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terça-feira, agosto 16, 2011
Os erros argentinos MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 16/08/11
O que acontece na Argentina é impensável no Brasil. Um governante que elevasse a inflação a 27% e ainda manipulasse o índice, certamente, não se reelegeria. A presidente Cristina Kirchner está sendo favorecida pelo crescimento econômico, pela viuvez - a imagem do marido morto é usada como parte da propaganda - e pela fragmentação da oposição.
Oficialmente, a inflação ficou em 10,9% em 2010, mas todos sabem que é um número fabricado no Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec), que tem estado sob intervenção da Casa Rosada há cinco anos.
Lá, não há tradição de institutos privados com boa reputação, como temos aqui a FGV e a Fipe. Os bancos e consultorias fazem cálculos que estão em torno de 25%. A previsão do Itaú é de que este ano a inflação será de 27%, caminhando para 30% e 35% nos próximos dois anos. Isso, apesar da queda do dinamismo econômico. O país deve crescer 6% este ano, menos do que os 9% do ano passado, mas reduzirá o ritmo para 3,5% e 3% nos próximos dois anos.
Por enquanto, o crescimento forte está retirando um pouco do desconforto econômico que a inflação produz. As categorias mais fortes estão conseguindo reajustes salariais de 30%. O poder de consumo tem se mantido, mas os desequilíbrios estão aumentando. Os argentinos estão mostrando que são mais lenientes com a inflação. Brasileiros e argentinos sofreram diante do mesmo inimigo, mas os brasileiros aprenderam. Aqui, seria inimaginável uma intervenção no IBGE para manipular o índice; e governo, empresas e famílias estão preocupados com a taxa de inflação, que está em 6,7%.
O Kirchnerismo estava com baixa popularidade quando o ex-presidente Nestor Kirchner morreu. As dificuldades de relacionamento com a Confederación General del Trabajo (CGT), de Hugo Moyano, eram cada vez maiores. A partir da viuvez, no entanto, Cristina recuperou fortemente sua popularidade. Manteve luto fechado, cercou-se dos dois filhos que lideram o movimento da juventude peronista e manteve sob controle os conflitos com o velho sindicalismo peronista, usando, entre outras coisas, o controle que o governo tem sobre o Judiciário. Moyano é acusado em alguns processos.
As primárias deste fim de semana foram uma eleição de fato. A amostra reproduz o eleitorado. Em outubro, haverá uma confirmação do resultado, porque ficou claro que há enorme distância entre a presidente e a oposição. Na comemoração, Cristina disse que a vitória era "dele", e os eleitores responderam que "ele"estava ali.
Em 1973, Héctor Cámpora foi eleito presidente com o lema Cámpora al gobierno, Perón al poder. O voto em Cámpora representava um voto "nele". No caso, ele era o próprio Juan Domingo Perón, que, muito vivo, quis exercer diretamente o poder. O governo Cámpora, que mobilizou a juventude daquela época, a geração de Cristina, durou 60 dias. Cumpriu seu papel de ser apenas uma ponte para a volta de Perón. O fim de tudo foi trágico, como se sabe. Por mais que os argentinos explorem na política a mística dos mortos, os vivos é que governam. Perón criou uma corrente política, um partido, mas o kirchnerismo é apenas uma facção desse partido.
A partir da morte de Kirchner, o que começou, de fato, foi o governo Cristina Fernandez. Ela usa de forma indisfarçável a imagem do marido na política. Quando vivo, era fonte de atritos; morto, tem sido santificado. A presidente aprofundou algumas escolhas perigosas que haviam sido feitas pelo casal: aumento de gastos para manter o país crescendo em qualquer conjuntura, uso das reservas para pagamento de dívidas, estatização dos fundos de pensão, e também protecionismo para agradar à indústria.
Esse crescimento turbinado e inflacionado tem fôlego curto e os primeiros anos do próximo governo serão difíceis, como disse ontem aqui neste jornal o jornalista argentino Joaquim Morales Solá.
Uma das decisões mais perigosas foi a de usar os recursos dos fundos de pensão, tanto de empresas públicas, quanto de empresas privadas, como se fossem recursos do governo. É uma bomba de efeito retardado. A Argentina tem feito escolhas insensatas do ponto de vista econômico.
A oposição se fragmentou, facilitando a vida de Cristina. Como o processo eleitoral é do voto em lista, abrir mão agora de concorrer para apoiar outro candidato seria abrir mão das candidaturas para o Parlamento também.
Cristina Kirchner se preparou para ter maior poder, ao usar as listas em cada província. Os governadores foram chamados ao palácio de governo e lá receberam os nomes dos candidatos na ordem que ela queria. Os primeiros lugares na lista do vencedor são garantia de mandato, nesse sistema que fortalece os caciques partidários.
Cristina usou esse poder para pôr nas cabeças das listas provinciais jovens militantes do movimento "La Campora", comandado por seus filhos Máximo e Florencia. Isso dará a ela mais controle do Congresso, mas mais distanciamento das lideranças tradicionais do partido.
Outro fator que impulsiona o bom momento econômico, o Brasil conhece bem: é o boom das commodities.
A Argentina é a terceira maior exportadora de soja, grande exportadora de milho, trigo e carnes. A seca provocou uma quebra de 10% na safra de soja, mas isso foi compensado pela alta dos preços.
Enquanto o país cresce, o governo vai elidindo seus problemas fiscais ou com a inflação ou com decisões como a estatização dos fundos de pensão. Os ricos repetem o que fizeram em outros surtos inflacionários: poupam em dólar em contas no Uruguai ou nas Bahamas.
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