Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, agosto 14, 2011
China e clima - Míriam Leitão
O Globo - 14/08/2011
A notícia assustou porque ocorreu numa semana tensa. A inflação na China bateu em 6,5%; a de alimentos foi de quase 15% em 12 meses. Os estoques de grãos estão baixos pelo efeito de uma sequência interminável de desastres ambientais que vêm afetando colheitas de inúmeros produtos nos últimos anos. Não é um problema só econômico. É também climático.
A seca que atingiu o Texas está se espalhando pelo meio-oeste americano, afetando o algodão, a soja e o milho, o que pode bater na oferta do etanol. Aliás, os Estados Unidos estão vivendo grandes perdas econômicas também por fatores climáticos. O clima complicado por lá - houve tornados de intensidade incomum e a estação de furacões está prometendo ser perigosa - já faz de 2011 o ano de pior prejuízo recente na economia, determinado por desastres climáticos. Foram vários desastres com prejuízos acima de US$1 bilhão: queimadas, secas, ondas de calor, nevascas, tornados, enchentes.
A China é grande compradora de alimentos. Esses desastres ambientais desequilibram a oferta de produtos do mundo inteiro, elevam os preços e afetam a inflação chinesa. O país dificilmente poderá diminuir muito a compra de alimentos, independentemente da conjuntura econômica, porque produz pouco comparativamente ao seu consumo. Por isso, os especialistas de commodities dizem que mesmo numa conjuntura de baixo crescimento mundial - e até recessão - os preços dos metais vão cair mais que os dos grãos, porque há pouco estoque de alimentos.
O ano de 2011 é o sétimo consecutivo de grandes eventos climáticos que afetaram a economia e desequilibraram o abastecimento de algum produto. A série começou em 2005, com o Katrina, mas também com secas na Austrália, que foram sucedidas por grandes enchentes. A Austrália, como se sabe, é produtora importante de alimentos, como o Brasil.
Em 2006, a agricultura foi afetada por chuvas intensas na França, Inglaterra, Alemanha; ondas de calor na Itália e Grécia; nova seca na Austrália e no Canadá, outro grande produtor. Mesmo quando o país não é fornecedor, o que ocorre em suas terras afeta a pressão global. Quando a Índia é atingida, por exemplo, o país tem que procurar no mercado internacional o que teria produzido internamente para seu abastecimento.
Em 2007, os meses de janeiro a abril foram os mais quentes em mais de um século. As monções provocaram enchentes no Sul da Ásia. Ondas de calor atingiram o Uruguai. Em 2008, nevascas cobriram os Estados Unidos. Chuvas intensas e inundações atingiram vários países, inclusive o Brasil. Em 2009, o tufão Morakot desalojou um milhão de chineses. A Califórnia enfrentou a pior seca de sua história. O ano passado foi considerado o ano mais mortal em uma geração. Um ano de extremos. Em 2011, o Brasil viveu a pior tragédia associada ao clima na região serrana. Neste exato momento uma seca forte flagela a Somália e países do chifre da África e castiga o sul e o meio-oeste americanos.
Extremos têm ocorrido no mundo inteiro e devastado várias produções, mantendo consistentemente preços altos de inúmeros cereais, oleaginosas, leguminosas. Quem olha em detalhes tudo o que aconteceu de anormal -- recorde de enchentes, seca, frio e calor - no mundo inteiro, concluirá que é uma triste coincidência ou então efeito da mudança climática. Os cientistas vinham alertando que aconteceria exatamente isso: eventos mais intensos e mais frequentes. Ao analisar cada desastre isoladamente, os cientistas não garantem que é determinado pela mudança climática, mas todos os eventos juntos configuram o cenário que eles vêm descrevendo há anos como alerta sobre os riscos causados pelo excesso de emissões de gases de efeito estufa.
Este ano, a seca na Europa tirou umidade do solo e reduziu a safra de trigo. O problema aconteceu no oeste, afetando Alemanha, Inglaterra, França, enquanto no ano passado a seca foi no leste do continente. Na China, a seca diminuiu a área plantada em importantes regiões produtoras. No Canadá, é o contrário. O excesso de chuvas deixa o solo muito úmido para o plantio de trigo e canola. Segundo a economista Ana Laura Menegatti, da MB Agro, a tendência é de que os preços dos alimentos continuem pressionados, mesmo com uma desaceleração da economia mundial.
A safra de cana será 8,4% menor este ano. É a terceira safra consecutiva que teve problemas por razões climáticas. Isso afetará também o abastecimento de combustível, que continua prisioneiro do dilema do desequilíbrio de preços.
A inflação da China foi vista pelos economistas como um complicador, porque entendem que o país terá que reduzir o ritmo do crescimento para conter a alta de preços. A China é que segurou o PIB global em 2008 ao acelerar o ritmo, o que não poderá repetir. Só que o fenômeno da inflação chinesa é mais complicado do que eles pensam. Mesmo se a China reduzir o ritmo do seu crescimento, vai continuar havendo pressão nos preços dos alimentos pela escassez de oferta. Entrou no cenário uma variável que poucos economistas costumam incluir na equação: o clima.
No Brasil, grande produtor, a alta dos alimentos provoca inflação, mas engorda o saldo comercial. A demanda mundial sobre nossos produtos vai fortalecer ainda mais a pressão para que o Congresso aprove a lei que facilita desmatar. O agronegócio pensa estar defendendo seus interesses, mas se houver mais desmatamento vão se agravar os fatores que têm provocado eventos climáticos extremos. Essa é uma resposta do tipo bumerangue: vai se voltar contra o próprio Brasil no futuro.
