O GLOBO - 20/08/11
A crise não é nossa, mas pelo menos 20 grandes empresas brasileiras que fazem parte do índice Ibovespa estão sofrendo quedas expressivas no valor de suas ações. Algumas perderam mais que 50% em um ano e meio. Ao analisar o desempenho de cada companhia que faz parte do índice, dá para ver que há setores e empresas que vão muito bem, apesar da turbulência. Certos movimentos não fazem sentido.
Há setores que conseguem ter bom desempenho nas Bolsas, mesmo durante a turbulência, como telefonia e energia. São segmentos vistos como de proteção pelos investidores, porque têm um consumo estável mesmo em tempos de crise.
Mas a maioria dos setores está no vermelho. A América Latina Logística sofre uma queda de 74% no valor de suas ações ON desde março de 2010. A B2W, que vende produtos pela Internet, cai 56% este ano e 75% desde novembro de 2009. A Fibria, empresa resultante da fusão entre Aracruz e Votorantim Celulose, cai 47% este ano e acumula queda de 65% desde março de 2010.
A Gol, apesar do forte crescimento da demanda por voos nacionais, vê suas ações PN caírem 58% somente este ano. A queda é a mesma nos papéis negociados na bolsa de Nova York. A TAM também sente. Redução de 28% desde novembro de 2010 nas ações PN. O curioso é que no ano passado o Brasil foi o país do mundo onde o setor de transporte aéreo de passageiros mais cresceu. Superou a China.
Do setor de siderurgia, a fuga de investidores é generalizada. A demanda por aço caiu no mundo, e há mais de 500 milhões de toneladas de capacidade ociosa de produção. A CSN tem queda de 44% este ano. Desde abril de 2010, o tombo acumulado chega a 58%.
A Gerdau tem queda de 53% nas ações ON, no mesmo período, enquanto as ações PN caem 59%. No ano, as ações ON caem 34% e as ações PN caem 44%. A Usiminas tem queda de 35% nas ações PN este ano.
O setor de construção civil tem uma contradição. Há a impressão de um boom no setor de empreendimentos residenciais. Tanto que as empresas reclamam dos problemas causados por excesso de atividade: falta de terrenos e mão de obra qualificada. As ações ON da Gafisa têm queda de 41% este ano. Se o recorte for feito desde novembro, o tombo chega a 52%.
A Rossi cai 40% desde outubro. A Brookfield Incorporações cai 37% desde outubro, a mesma queda da PDG Realty desde novembro. A Duratex, que produz móveis e materiais de construção, vê as ações ON caindo 36% este ano.
Algumas empresas de fato apostaram demais no segmento de baixa renda e estão tendo problemas, porque no Minha Casa, Minha Vida há teto para o valor dos imóveis, mas não há teto para o aumento dos custos.
A desaceleração mundial só agora começou a afetar o preço das commodities, mas as cotações continuam altas. Mesmo assim, os papéis das empresas de matérias-primas e alimentos estão em queda há muito tempo. O frigorífico Marfrig cai 46% no ano. Desde janeiro de 2010, a queda chega a 65%. O JBS-Friboi cai 41% no ano e acumula 59% de redução desde novembro de 2009.
As empresas do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, também perderam muito em valor de mercado. A OGX, que explora petróleo e gás, tem queda de 46% este ano. Desde novembro, o tombo acumulado chega a 53%. Uma das explicações é que ela é uma empresa pré-operacional, com muito investimento para fazer. A MMX, de mineração, cai 51% desde novembro, e a LLX, de logística, cai 66% desde setembro.
Mesmo com lucros recordes no ano, e sendo a empresa dominante de um grande mercado como o Brasil, a Petrobras consegue ter queda de 25% nas ações PN desde janeiro. A partir de dezembro de 2009, a redução no valor das ações ON chega a 48%.
O mercado explica que a empresa tem forte influência política. A Vale sente pelo mesmo motivo. O preço do minério de ferro disparou nos últimos dois anos e a empresa mantém resultados expressivos, trimestre após trimestre. Mesmo assim, no ano, as ações ON caem 22% e as ações PN caem 19%.
Há outras quedas expressivas: a Ecodiesel cai 52% desde outubro de 2010; a Hypermarcas tem redução de 60% no mesmo período.
Mas há também algumas boas surpresas. A Cielo, que presta serviço para o pagamento de cartões de crédito, sobe 21% no ano. A mesma coisa acontece com a Redecard: 22% de alta. A Ambev subiu no ano 5,2% e desde março de 2009 está numa trajetória de alta que triplicou o valor de seus papéis: 218%.
Empresas de energia também têm valorização este ano. A Cesp, por exemplo, sobe 15%. A Cemig tem alta de 14,8% nas ações ON. A Eletropaulo sobe 10,5% este ano e 166% desde outubro de 2008. Empresas de telecomunicações também estão em alta: a Tim sobe 30%; a Telesp, 20% nas ações PN e ON. Em comum, todas essas empresas conseguem manter o consumo estável mesmo em tempos de crise. Geralmente, as famílias deixam para cortar por último os gastos com energia, bebidas, telefones. Pelo menos é isso que pensam os investidores.
Olhando de perto, o que se vê são poucas boas notícias e um enorme mar vermelho no Ibovespa.
Entrevista:O Estado inteligente
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