Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 06, 2011

Em setembro MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/09/11

No governo se temia o mês de setembro, mais do que agosto, que tem fama de período difícil. Por um motivo: os diretores das grandes instituições financeiras internacionais, administradores dos fundos de investimentos e hedge funds retornam das férias e reformulam suas carteiras diante dos novos eventos. A frase que ouvi em Brasília: "Em setembro, as bruxas voltam."

Ontem, nessa retomada do mercado financeiro internacional depois das férias de agosto, o que houve foi queda geral das bolsas e mais uma rodada de boatos, desta vez sobre a Itália estar para ser rebaixada, enquanto o país começava a debater o pacote de austeridade. Há fatos que deixam o mundo com a respiração presa, como os que vão acontecer na Alemanha. Amanhã, dia 7, a Corte alemã votará a legalidade do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e, no fim do mês, o Parlamento alemão votará a ampliação do poder desse Fundo. Qualquer um dos dois fatos, mas principalmente o de amanhã, pode detonar uma crise de confiança em relação ao euro.

É exatamente esse cenário de incerteza que o Banco Central mostrou que temia ao tomar a decisão de baixar os juros. A convicção demonstrada é a de que esses tremores no mundo derrubariam a atividade e, portanto, a inflação no Brasil. A atividade está de fato cada vez mais fraca, mas não a inflação, como se pode ver no gráfico abaixo, que mostra a evolução das previsões das 100 instituições financeiras e consultorias pesquisadas semanalmente pelo Banco Central sobre o ano de 2011.

Na primeira pesquisa divulgada pelo Banco Central no mês de setembro o que se vê é a mesma divergência desagradável: a inflação está com tendência de alta neste ano e no próximo; e o crescimento, com tendência de queda. É só uma pesquisa feita pelo BC e as expectativas podem mudar, mas por enquanto o resultado é exatamente aquela mistura que ninguém quer, de menor crescimento e mais alta de preços.

O que está subindo neste momento é a expectativa de inflação ao fim do ano, porque a inflação, em si, vai cair no acumulado de 12 meses dos 7% atuais para um nível menor. Por enquanto, o mercado ainda prevê que fique dentro do espaço de flutuação do sistema de metas: 6,38% no final do ano. Isso, porque o último trimestre de 2011 tem chance de ser melhor do que o final de 2010. Mas um relatório da MB Associados mostra que a lista de alta de alguns produtos assusta: açúcar está com 35% de alta nos últimos 12 meses; álcool anidro, 43,6%; hidratado, 49%; café arábica, 60%; milho, 39%. Alguns desses produtos estão com problemas temporários, outros enfrentaram quebras de safra, como o álcool e o milho. As lavouras americanas de milho e soja estão com problemas ou por excesso de chuvas ou pela seca. Isso eleva também o preço da ração, que afeta o custo de produção da carne, segundo Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.

Outra lista de preços feita pelo economista Sérgio Vale, no Comentário de Conjuntura da MB, é a que mostra como o problema dos serviços está grave. Aluguel, cinema, estacionamento, médico estão com altas acima de 10% nos últimos 12 meses. Serviço bancário, 12%; hotel, 13,2%; mudança, 16% de alta, no mesmo período.

Apesar dessa alta de preços, a previsão de crescimento está em queda a cada nova pesquisa do Banco Central. Hoje, a expectativa é de menos de 4% para 2011 e 2012. Mesmo assim, a projeção é de juros em queda, porque a convicção geral é de que o BC vai continuar o movimento que começou na semana passada.

Uma análise feita pelo economista João Pedro Resende, do Itaú BBA, mostrou que dos países da região com o regime de metas de inflação - Chile, México, Colômbia e Peru - o Brasil está com a maior taxa. Peru está acima do teto da meta, mas é porque lá é de 2% e eles estão com 3,4%. O México está com inflação de 3,55%, a Colômbia está com 3,4%. O Chile tem meta de 3% e está com 2,9%. Por outro lado, todos eles têm taxas de juros bem mais baixas do que o Brasil: México e Colômbia, 4,5%; Chile, 5,25%; e Peru, 4,25%. O Brasil com seus 12% realmente parece um ponto fora da curva. Tudo o que resta é torcer para que o mês não seja tão conturbado quanto começou.

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