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
agosto
(223)
- Três espantos - Míriam Leitão
- Muita sede ao pote Dora Kramer
- Agora nem confissão condena malfeitor José Nêumanne
- Cafezinhos e parábolas Roberto Damatta
- Embromação 29 Rolf Kuntz
- Falta de respeito Merval Pereira
- A hora dos juros Celso Ming
- Boa promessa MÍRIAM LEITÃO
- Governo poupa a loteria federal VINICIUS TORRES FR...
- É o novo mix Celso Ming
- Ilegal legitimado Dora Kramer
- A jabuticaba explicada Merval Pereira
- Bom, bonito... e barato? Adriano Pires
- Dize-me com quem andas Paulo Brossard
- Nova liderança no etanol EDITORIAL O ESTADO DE SÃ...
- Democracia e moralidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- Não tem nada de mais CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Adeus à faxineira RICARDO NOBLAT
- Não em nome do Brasil JOSÉ SERRA
- A sustentável leveza dos setentões GAUDÊNCIO TORQUATO
- Noivas em fuga MÍRIAM LEITÃO
- A César o que é de César SERGIO AUGUSTO
- Um programa de oposição radical VINÍCIUS TORRES F...
- Uma experiência radical FERREIRA GULLAR
- Jabuticaba eleitoral MERVAL PEREIRA
- Certos momentos DANUZA LEÃO
- Eles adiam o que a gente faz ALBERTO TAMER
- As voltas que o mundo dá SUELY CALDAS
- Arrumar sótãos e porões LYA LUFT
- Paixão oficial J. R. GUZZO
- O Poderoso Chefão REVISTA VEJA
- A classe média ganha força Celso Ming
- Pé na estrada Dora Kramer
- O problema Perry de Bernanke PAUL KRUGMAN
- A classe média ganha força CELSO MING
- Um erro perigoso MÍRIAM LEITÃO
- A presidente Dilma e o governo-conluio RUBENS FIGU...
- Distorções MERVAL PEREIRA
- Uma mão suja outra Dora Kramer -
- A nova Líbia MÍRIAM LEITÃO
- Faxina agrária XICO GRAZIANO
- Nova postura CELSO MING
- Mais do mesmo MERVAL PEREIRA
- De gestora a faxineira MARCO ANTONIO VILLA
- Ainda não é o fim do capitalismo ANTONIO DELFIM NETTO
- O voo do oligarca FERNANDO DE BARROS E SILVA
- De pipoca e refrigerante ALON FEUERWERKE
- A diversificada tecnologia da corrupção EDITORIAL ...
- Fruta de entressafra Dora Kramer
- O que houve? - Paulo Brossard
- Os sem-iPad LUIZ FELIPE PONDÉ
- Radiografia da corrupção CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- O dilema de Dilma EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O herói e o antagonista-Ruy Fabiano
- Entrevista - Jarbas Vasconcelos:
- Sólido e vulnerável MÍRIAM LEITÃO
- O papel de Dilma MERVAL PEREIRA
- Em time que está ganhando... FERREIRA GULLAR
- Acelera, Dilma DANUZA LEÃO
- Gritos e sussurros na economia VINICIUS TORRES FREIRE
- Jogo de cena FERNANDO DE BARROS E SILVA
- O éden ao lado do inferno Gaudêncio Torquato
- Percepções do Brasil no mundo Celso Lafer
- Dedicação exclusiva a - O Estado de S.Paulo Editorial
- Receita de ex-presidente Ruy Fabiano
- Isso não vai dar muito certo João Ubaldo Ribeiro
- O modelo precisa mudar Suely Caldas
- Brasil pronto para o pior Alberto Tamer
- Remédio duvidoso Celso Ming
- Sem pai nem mãe Dora Kramer
- Economia dita tom político João Bosco Rabello -
- A crise de 2011 é a mais grave de todas LUIZ FELIP...
- Maré vermelha MÍRIAM LEITÃO
- Solução distante CELSO MING
- Seremos algum dia japoneses? RUTH DE AQUINO
- Agricultura tropical e saúde KÁTIA ABREU
- Mobilização MERVAL PEREIRA
- O Planalto, a PF e as prisões escandalosas FÁBIO T...
- Dilmuska FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Crise, comida, ferro e petróleo VINICIUS TORRES FR...
- Copa do Mundo, entre laranjas e ONGs FERNANDO GABE...
- Apoios à faxina MERVAL PEREIRA
- Modo crise MÍRIAM LEITÃO
- Para valer? LUIZ GARCIA
- Quem demitiu o ministro? O Estado de S. Paulo-Edit...
- Um toque de pudor Dora Kramer
- Treme-treme Celso Ming
- Turismo de mosca é no lixo Nelson Motta
- A fantasia de ver a crise como solução Rogério L. ...
- ''Corrupção atinge níveis inimagináveis'', dizem d...
- EUA e a crise ANTONIO DELFIM NETTO
- Dilma, a diarista, e sua vassoura VINICIUS TORRES ...
- Verdadeira ameaça MÍRIAM LEITÃO
- Para que trocar o ladrão descoberto pelo incerto? ...
- Sem expectativa Merval Pereira
- Prova dos nove - Dora Kramer
- Pragas da política Rolf Kuntz
- Eurogovernança Celso Ming
- De cabeça para baixo Roberto Damatta
- Os erros argentinos MÍRIAM LEITÃO
-
▼
agosto
(223)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA