O Estado de S.Paulo
O governo confirmou mais uma vez sua opção pela gastança improdutiva, em prejuízo da competitividade, do crescimento industrial e de um desempenho econômico semelhante ao dos emergentes mais dinâmicos. A política industrial anunciada pela presidente Dilma Rousseff nem chega a ser um blefe. A medida aparentemente mais audaciosa, a desoneração da folha de salários, será apenas um teste aplicado a quatro setores - confecções, calçados, móveis e software - até dezembro do próximo ano. Dirigentes dessas indústrias podem até aplaudir o governo, porque devem receber uma ajuda para sair do sufoco. Os da indústria automobilística também deverão ficar satisfeitos, se o prometido regime automotivo reeditar os velhos acordos setoriais, financiados por muitos para vantagem de algumas empresas e algumas categorias profissionais. Mas os novos benefícios ainda estão em estudo, segundo informação divulgada no site da Presidência da República. Também esse detalhe mostra como foi preparado o pacotinho.
Prometida há meses, a política industrial só foi lançada nesta terça-feira porque a presidente Dilma Rousseff insistiu em evitar um novo adiamento. Inventou-se um nome, "Plano Brasil Maior", e improvisaram-se algumas medidas mal ajambradas.
Ainda faltava acordo, obviamente, sobre a desoneração da folha de pagamento. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, falou muitas vezes sobre o assunto, desde os primeiros meses do governo, mas os ministros envolvidos no debate nunca formularam completamente a mudança. Há poucos dias o ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, ainda se mostrou preocupado com a perspectiva de perder arrecadação. Nesta terça, no entanto, ele se declarou tranquilo, diante da promessa do ministro da Fazenda de cobrir qualquer diferença. Qual a perda prevista? Não está calculada, segundo Garibaldi Alves Filho. De qualquer forma, ele cochilou na cerimônia.
A desoneração tributária custará R$ 25 bilhões em dois anos, informou o Ministério do Desenvolvimento. É um cálculo estranho, tanto pelo prazo quanto pelo valor, porque parte das medidas ainda nem foi definida. Até a palavra "desoneração" é obscura, porque parte dos benefícios prometidos vai depender simplesmente do cumprimento de obrigações já assumidas pelo governo - como o pagamento de créditos fiscais acumulados em vários anos pelas empresas. Os créditos em atraso são estimados em cerca de R$ 25 bilhões, mas falta saber se esse dinheiro será restituído nos próximos dois anos. A isso será preciso somar o corte das contribuições previdenciárias dos setores selecionados e outras vantagens menores incluídas no pacote. O Tesouro terá de passar US$ 1,3 bilhão por ano à Previdência, segundo o ministro Pimentel.
Se o governo cumprir todas as promessas, terá alguma dificuldade para alcançar a meta fiscal do próximo ano - especialmente se a economia brasileira perder impulso por causa do quadro internacional. As limitações fiscais obviamente explicam a timidez da impropriamente chamada nova política industrial. Mas essas limitações decorrem da vocação do governo para a gastança e da rigidez do Orçamento federal, um problema cada vez mais grave. A arrecadação continua crescendo em ritmo acelerado. De janeiro a junho foi 20,3% maior do que um ano antes, em termos nominais. Mas a despesa continua a elevar-se muito mais que a quantidade e a qualidade dos serviços.
A rigidez do Orçamento e a incompetência na gestão federal - mais uma vez comprovada pela execução deficiente das obras da Copa - são os principais obstáculos a uma política efetiva de competitividade. Empresários voltam da China encantados com os investimentos em infraestrutura, mas são incapazes de pressionar o governo para ser mais eficiente no gasto, na mobilização de capitais privados e no combate à corrupção (a bandalheira nos Transportes, por exemplo, atrapalha a competitividade).
A política monetária, alvo preferencial dos empresários, foi insuficiente, até agora, para esfriar a demanda. Não basta olhar só para a desaceleração da indústria. A produção nacional perdeu impulso, mas a importação continuou crescendo. De janeiro a junho (último dado), a indústria de bens intermediários produziu 1,2% mais que no primeiro semestre de 2010. A de bens de consumo, 0,6% mais. De janeiro a julho, o País gastou 24,9% mais que um ano antes com a importação de matérias-primas e bens intermediários e 31,9% mais com as compras de bens de consumo. Câmbio é importante, mas é só uma parte do problema. Quanto aos juros, estão vinculados à questão fiscal. Além disso, o desajuste cambial aumentará, se o combate à inflação for relaxado e se ampliar o descompasso entre preços internos e externos.
Não se faz política de competitividade com meia dúzia de remendos e um pouco mais de proteção. O assunto é mais sério e uma resposta eficiente depende, em primeiro lugar, de um compromisso mais firme do governo com a seriedade.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
agosto
(223)
- Três espantos - Míriam Leitão
- Muita sede ao pote Dora Kramer
- Agora nem confissão condena malfeitor José Nêumanne
- Cafezinhos e parábolas Roberto Damatta
- Embromação 29 Rolf Kuntz
- Falta de respeito Merval Pereira
- A hora dos juros Celso Ming
- Boa promessa MÍRIAM LEITÃO
- Governo poupa a loteria federal VINICIUS TORRES FR...
