Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 17, 2011

São Paulo na economia brasileira Paulo R.Haddad

O Estado de S. Paulo - 17/06/2011
 


 

No início dos anos 1970, a economia de São Paulo participava com 40% do Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira e o seu PIB per capita era o dobro do PIB per capita do Brasil. Em 2008 essa participação caiu para 33% do PIB brasileiro e para 65% do PIB per capita brasileiro. Não se trata de uma situação de retrocesso econômico da economia paulista, mas de uma evolução mais dinâmica de outras unidades da Federação. O conjunto dos Estados do Centro-Oeste ampliou sua participação no PIB brasileiro de 4,81%, em 1985, para 9,2%, em 2008; e a macrorregião Norte passou de 3,84% para 5,10% no mesmo período, ocupando parte do espaço anterior de São Paulo.

A perda de posição relativa da economia paulista no cenário nacional teve um aspecto saudável para o conjunto dos Estados brasileiros, na medida em que representou uma melhor distribuição espacial das atividades econômicas entre todas as populações regionais brasileiras, atribuindo-lhes melhores níveis de renda e de emprego.

Não há, em princípio, uma proporção ideal para a participação do Estado de São Paulo na economia brasileira, embora seja desejável que, nos novos ciclos de expansão dessa economia, haja uma interrupção deste recorrente processo de perda de posição relativa no PIB nacional, uma vez que o Estado detém quase 25% da população total do País.

Que papel se pode esperar para a economia paulista nos novos ciclos de expansão da economia brasileira? É bastante provável que os novos ciclos de expansão da economia brasileira, durante o século 21, sejam intensivos em ciência e tecnologia na geração de diferentes produtos, processos e técnicas de gestão que irão compor a formação do produto nacional de uma economia cada vez mais exposta à competição externa. Estudos comparativos internacionais sobre os novos padrões de localização dos projetos de investimentos, semelhantes aos que irão dar sustentação a estes ciclos de expansão, identificam que as vantagens relativas das regiões para atraí-los dependerão, relativamente, cada vez menos da disponibilidade de recursos naturais ou de mão de obra não qualificada em abundância (fatores locacionais tradicionais) e cada vez mais da existência, na região, de trabalhadores qualificados em permanente processo de renovação de conhecimentos, centros de pesquisa, recursos humanos especializados, ambiente cultural, etc. (fatores locacionais não tradicionais).

Dada a atual geografia de distribuição espacial desses fatores não tradicionais entre as regiões brasileiras, há fortes sinalizações de que, nos novos ciclos de expansão, poderá ocorrer uma reconcentração espacial dos seus benefícios no Sul e no Sudeste do País, onde se destaca o papel da economia paulista. Essa economia conta ainda com alguns fatores locacionais da maior relevância para estimular a recuperação de sua posição relativa no PIB brasileiro. Especialmente se o Estado ativar uma política de desenvolvimento produtivo (PDP) por meio da mobilização de instrumentos econômicos e mecanismos institucionais contemporâneos, à semelhança de muitas regiões da União Europeia.

É preciso destacar também como os cada vez mais elevados preços de energia poderão afetar os padrões de localização das atividades econômicas. Nesse sentido, tudo indica que os projetos de investimentos do pré-sal no litoral paulista poderão vir a se constituir no carro-chefe da recuperação do espaço de São Paulo na economia brasileira, dada a grandiosidade prevista para esses investimentos e dado o esforço de planejamento regional e de política industrial para potencializar essas oportunidades de crescimento que vem sendo realizado pelo governo estadual. O litoral norte poderá se constituir na região brasileira de crescimento econômico mais acelerado, superando as taxas de expansão das regiões na fronteira minerária e na fronteira agrícola do País. É preciso estar atento, contudo, para que o seu crescimento econômico seja o componente estruturante para um processo de desenvolvimento sustentável a longo prazo.

PROFESSOR DO IBMEC/MG. FOI MINISTRO DO PLANEJAMENTO E DA FAZENDA

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