Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 04, 2011

Piorou por quê? Celso Ming

- O Estado de S.Paulo
O que é, afinal, a "substancial deterioração" da economia mundial a
que o Copom se referiu e que tanta gente vem lamentando?

Há, sim, uma piora notável no desempenho da produção dos países ricos;
há o aumento do desemprego e uma impressionante degradação das
condições fiscais, consubstanciadas na elevação do endividamento e na
incapacidade dos Estados de honrar compromissos financeiros (veja
tabela).

Complica tudo a falta de disposição dos grandes bancos de seguir com a
rolagem da dívida pública do Primeiro Mundo. Não é, como tanta gente
pensa, que os banqueiros estejam especulando com títulos públicos. O
problema não é tão simples. É que a deterioração da qualidade das
dívidas - cada vez mais próximas de um calote - impede que os bancos
continuem suas operações de empréstimo. As instituições financeiras
europeias, por exemplo, estão sobrecarregadas com centenas de bilhões
de títulos dos países do euro e não podem aumentar sua exposição a
esse risco.

Mas há novidades nunca dantes imaginadas. Já não são apenas títulos da
periferia do euro, como os da Grécia, de Portugal e da Irlanda, cuja
credibilidade vem sendo colocada em dúvida. As ameaças saltaram para o
nível imediatamente acima: Espanha, Itália e França.

Pela primeira vez em mais de cem anos, os títulos de dívida do Tesouro
dos Estados Unidos, considerados até aqui como referência (benchmark),
foram rebaixados por uma agência de classificação de risco, a Standard
& Poor"s. O mesmo acaba de acontecer com o Japão.

Os juros globais estão se arrastando. Isso significa que há uma sobra
enorme de recursos no mundo, sem que haja ameaça de inflação, porque a
atividade econômica esta paralisada e porque, altamente endividado, o
consumidor também não se atreve a levantar mais empréstimos. Ao
contrário, diferentemente do que se imaginava há alguns meses, a
tendência está mais para deflação do que para inflação.

Enquanto isso, há muito que os grandes bancos centrais operam no
limite da irresponsabilidade. Tanto o Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos) como o Banco Central Europeu (BCE)
incharam seus balanços com compras de títulos. Em tempos normais, essa
seria prática condenada na administração da política monetária porque,
em última análise, fornece moeda emitida para dar cobertura a despesas
públicas. Funciona como se o governo pagasse suas contas com impressão
de moeda. No entanto, os administradores dos grandes bancos centrais
vêm dizendo que seu primeiro dever é salvar a economia, mesmo que,
para isso, lancem mão de truques heterodoxos.

Outro passo de enorme ousadia foi tomado no dia 9 de agosto, quando o
Fed se compromissou a não elevar os juros básicos (Fed funds), hoje
perto de zero por cento, "pelo menos até meados de 2013". Não é o tipo
da decisão que um grande banco central está acostumado anunciar.

Pior que tudo, as coisas não avançam. Nem o governo americano consegue
apoio político para equacionar suas contas públicas nem as autoridades
da área do euro conseguem consenso para controlar os orçamentos e um
mínimo de unidade política para salvar o bloco.


CONFIRA

Respeite as vacas

O leitor François Regis Guillaumon, presidente do Sindicato das
Cooperativas Agropecuárias do Estado de São Paulo, ficou desapontado
com observação feita na coluna de quinta-feira que, para ele,
desdenhou dos criadores e das vacas leiteiras.

A frase de que ele não gostou foi a seguinte: "Cana-de-açúcar não é
vaca leiteira, que bebe água hoje e produz leite amanhã".

Guillaumon pergunta: "Você sabe quanto tempo demora para se criar uma
vaca? Nove meses de gestação, mais 30 de criatório e outros 9 de
gestação - somente para começar a primeira lactação. E aí, haja comida
para ter uma produção boa e não é só água".

Sergio Pedreira, de Arceburgo, Minas Gerais, também mandou mensagem
quase nos mesmos termos. A Coluna reconhece que foi um tanto injusta
com as vaquinhas, mas avisa que não pretendeu mais do que criticar o
imediatismo do governo no setor do etanol.

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