Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, agosto 21, 2011
Dedicação exclusiva a - O Estado de S.Paulo Editorial
Fazendo política 24 horas por dia, segundo suas próprias palavras, o ex-presidente Lula da Silva esteve na última quarta-feira em Belo Horizonte para um almoço com lideranças petistas onde, mais uma vez, deixou claro - não expressamente por palavras, mas pelas mesmas óbvias conclusões a que levam sempre texto e contexto de suas declarações - que é candidatíssimo à Presidência da República em 2014. Com seu habitual verbo solto, o chefão do PT classificou de "imbecilidade" as especulações sobre sucessão presidencial mais de três anos antes do pleito. E insistiu no chavão ardiloso: "Em 2014, eu não sei da oposição, mas o governo, o Brasil, já têm candidato, que é a Dilma Rousseff. Eu vou dizer pela última vez: a Dilma só não será candidata se ela não quiser".
Mandam as conveniências que Lula fique repetindo o chavão - e pouco se lhe dá se as pessoas acreditem ou não. Afinal, uma eventual candidatura de Dilma a um segundo mandato está, pelo menos por enquanto, muito longe de depender da vontade dela. E, apesar de todo o jogo de cena, é de uma clareza cristalina que a lógica do pragmático e ambicioso "Lula 24 horas" aponta na direção de sua recondução ao Palácio do Planalto a partir de 2015, para, quem sabe, mais oito anos de proezas nunca antes vistas na história deste país. E - dado fundamental - esta é também a lógica do PT&Associados, cujo projeto de desfrute do poder por longo prazo não permitirá arriscar com quem quer que seja numa eleição que, ao que tudo parece indicar hoje, seriam favas contadas para Lula. Em se tratando de política, tudo pode acontecer até o momento da definição da candidatura governista. Até mesmo Dilma conquistar uma popularidade que torne sua própria candidatura, além de natural, inevitável. Mas não é para isso que Lula está trabalhando.
Como explicar, por exemplo, a declaração do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de que a candidatura do PT em 2014 será definida "em conversa entre Lula e a presidente Dilma Rousseff"? Quer dizer que até para um ministro do atual governo a candidatura da presidente à reeleição não é ponto pacífico? Com que propósito um político experiente como Paulo Bernardo teria fugido da declaração protocolar que dele se podia esperar para acenar com a possibilidade de Dilma não ser candidata outra vez? Interpelado em Belo Horizonte sobre essa declaração de Bernardo, Lula saiu pela tangente, partindo para o ataque a um de seus alvos preferenciais, que até então não tinha entrado na conversa: "Primeiro, é inaceitável um tucano como o Serra dizer que sou candidato em 2014". Depois, passou a elogiar Dilma, "que vai fazer um governo extraordinário" e "só não será candidata se não quiser".
Foi lá que disse que falar de sucessão agora, mais de três anos antes da eleição, é "imbecilidade", no que está absolutamente certo. Para qualquer cidadão comum, que não é político profissional, de fato é. Mas não para o ex-presidente, que jamais desceu do palanque, antes ou depois de ter sido eleito em 2002. Instalado no Palácio do Planalto, uma de suas primeiras providências foi transformar o projeto de campanha Fome Zero em Bolsa-Família, politizando e tornando a iniciativa muito mais eficiente em termos eleitorais, com a inclusão das prefeituras no processo de distribuição dos recursos aos necessitados, o que acabou lhe custando o afastamento de conhecidos colaboradores mais idealistas. Mas, na ocasião, o então ministro José Dirceu teria dito que o Bolsa-Família traria "milhões de votos" que garantiriam a reeleição de Lula, segundo testemunho do ex-fundador do PT Hélio Bicudo prestado à TV Estadão no ano passado. Foi um lance decisivo que permitiu a Lula superar, em 2005, os percalços do "mensalão" e reeleger-se um ano depois. Ainda na primeira metade de seu segundo mandato, em janeiro de 2007, quando lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula colocou sua então ministra-chefe da Casa Civil à frente da iniciativa, com a clara intenção de prepará-la como candidata a sua própria sucessão quase quatro anos depois.
Agora, a pouco mais de três anos do próximo pleito presidencial, Lula não quer nem ouvir falar, em público, das eleições de 2014. Por enquanto, é trabalhar nos bastidores, 24 horas por dia.
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