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sábado, junho 23, 2012
Retrocesso no Mercosul isola Brasil - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 23/06
Por conta da crise financeira internacional, as tentativas de se chegar a um acordo multilateral de liberalização do comércio exterior estancaram. O protecionismo até voltou a florescer em alguns países, o que significou um retrocesso em relação aos passos que haviam sido dados nas negociações globais em prol da liberalização. Mas, enquanto a Rodada Doha permanece "congelada", em âmbito regional é possível se observar o surgimento de novos blocos.
Esse parece ser o caso do acordo que vem sendo costurado por países da América Latina, como o Chile, a Colômbia, o Peru e o México. A chamada Aliança do Pacífico poderá ter a adesão do Panamá e da Costa Rica e promete ser mais que um tratado de livre comércio, chegando a ter características semelhantes à União Europeia, pois envolverá integração financeira, ajustes de legislação, intercâmbio dos sistemas de ensino, livre circulação de capitais e pessoas. O acordo vem caminhando com rapidez e contrasta com o que tem acontecido no Mercosul.
Devido a questões internas na Argentina, a união aduaneira no Cone Sul vem se deteriorando. Licenças prévias para importação de mercadorias brasileiras são exigidas, sem que haja um prazo definido pra a liberação. O resultado é que cresce o volume de mercadorias aguardando na fronteira ou na alfândega autorização para chegar ao destino. Os critérios para essa liberação se mostram subjetivos e sem racionalidade econômica, pois mesmo peças e componentes destinados a integrar equipamentos que serão exportados pela Argentina caem na lista de espera. Isso dá a medida da crise cambial no país vizinho.
Em resposta a essa burocracia, o Brasil tem ensaiado algum tipo de retaliação comercial, evidenciando ainda mais o retrocesso em relação às proposições originais do Mercosul.
Embora sejam os maiores mercados da América do Sul, a falta de entendimento entre Brasil e Argentina - causada por erros crassos de política econômica dos argentinos - afasta outros naturais pretendentes à participação no bloco. O Chile é um membro associado, e só não se torna integrante pleno porque, para se ajustar ao Mercosul, teria de dar passos atrás, elevando tarifas de importação. As nações que estão formando a Aliança do Pacífico precisariam fazer o mesmo.
Constituída a Aliança, o Mercosul é que precisaria se ajustar, e não o contrário, para que uma integração entre os dois blocos fosse possível.
Os termos da atual união aduaneira impedem que o Brasil negocie isoladamente novos acordos de livre comércio com outros países. Essa negociação só evolui se tiver anuência do bloco.
Enquanto isso, os vizinhos estão se mexendo e buscando alternativas, quando o natural seria uma aproximação com o Brasil, maior mercado do continente. Infelizmente, o Brasil foi contaminado pelas mazelas argentinas
Depois de tudo que se fez não faria sentido o Brasil abandonar o Mercosul. Mas também não é admissível que a união aduaneira, emperrada na burocracia e nas decisões políticas, se torne um obstáculo nas relações bilaterais do Brasil com os demais vizinhos.
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