Folha de S Paulo
'Políticos' e economistas do governo divergem sobre gastos; BC e mercado não se entendem sobre a inflação
A EQUIPE ECONÔMICA de Dilma Rousseff parece decidida a economizar em 2012 tanto como em 2011. Ou seja, fazer um superavit primário de uns 3% do PIB (diferença entre receita e despesa de 3% do PIB, descontados os gastos com juros).
É o que diz em público o ministro da Fazenda, Guido Mantega. É o que praticamente diz a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. É o que pede o povo do Banco Central.
A gente ouve nos corredores dos ministérios que a intenção da equipe econômica é mesmo esta: manter o superavit em 2012. Isto é, excetuadas situações muito favoráveis ou catastróficas na economia brasileira e, em especial, na do mundo.
Além de manter a dívida pública em queda e apresentar contas em ordem, a intenção dos economistas de Dilma com o aperto fiscal é induzir queda mais rápida dos juros.
Mas o jornal "Valor Econômico" deu na sexta-feira passada que assessores próximos de Dilma Rousseff, ministro inclusive, acreditam que o aperto fiscal será menor no ano que vem, a fim de liberar mais dinheiro para investimentos. Ainda segundo o mesmo relato, a redução de juros seria muito cautelosa.
De fato, a gente ouve num corredor do Planalto que "o Brasil não pode parar". Mais, que a presidente tem "restos a pagar" para a sua coalizão, além de "demandas atrasadas da sociedade para atender".
A ideia de que a presidente precisa afrouxar o controle de gastos devido à política é transmitida de modo muito mais sutil e indireto do que sugere o parágrafo anterior, mas esse é o tom geral da conversa.
O governo apenas está cumprindo sua meta fiscal neste ano devido ao aumento real de mais de 12% da receita (descontadas aquelas extraordinárias) e também à contenção de investimentos, o que é ruim mas inevitável no curto prazo, dado o engessamento das despesas.
A receita vai crescer tanto assim em 2012? Note-se, além do mais, que muito "afrouxamento" de gasto já foi contratado para o ano que vem.
Em 2012, haverá o aumento do salário mínimo e da despesa social relacionada. Haverá a perda de receita com reduções de impostos da dita política industrial. Haverá, em tese, mais programas sociais.
O que quer enfim o governo?
O BC parece contar com o aperto fiscal e a crise em fogo médio no mundo rico para ver a meta de inflação chegar a 4,5% em 2012. O BC acha que a inflação baixaria a uns 4,8% em abril de 2012.
Para chegar aos tais 4,8% em abril, a inflação teria de ser de uns 0,37% em agosto e de 0,50% por mês até dezembro (por que tais números? São as previsões de economistas mais certeiros no setor privado). E, de janeiro a abril, teria de ser em média de 0,37% (aliás, taxa mensal compatível com a meta anual de 4,5%). Gente boa no mercado acha que, no primeiro quadrimestre de 2012, a inflação andará pela casa de 0,6% ao mês. Assim, o IPCA ainda estaria na casa de 5,7% em abril. Isso com juros, Selic, a 12,75%.
É tudo "chute informado"? É. Difícil saber o que será dos crescimentos mundial e brasileiro, do preço de commodities, dos reajustes de salários no final deste ano etc. O que se sabe é que tamanho descompasso entre "políticos" e economistas do governo e entre governo e mercado não vai ajudar a "coordenar as expectativas" de modo a estabilizar a economia. Ruído demais.
Entrevista:O Estado inteligente
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