- É o novo mix Celso Ming
- Ilegal legitimado Dora Kramer
- A jabuticaba explicada Merval Pereira
- Bom, bonito... e barato? Adriano Pires
- Dize-me com quem andas Paulo Brossard
- Nova liderança no etanol EDITORIAL O ESTADO DE SÃ...
- Democracia e moralidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- Não tem nada de mais CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Adeus à faxineira RICARDO NOBLAT
- Não em nome do Brasil JOSÉ SERRA
- A sustentável leveza dos setentões GAUDÊNCIO TORQUATO
- Noivas em fuga MÍRIAM LEITÃO
- A César o que é de César SERGIO AUGUSTO
- Um programa de oposição radical VINÍCIUS TORRES F...
- Uma experiência radical FERREIRA GULLAR
- Jabuticaba eleitoral MERVAL PEREIRA
- Certos momentos DANUZA LEÃO
- Eles adiam o que a gente faz ALBERTO TAMER
- As voltas que o mundo dá SUELY CALDAS
- Arrumar sótãos e porões LYA LUFT
- Paixão oficial J. R. GUZZO
- O Poderoso Chefão REVISTA VEJA
- A classe média ganha força Celso Ming
- Pé na estrada Dora Kramer
- O problema Perry de Bernanke PAUL KRUGMAN
- A classe média ganha força CELSO MING
- Um erro perigoso MÍRIAM LEITÃO
- A presidente Dilma e o governo-conluio RUBENS FIGU...
- Distorções MERVAL PEREIRA
- Uma mão suja outra Dora Kramer -
- A nova Líbia MÍRIAM LEITÃO
- Faxina agrária XICO GRAZIANO
- Nova postura CELSO MING
- Mais do mesmo MERVAL PEREIRA
- De gestora a faxineira MARCO ANTONIO VILLA
- Ainda não é o fim do capitalismo ANTONIO DELFIM NETTO
- O voo do oligarca FERNANDO DE BARROS E SILVA
- De pipoca e refrigerante ALON FEUERWERKE
- A diversificada tecnologia da corrupção EDITORIAL ...
- Fruta de entressafra Dora Kramer
- O que houve? - Paulo Brossard
- Os sem-iPad LUIZ FELIPE PONDÉ
- Radiografia da corrupção CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- O dilema de Dilma EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O herói e o antagonista-Ruy Fabiano
- Entrevista - Jarbas Vasconcelos:
- Sólido e vulnerável MÍRIAM LEITÃO
- O papel de Dilma MERVAL PEREIRA
- Em time que está ganhando... FERREIRA GULLAR
- Acelera, Dilma DANUZA LEÃO
- Gritos e sussurros na economia VINICIUS TORRES FREIRE
- Jogo de cena FERNANDO DE BARROS E SILVA
- O éden ao lado do inferno Gaudêncio Torquato
- Percepções do Brasil no mundo Celso Lafer
- Dedicação exclusiva a - O Estado de S.Paulo Editorial
- Receita de ex-presidente Ruy Fabiano
- Isso não vai dar muito certo João Ubaldo Ribeiro
- O modelo precisa mudar Suely Caldas
- Brasil pronto para o pior Alberto Tamer
- Remédio duvidoso Celso Ming
- Sem pai nem mãe Dora Kramer
- Economia dita tom político João Bosco Rabello -
- A crise de 2011 é a mais grave de todas LUIZ FELIP...
- Maré vermelha MÍRIAM LEITÃO
- Solução distante CELSO MING
- Seremos algum dia japoneses? RUTH DE AQUINO
- Agricultura tropical e saúde KÁTIA ABREU
- Mobilização MERVAL PEREIRA
- O Planalto, a PF e as prisões escandalosas FÁBIO T...
- Dilmuska FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Crise, comida, ferro e petróleo VINICIUS TORRES FR...
- Copa do Mundo, entre laranjas e ONGs FERNANDO GABE...
- Apoios à faxina MERVAL PEREIRA
- Modo crise MÍRIAM LEITÃO
- Para valer? LUIZ GARCIA
- Quem demitiu o ministro? O Estado de S. Paulo-Edit...
- Um toque de pudor Dora Kramer
- Treme-treme Celso Ming
- Turismo de mosca é no lixo Nelson Motta
- A fantasia de ver a crise como solução Rogério L. ...
- ''Corrupção atinge níveis inimagináveis'', dizem d...
- EUA e a crise ANTONIO DELFIM NETTO
- Dilma, a diarista, e sua vassoura VINICIUS TORRES ...
- Verdadeira ameaça MÍRIAM LEITÃO
- Para que trocar o ladrão descoberto pelo incerto? ...
- Sem expectativa Merval Pereira
- Prova dos nove - Dora Kramer
- Pragas da política Rolf Kuntz
- Eurogovernança Celso Ming
- De cabeça para baixo Roberto Damatta
- Os erros argentinos MÍRIAM LEITÃO
-
▼
agosto
(223)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA