O GLOBO - 22/06
A Grécia pode ter uma nova ajuda, mas não se sabe em que termos. O empréstimo para os bancos espanhóis já está aprovado, mas a Espanha terá sim que cumprir condições. Na próxima quarta-feira serão discutidas na Europa as primeiras propostas para a construção de uma união bancária, ou seja, um órgão supervisor supranacional para os bancos. Quem me disse tudo isso foi o presidente da União Europeia, José Manuel Durão Barroso.
No Brasil, para a Rio+20, Durão Barroso disse que a Europa considerou o texto pouco ambicioso, mas que o Brasil merece parabéns por ter conseguido um acordo e evitado o que houve em Copenhague, quando os chefes de Estado foram embora sem documento fechado:
- Queríamos objetivos de desenvolvimento sustentável quantificados e com data. E queríamos, da mesma forma que a África, uma agência global forte para cuidar do tema. De 92 até hoje demos um salto em termos de consciência ambiental. Hoje sabemos que o universo é infinito, mas nosso planeta não é.
Sobre a declaração do embaixador Luiz Alberto Figueiredo, de que só pode pedir mais ambição quem for ambicioso também em pôr dinheiro na mesa, ele disse que a região não se sente atingida:
- Não pode ser com a Europa que ele está falando. A Europa é o maior doador dos países da OCDE para os países em desenvolvimento. Nós concedemos 60% da ajuda. Estamos doando 8 bilhões, ou US$ 10 bilhões, para programas focalizados nos objetivos do Rio. É o maior doador, mesmo com a crise. Mais da metade dos recursos. Esta não é uma conferência para discutir doação, mas convocada para acertarmos os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Sobre a crise europeia, Durão Barroso disse que o caminho é mais união, e que o pedido de aprofundamento da integração não é apenas de europeus. Contou que na reunião do G-20 todos pediram isso, inclusive a presidente brasileira.
Um passo desse aprofundamento da Europa começará a ser dado na semana que vem, quando os ministros das Finanças vão analisar as primeiras propostas para uma união bancária:
- A supervisão bancária até hoje tem sido feita pelas autoridades nacionais, mas precisamos de uma autoridade que garanta estabilidade financeira dos sistemas bancários de todos os países. Já que temos união monetária, temos que ter uma união bancária. Essa autoridade de supervisão deve estar em nível superior às autoridades locais. Não digo que isso deva se aplicar a todas as instituições financeiras, mas sim aos bancos grandes que operam em vários países. Vamos apresentar na próxima quarta-feira algumas ideias sobre como realizar essa união bancária.
Mas o problema que se teme é o oposto: uma desintegração da Europa. Quando perguntei sobre isso, ele lembrou que o euro continua sendo a segunda moeda do mundo e que permanece forte. Lembrou que o dólar continua sendo financiado, apesar dos déficits americanos, porque é a moeda de reserva internacional. Mas que o quadro monetário tende a mudar no futuro, porque as grandes economias emergentes terão mais exposição e mais responsabilidade no contexto global. O atual sistema do mundo não reflete essas transformações.
Perguntei se o novo governo grego receberia, num gesto de boa vontade, uma ajuda extra. Ontem mesmo a Grécia pediu mais prazo para o cumprimento das metas fiscais. Ele explicou que o acordo da Grécia não é com a troica - Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI - mas sim com toda a zona do euro, e aprovado pelos governos e pelos parlamentos da Grécia e dos outros 16 países e pelo FMI. É muito difícil mudar o programa como está:
- Dito isto, eu posso acrescentar que há uma vontade dos países de fazer mais para ajudar a Grécia, principalmente em programas com vias ao crescimento. Podemos concordar, na Europa, com novas em medidas de apoio. Qual o formato, no entanto, não posso dizer.
A Espanha também será tema da próxima reunião da zona do euro:
- Não é verdade que não existam condições a serem cumpridas pela Espanha para receber os recursos. Na Europa, cada caso é um caso. O que é diferente na Espanha é que ela não pediu ajuda para o Estado espanhol, para o orçamento, como fez a Grécia. Pediu ajuda, mas pediu ajuda para os bancos. Uma ajuda de 100 bilhões, que já foi aprovada. A Espanha já está aplicando um programa fiscal apertado para redução do déficit e da dívida.
Ele acha que a questão europeia não tem sido bem entendida. É apontada como centro de desequilíbrios e uma região em decadência. Barroso acha que, pelo contrário, o desdobramento da crise mostra que um pequeno problema na Europa pode transformar-se num problema global:
- Queria lembrar coisas essenciais. Está havendo uma análise do problema europeu que é incorreta. A Europa é o maior destino dos investimentos estrangeiros, isso prova que o mundo confia em nós. E é o maior investidor nos Brics. Muito investimento que vem para o Brasil é europeu. Temos um comércio equilibrado, e isso significa que não estamos contribuindo para os desequilíbrios globais. Alguns dos problemas que temos foram causados por produtos financeiros pouco ortodoxos que nasceram nos EUA. Temos responsabilidades iguais. Por isso, disse na reunião do G-20 que não estávamos lá para receber lições.
