em memórias de computador. Se é possível resumir, a Rio+20 teria de lançar as bases de uma reciclagem no sistema produtivo do tamanho da revolução industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII. Impossível, por óbvio. O que não significa deixar de ser necessário repensar o nosso sistema produtivo e de geração de energia.
Mas alguns passos foram dados. Admitir que há o problema - esgotamento de matérias-primas, poluição, matriz energética problemática, por se basear muito em combustíveis fósseis etc - é um início. Outro aspecto: não se pode retardar ou renunciar ao combate à pobreza e à miséria em nome da "sustentabilidade" e do combate ao "aquecimento global".
É tranquilizador que o documento final da Rio+20 inclua a eliminação da miséria e da pobreza no processo de busca de um novo padrão de desenvolvimento. Não se trata de uma questão trivial, diante de apreensões em vários meios com a incorporação de centenas de milhões de eurasianos aos mercados de trabalho e consumo. A pergunta é instigante: o que acontecerá com o planeta se chineses, indianos e vizinhos buscarem um padrão de vida americano?
Evidente que não haverá recursos naturais suficientes para sustentar algumas centenas de milhões a mais na população mundial com aquele mesmo perfil de consumo. A constatação tem ressuscitado preocupações "malthusianas" , inspiradas no economista inglês Thomas Robert Malthus, dos séculos XVIII e XIX. Mas as previsões de graves crises de abastecimento devido à expansão demográfica não se confirmaram, pois o avanço da ciência e tecnologia superou gargalos na produção, seja na agricultura, na indústria ou em serviços.
Imaginar que, em algum momento, será preciso conter o crescimento econômico - com a perpetuação da pobreza e da miséria -, em nome da preservação do planeta, é incorrer no mesmo erro de Malthus.
A conclusão é muito ácida - sem trocadilho. É preciso relembrar que a Rio+20 não era um encontro sobre clima, mas acerca de algo muito maior, incluindo as variações atmosféricas. A ONU, com o Brasil à frente, por ser anfitrião, lançou-se a uma tarefa impossível de cumprir no período de debates em Nova York e nos poucos dias de conversações e discursos - estes, sem importância - no Riocentro: encontrar consensos para patrocinar uma gigantesca guinada planetária em busca de modelos de produção mais limpos - ou menos sujos -, que preservem recursos naturais finitos.
A definição de "economia sustentável" pode preencher o espaço de um pequeno verbete de enciclopédia ou cartapácios e gigabites em memórias de computador. Se é possível resumir, a Rio+20 teria de lançar as bases de uma reciclagem no sistema produtivo do tamanho da revolução industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII. Impossível, por óbvio. O que não significa deixar de ser necessário repensar o nosso sistema produtivo e de geração de energia.
Mas alguns passos foram dados. Admitir que há o problema - esgotamento de matérias-primas, poluição, matriz energética problemática, por se basear muito em combustíveis fósseis etc - é um início. Outro aspecto: não se pode retardar ou renunciar ao combate à pobreza e à miséria em nome da "sustentabilidade" e do combate ao "aquecimento global".
É tranquilizador que o documento final da Rio+20 inclua a eliminação da miséria e da pobreza no processo de busca de um novo padrão de desenvolvimento. Não se trata de uma questão trivial, diante de apreensões em vários meios com a incorporação de centenas de milhões de eurasianos aos mercados de trabalho e consumo. A pergunta é instigante: o que acontecerá com o planeta se chineses, indianos e vizinhos buscarem um padrão de vida americano?
Evidente que não haverá recursos naturais suficientes para sustentar algumas centenas de milhões a mais na população mundial com aquele mesmo perfil de consumo. A constatação tem ressuscitado preocupações "malthusianas" , inspiradas no economista inglês Thomas Robert Malthus, dos séculos XVIII e XIX. Mas as previsões de graves crises de abastecimento devido à expansão demográfica não se confirmaram, pois o avanço da ciência e tecnologia superou gargalos na produção, seja na agricultura, na indústria ou em serviços.
Imaginar que, em algum momento, será preciso conter o crescimento econômico - com a perpetuação da pobreza e da miséria -, em nome da preservação do planeta, é incorrer no mesmo erro de Malthus.