Ela agora se mantém numa equidistância prudente entre o que quer a sociedade e o que querem seus aliados, tentando um equilíbrio difícil entre a realidade política e o anseio dos eleitores.
Na entrevista que deu a Patrícia Poeta no "Fantástico" domingo, a presidente voltou a exibir alguns comportamentos que outrora já lhe trouxeram problemas, como o hábito de se dirigir à repórter com um "minha filha" no início da resposta, revelando toda a sua contrariedade.
E, quando questionada sobre o "toma lá dá cá" que rege sua relação com os partidos aliados, a presidente mostrou-se irritada com a pergunta, para logo depois, talvez sentindo que voltara a ser a Dilma dos velhos tempos, amenizar o ambiente dizendo que estava brincando com a repórter.
De qualquer maneira, do seu ponto de vista, a resposta nervosa foi um ponto positivo, já que não foi contestada pela repórter, a ponto de arrancar risadas dos assessores que assistiam à gravação.
Ao pedir um exemplo de "toma lá" para explicar o "dá cá", a presidente poderia ter ouvido o que não queria, como referências aos escândalos do PR no Ministério dos Transportes, o que a obrigaria a dizer que reagiu com a demissão generalizada na área.
Como está em fase de acalmar a base aliada, a presidente garantiu que não deu "nada a ninguém" que não quisesse.
"Nós montamos um governo de composição", explicou, adotando mais uma vez, mesmo que indiretamente, a tese de que a governabilidade depende das concessões que o Executivo venha a fazer para sua base congressual.
A presidente Dilma enfatizou que é preciso cuidado para não "demonizar a política" no Brasil, e garantiu que não é refém. "Tem que ter muito cuidado no Brasil para a gente não demonizar a política", advertiu a presidente.
Desse ponto de vista, ela tem toda a razão, mas o que seria preciso - e ela parecia estar disposta a isto - é separar o joio do trigo, e governar com o trigo.
Assim como não é possível partir do pressuposto de que "todo político é ruim", também não é possível aceitar que todos os políticos são virtuosos, e que qualquer um pode fazer parte de um governo que se queira sério e honesto.
Um dos mais graves erros que ela cometeu foi deixar que cada partido indicasse o seu ministro, transferindo para as bancadas e as direções partidárias a composição de seu Ministério, como se todos fossem iguais.
Com relação à "faxina", ela até encontrou uma boa saída ao dizer que faxina tem hora de acabar, e o combate à corrupção é uma tarefa permanente.
Com isso, abriu mão do compromisso com o prosseguimento da "faxina" para assumir um compromisso de "tornar cada vez mais difícil" a corrupção, o que não é muito diferente do que a sociedade deseja, só menos dramático ou popular.
Mas é preciso que novas medidas sejam tomadas para que não fique no ar a suspeita de que, com essa troca de palavras, a presidente também trocou seu compromisso por conveniências políticas.
No resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que constatou como o ensino público do país está deficiente, um resultado é de se destacar: entre as dez melhores escolas do país aparecem duas, privadas, do Piauí, um dos estados com menor Índice de Desenvolvimento Humano.
Em terceiro lugar, o Instituto Dom Barreto, e, em sétimo, o Educandário Santa Maria Goretti.
Ao mesmo tempo, entre as dez piores escolas do país está a Escola Pública Unidade Escolar José Patrício Franco, também do Piauí.
Só isso indica que a qualidade do ensino não depende apenas de investimento de dinheiro, mas de dedicação e seriedade.
Na coluna de sexta-feira intitulada "O passado cobra", na tentativa de tornar mais acessível a leitura, usei indevidamente uma linguagem leiga e informal para abordar o processo do mensalão que está no Supremo Tribunal Federal.
Por isso, cometi impropriedades que foram apontadas por diversos leitores, uns mais educadamente, outros menos, mas todos com razão.
A certa altura, por exemplo, escrevi que "dificilmente" o Supremo atenderia aos pedidos do publicitário Marcos Valério e do deputado cassado Roberto Jefferson de inclusão do ex-presidente Lula no processo, tarefa que não cabe ao Supremo, e sim ao Ministério Público.
Da mesma maneira, escrevi que o hoje deputado federal Eduardo Azeredo foi "incluído" pelo Supremo no processo do mensalão mineiro, quando na verdade ele foi denunciado pelo procurador-geral da República.
Continuo, porém, registrando a estranheza pelo fato de que, sendo os mesmos o procurador-geral da República que fez a denúncia dos dois mensalões e o relator dos dois processos, o ministro Joaquim Barbosa, que tenham sido tomadas decisões distintas para casos semelhantes, com o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo tendo sido incluído como réu no processo, e o ex-presidente Lula não sendo mencionado.