- O Estado de S.Paulo
-De vez em quando, assim no meio do Dia dos Pais, você não lembra do teu, não?
- Lembro, lembro. Era tudo muito diferente. Acho que nem tinha Dia dos Pais como hoje, tinha?
- Acho que não, mas talvez tivesse alguma coisa com "o papai", tenho a leve impressão de que havia umas coisas com "o papai", uns jingles de rádio, anúncios no jornal, coisas assim. Mas lá em casa se usava somente "pai", ou então "meu pai", "papai" era considerado meio fresco. Assim como exclamar "oh!". Você ainda pegou o tempo em que exclamar "oh"era frescura?
- Peguei, peguei! "Ô" podia, mas "oh" não, não era exclamação de homem.
- E você tratava seu pai por "senhor"?
- Claro, o velho era português, não admitia intimidade. E as prioridades eram todas dele, não tinha essa avacalhação de hoje em dia. Por exemplo, quando tinha galinha, o sobre era dele, ninguém podia tascar, ele adorava o sobre.
- A mesma coisa lá em casa, lá era o pescoço. E o almoço sempre em família, na mesma hora, todo mundo de camisa, sem algazarra, sem muitas restrições ao que era servido e sem se meter em conversa de gente grande aonde não se era chamado.
- É, cara, nós somos uns dinossauros, uns fósseis, isso é o que nós somos.
- Ah, aí não, eu posso ter mais ou menos a tua idade cronológica, mas não somos da mesma faixa psicoetária, isso nunca!
- Faixa psicoetária?
- Isso é um neologismo que minha turma inventou para mostrar que o sujeito pode ter a mesma idade que outros, mas é mais moço. Ou mais velho, conforme o caso. No teu caso, bem mais velho. Eu sou um garotão, cara.
- Precisando de um bom espelho.
- Eu não preciso de espelho nenhum, eu vejo a realidade em torno de mim. É porque você só circula por aqui mesmo, neste estabelecimento que eu frequento somente por tradição e apenas no domingo e onde só tem velho mesmo, até o chope daqui é velho. Minha reputação fala por mim. Eu sou um cavalheiro de boa formação e não é do meu feitio sair por aí contando vantagem, mas você é meu amigo o suficiente para saber que, se eu não fosse um homem de boa situação, estaria com problemas financeiros, com todas as pensões alimentícias que tenho de pagar. E todas, naturalmente, para filhos de mulheres jovens, em idade fértil
- Quantas são? Seis, não é? Realmente, é muita pensão, tem que ter bala na agulha.
- Graças a Deus, eu sempre tive.
- Graças a Deus e a teu pai, que te deixou tudo e o tudo dele era tudo que não acabava mais e até hoje não acabou, mesmo na tua mão. Essas seis pensõezinhas devem fazer tanta falta quanto os jantares que você vive dando nesses restaurantes de mil reais a almôndega.
- Tu é grosso mesmo, tenho certeza de que não foi essa a educação que teu pai te deu. Mas é isso mesmo, eu posso pagar as pensões sem grilo nenhum. E não são nem mais seis, agora. Uma já venceu, agora são somente cinco. Quer dizer, por enquanto, he-he, nunca se sabe o que pode acontecer.
- É isso mesmo que eu ia dizer. Você não sabe o que pode acontecer. Você transa com essas mulheres todas sem camisinha?
- Ah, não é isso, cada caso é um caso. O primeiro foi sem camisinha direto mesmo. No dois seguintes, elas diziam que detestavam camisinha, que tomavam a pílula, etc., mas as pílulas falharam, aquilo falha muito. Nos dois seguintes a esses, parece que as camisinhas tinham defeito de fabricação. Se não fosse chato para mim, eu processava o fabricante. E esse sexto caso é muito recente, ainda não está completamente resolvido. Eu nunca vou deixar de ter esse problema, é meu temperamento lúbrico, fogoso, atirado, acho que isso atrai as mulheres, os homens de hoje não satisfazem as exigências delas.
- Você se lembra de um ditado romano que o Pachecão repetia na faculdade, quando discutia um caso de investigação de paternidade? Não lembra, não, mas eu lembro. Era "mater certa, pater semper incertus", lembra disso? Hoje isso não é mais correto, existe o teste do DNA. Pois é, eu fiquei sem jeito de perguntar assim de cara: você mandou fazer o teste do DNA com essas crianças todas?
- Não foi necessário, eram todos casos claros, tem um que é a minha cara, um dos dois da má qualidade da camisinha. Não, eu não tenho esse negócio comigo, eu sou até mais na base desse ditado que você lembrou aí, o do pater incertus. É isso mesmo, eu não ia pegar uma moça educada, de boa família e exigir dela que apresentasse prova de que o filho era meu. Além disso, quatro delas ou eram casadas na ocasião ou se casaram logo depois, eu sei que minha pensão contribui para a segurança delas, nestes casamentos de hoje em dia. Não, está tudo muito bem assim. Eu tenho meus cinco filhos menores e faço questão de pagar as pensões. E hoje ainda vou patrocinar o almoço de todos, costumo reunir esse povo todo de que posso ou não ser pai.
- Me diz aqui, os outros homens da família não te chamam de papai também?
- É, chamam. Como é que você adivinhou? É meu jeitão, não é?
Entrevista:O Estado inteligente
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