No Brasil, para a Rio+20, Durão Barroso disse que a Europa considerou o texto pouco ambicioso, mas que o Brasil merece parabéns por ter conseguido um acordo e evitado o que houve em Copenhague, quando os chefes de Estado foram embora sem documento fechado:
- Queríamos objetivos de desenvolvimento sustentável quantificados e com data. E queríamos, da mesma forma que a África, uma agência global forte para cuidar do tema. De 92 até hoje demos um salto em termos de consciência ambiental. Hoje sabemos que o universo é infinito, mas nosso planeta não é.
Sobre a declaração do embaixador Luiz Alberto Figueiredo, de que só pode pedir mais ambição quem for ambicioso também em pôr dinheiro na mesa, ele disse que a região não se sente atingida:
- Não pode ser com a Europa que ele está falando. A Europa é o maior doador dos países da OCDE para os países em desenvolvimento. Nós concedemos 60% da ajuda. Estamos doando 8 bilhões, ou US$ 10 bilhões, para programas focalizados nos objetivos do Rio. É o maior doador, mesmo com a crise. Mais da metade dos recursos. Esta não é uma conferência para discutir doação, mas convocada para acertarmos os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Sobre a crise europeia, Durão Barroso disse que o caminho é mais união, e que o pedido de aprofundamento da integração não é apenas de europeus. Contou que na reunião do G-20 todos pediram isso, inclusive a presidente brasileira.
Um passo desse aprofundamento da Europa começará a ser dado na semana que vem, quando os ministros das Finanças vão analisar as primeiras propostas para uma união bancária:
- A supervisão bancária até hoje tem sido feita pelas autoridades nacionais, mas precisamos de uma autoridade que garanta estabilidade financeira dos sistemas bancários de todos os países. Já que temos união monetária, temos que ter uma união bancária. Essa autoridade de supervisão deve estar em nível superior às autoridades locais. Não digo que isso deva se aplicar a todas as instituições financeiras, mas sim aos bancos grandes que operam em vários países. Vamos apresentar na próxima quarta-feira algumas ideias sobre como realizar essa união bancária.
Mas o problema que se teme é o oposto: uma desintegração da Europa. Quando perguntei sobre isso, ele lembrou que o euro continua sendo a segunda moeda do mundo e que permanece forte. Lembrou que o dólar continua sendo financiado, apesar dos déficits americanos, porque é a moeda de reserva internacional. Mas que o quadro monetário tende a mudar no futuro, porque as grandes economias emergentes terão mais exposição e mais responsabilidade no contexto global. O atual sistema do mundo não reflete essas transformações.
Perguntei se o novo governo grego receberia, num gesto de boa vontade, uma ajuda extra. Ontem mesmo a Grécia pediu mais prazo para o cumprimento das metas fiscais. Ele explicou que o acordo da Grécia não é com a troica - Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI - mas sim com toda a zona do euro, e aprovado pelos governos e pelos parlamentos da Grécia e dos outros 16 países e pelo FMI. É muito difícil mudar o programa como está:
- Dito isto, eu posso acrescentar que há uma vontade dos países de fazer mais para ajudar a Grécia, principalmente em programas com vias ao crescimento. Podemos concordar, na Europa, com novas em medidas de apoio. Qual o formato, no entanto, não posso dizer.
A Espanha também será tema da próxima reunião da zona do euro:
- Não é verdade que não existam condições a serem cumpridas pela Espanha para receber os recursos. Na Europa, cada caso é um caso. O que é diferente na Espanha é que ela não pediu ajuda para o Estado espanhol, para o orçamento, como fez a Grécia. Pediu ajuda, mas pediu ajuda para os bancos. Uma ajuda de 100 bilhões, que já foi aprovada. A Espanha já está aplicando um programa fiscal apertado para redução do déficit e da dívida.
Ele acha que a questão europeia não tem sido bem entendida. É apontada como centro de desequilíbrios e uma região em decadência. Barroso acha que, pelo contrário, o desdobramento da crise mostra que um pequeno problema na Europa pode transformar-se num problema global:
- Queria lembrar coisas essenciais. Está havendo uma análise do problema europeu que é incorreta. A Europa é o maior destino dos investimentos estrangeiros, isso prova que o mundo confia em nós. E é o maior investidor nos Brics. Muito investimento que vem para o Brasil é europeu. Temos um comércio equilibrado, e isso significa que não estamos contribuindo para os desequilíbrios globais. Alguns dos problemas que temos foram causados por produtos financeiros pouco ortodoxos que nasceram nos EUA. Temos responsabilidades iguais. Por isso, disse na reunião do G-20 que não estávamos lá para receber lições.