Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 15, 2011

Uma enciclopédia de corrupção EDITORIAL O GLOBO



- 15/09/11

Pedro Novais amplia a lista de defenestrados no governo Dilma Rousseff envoltos em suspeições. São quatro em menos de nove meses de gestão, talvez um recorde na modalidade. Antonio Palocci, indicado por Lula para ser homem forte no Planalto, a partir da Casa Civil, optou por manter em sigilo a lista de empresas às quais prestou consultoria. Teve de sair. Já rastros explícitos de corrupção foram deixados na queda do segundo ministro, Alfredo Nascimento (PR-AM), dono da Pasta dos Transportes, doada a ele e ao partido pelo esquema fisiológico de montagem de governo adotado pelo lulopetismo. Tudo em nome da "governabilidade" - inclusive o mensalão. Depois, veio o peemedebista, como Novais, Wagner Rossi, apeado da Agricultura também pela repercussão do noticiário sobre atos desabonadores do político paulista.
Dilma, ex-mãe do PAC, já devia saber das causas da inflação de custos nos projetos tocados pelos Transportes (Valec incluída), analisados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit), convertido em sinônimo de superfaturamento e caixa dois partidário. Não demorou a executar o que talvez quisesse ter feito quando era ministra-chefe da Casa Civil de Lula. Fez um jogo de cena ao oferecer o cargo de Nascimento a Blairo Maggi (PR-MT), protetor de Luiz Pagot (Dnit), e ungiu ministro quem queria, Paulo Sérgio Passos, do partido, mas sem ligações viscerais com a legenda. Tanto que foi formalmente anunciado que não representa o PR no governo. É bom cartão de visitas.
Com Pedro Novais (PMDB-MA) há uma enciclopédia de corrupção. Não apenas praticada por ele, mas por esquemas que atuam no ministério e, pelo visto, há razoável tempo. Se irão sobreviver à crise, o tempo dirá. Novais, assim como Nascimento e Rossi, era parte do pacote embalado no fisiologismo e despachado por Lula para o governo Dilma. A nomeação do maranhense é exemplar dos valores que pesam quando se monta uma equipe de governo em função do toma lá dá cá. Para tratar do turismo - setor vital num momento em que o país se prepara para sediar grandes eventos esportivos - foi designado alguém sem qualquer experiência na atividade. Pesaram apenas ser Morais do PMDB maranhense e a indicação de José Sarney (PMDB-AP).
O secretário executivo de Novais, Frederico Silva da Costa, foi um dos 33 presos na Operação Voucher, da Polícia Federal, montada para desbaratar um esquema de desvio de emenda parlamentar para pelo menos uma ONG de fachada no Amapá. A autora da emenda, deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), pode vir a ser denunciada pelo MP federal ao Supremo. Novais se sustentou, pois a organização de estelionatários vinha do governo Lula. Mas não resistiu à revelação, feita pela "Folha de S.Paulo", de que, de 2003 ao ano passado, pagara salário de uma empregada doméstica com dinheiro público. Típico de quem confunde dinheiro do contribuinte com o dele. No dia seguinte, ontem, um tiro de misericórdia: o jornal estampou foto da mulher do ministro, Maria Helena de Melo, indo às compras num carro conduzido por um funcionário público. Outro exercício indesmentível de patrimonialismo.
Ocioso discutir se a queda de Novais é "faxina" ou "política de constante combate à corrupção". Ganha a República. Mas é preciso esperar os desdobramentos. Afinal, o Turismo deve continuar a ser uma fazenda de porteira fechada cujo capataz é o PMDB.

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