O Estado de S.Paulo
Um sentimento de alívio foi o que experimentaram os franceses, os alemães e os povos do mundo inteiro, depois do acordo acrobático conseguido pelo presidente americano, Barack Obama, para elevar o teto do endividamento do país. Aliás, este é o segundo, porque, há poucos dias, foi a Europa que, evitando a falência da Grécia (e do euro), tranquilizou o mundo todo com um acordo igualmente acrobático.
Resta ver se esse alívio não será frágil, tanto num caso como no outro. Eu acho que, tanto no caso da Grécia quanto no do dólar, os políticos conseguiram ganhar tempo, aliás pagando em moeda forte, na realidade, sem pagá-lo. Ocorre que a especialidade do tempo é não se dissolver ou esquecer. Um dia, ele voltará a pressionar e então será preciso pagar em dinheiro.
Um dos principais economistas franceses, Nicolas Baverez, escreve no jornal Le Monde: "Três anos depois do verão assassino que levou à falência o Lehman Brothers, a economia mundial corre rumo a um novo colapso".
Por que tanto pessimismo? Porque Obama não conseguiu o consenso em torno de medidas orçamentárias imprescindíveis? Porque os Estados Unidos, em razão de sua posição no cenário mundial, não podem cortar seus gastos monstruosos? É isso mesmo. E, principalmente, a dívida da primeira economia mundial continua colossal - US$ 14,3 trilhões.
Ela não poderá ser apagada de um golpe porque a recuperação é muito fraca: apenas 1,3% no segundo trimestre em ritmo anualizado. Este ano, o crescimento deveria chegar a 3,5%.
Hoje, sabemos que será de apenas 2,5%, talvez até 2%.
É o mesmo diagnóstico que está contido na resposta da Europa à crise grega.
Os europeus despejaram um rio de euros na Grécia, o que não propiciará nem a volta ao crescimento do país nem solucionará o problema financeiro do alívio da dívida grega, que hoje é de 50% e deverá chegar a 75% do Produto Interno Bruto. O pior é que nada foi feito para impedir que a "desgraça" grega contagie a "felicidade" europeia.
Sem mencionar os estropiados (Espanha, Portugal, Irlanda, e amanhã quem sabe a Itália), vejamos um dos países "fortes" da Europa, a França.
Este país forte é um país fraco. O Palácio do Eliseu acredita que o verão será horrível. As previsões foram exageradas de maneira insensata. Para o próximo ano, Paris espera um crescimento de 2,25%.
"Absolutamente", replicam o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia, "Em 2012, o crescimento não ultrapassará 1,9% a 2,1%."
Portanto, como sair dessa situação, quando cada vez que conseguimos fechar um fosso, somos obrigados a cavar outro, um pouco mais profundo para que isso seja possível?
Por exemplo: no momento em que a França alardeia que cortará drasticamente os seus gastos, ela é obrigada a rever seu orçamento de modo a acrescentar à sua dívida já imensa os 15 bilhões que a Grécia custou a Paris.
Felizmente, na Europa há um ponto luminoso e até mesmo brilhante: a Alemanha, que se destaca entre todos os outros membros. O crescimento alemão foi muito elevado (em se tratando de um país rico) já em 2010, quando chegou a 3,6%. Hoje é mais ou menos certo que, em 2011, o crescimento será pelo menos igual a esses 3,6%. No primeiro trimestre, o faturamento da Volkswagen aumentou 25%. O setor metalúrgico criará 80 mil empregos. O desemprego está em queda. O déficit público é inferior a 3% do Produto Interno Bruto.
Muito bem. Mas esse extraordinário dinamismo alemão (que se explica um pouco pela ação do governo Merkel, mas muito, realmente muito, pelo gênio e pelo trabalho alemães) constitui mais um ponto fraco para o euro.
A "doença infantil do euro" está no fato de que a moeda reúne economias trôpegas e economias poderosas. A Alemanha acentua ainda mais essa diferença entre os ricos e os pobres, entre os membros vigilantes e os adormecidos da união monetária. A União Europeia só poderá sobreviver a reboque da dupla franco-alemã. Ocorre que agora a parelha não é mais tão vigorosa: um dos dois cavalos corre como o vento, enquanto o outro, o francês, está com a língua de fora, com o risco de fazer virar a carroça e de fazê-la cair num barranco. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
Entrevista:O Estado inteligente
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