O GLOBO - 17/06/11Japão, Alemanha, Suíça, Itália. Vários países estão suspendendo projetos de energia nuclear. O desastre japonês foi um duro golpe ao setor. O tema sempre será controverso, mas o economista José Eli da Veiga acha que a parada era inevitável após Fukushima. O físico José Goldemberg acredita que a notícia da suspensão dos projetos é a chance de elevar a energia renovável.
Quatorze países mantêm projetos para construir 64 novas usinas atômicas no mundo. Esse número é bem menor que os 120 listados no ano de 1987; e os 233, de 1979. Doze plantas em construção se arrastam há mais de 20 anos e 35 não têm data para entrar em operação. China, Rússia, Coreia do Sul e Índia mantêm 47 projetos na área, mas os planos chineses foram suspensos depois do desastre japonês. Mais da metade das usinas em operação nos EUA já estão no período estendido de licença, depois de terem esgotado o prazo inicial de 40 anos de funcionamento. Os números mostram que a tendência da energia nuclear é de baixa.
O terremoto no Japão afetou 11 reatores e desativou seis para sempre. Ao mesmo tempo, a Associação de Energia Eólica Japonesa informou que nenhum dano foi sofrido pelas plantas eólicas do país, nem pelo terremoto nem pela tsunami. Enquanto a Tepco, empresa operadora das usinas atômicas, perdeu metade do seu valor de mercado três semanas após o terremoto, as ações das empresas do setor eólico dobraram de preço.
Os investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvimento da energia nuclear superam os gastos em eficiência energética e fontes renováveis entre países que fazem parte da AIE (Agência Internacional de Energia). De 1986 a 2008, a energia nuclear acumulou US$140 bilhões em recursos, enquanto os gastos para eficiência energética receberam US$35 bilhões e as fontes renováveis, US$27 bi. Os EUA concederam subsídios nos últimos 15 anos de US$40 bilhões ao setor nuclear, enquanto o setor eólico ganhou US$900 milhões, 44 vezes menos. É justamente esse quadro que a decisão alemã pode mudar.
- Em 10 anos, a transição alemã é viável. A energia pode vir de termelétricas a gás, produção eólica e biomassa. É uma excelente notícia porque abre caminho para investimentos em produção renovável. A expansão nuclear já estava estabilizada há muito tempo, vários países já haviam abandonado planos de expansão, mas os emergentes, como os chineses, estavam anunciando projetos. A China suspendeu seus planos depois do desastre japonês e a notícia de que a Alemanha também fez o mesmo pode fazer agora cair a produção nuclear - disse o físico José Goldemberg.
Goldemberg explica que as usinas nucleares são responsáveis pela produção de 15% de energia elétrica no mundo. Mas levando em conta a energia total, contando por exemplo a queima de petróleo, a energia nuclear é apenas 2%.
- Isso quer dizer que se todas as usinas forem desligas e tivesse que aumentar a queima de petróleo, o aumento de emissão de gases de efeito estufa seria de 2%. O mundo está trocando um risco imediato por um risco futuro. A usina nuclear é um risco de hoje, veja-se o exemplo de Fukushima, enquanto o aumento da temperatura global terá seus efeitos mais graves daqui a 30, 40, 50 anos - completou.
O economista José Eli da Veiga entende que toda a rejeição que tem acontecido em torno da energia nuclear é natural nas democracias.
- O acidente de Fukushima escancarou, em primeiro lugar, a imprescindível necessidade de controle social sobre todas as decisões relativas às obras de geração de energia, algo que a indústria nuclear abomina - disse.
Ele acrescenta que o sistema normativo internacional precisa de urgente revisão.
O presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros, diz que os alemães podem liderar investimentos em produção solar, estimulando a instalação de painéis nas residências. Esse investimento terá que desenvolver a tecnologia de smart grid, para integrar a rede. São componentes eletrônicos que integram o sistema, que se torna pulverizado em milhares de produtores de energia.
- A notícia abre perspectiva interessante para investimentos em smart grid e para que consumidores instalem painéis solares em casa. Eles podem produzir ao máximo sua própria energia e vender para a rede o excedente. No período de pouco sol, a rede vira um backup, fazendo o caminho inverso - disse.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, acha que o momento abre a chance de aumentar os recursos para o desenvolvimento de produtos e tecnologias para o setor. Ao mesmo tempo isso significa uma demanda maior pelos equipamentos necessários, e isso quer dizer que os preços tendem a ficar mais caros. O Brasil exige que 70% dos equipamentos sejam nacionais e não há oferta suficiente aqui, por enquanto.
José Eli acredita que a saída principalmente da Alemanha do desenvolvimento da energia nuclear é ruim porque é o país que mais investe em inovação nesta área. Em relação ao Brasil, argumenta que sem usinas nucleares o país terá que fazer mais hidrelétricas, opção menos controversa e mais barata. Só que terá que "artificializar todas as bacias amazônicas".
Não existe opção sem custo. Seja qual for o caminho do Brasil na escolha das suas fontes de energia, o importante é que o debate seja o mais transparente possível. Não tem sido, infelizmente, qualquer que seja a fonte.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
junho
(310)
- Serra: até as paredes sabem sobre Mercadante
- Nem tanto ao mar Dora Kramer - Dora Kramer
- Mais coerência Celso Ming
- Pressionada MERVAL PEREIRA
- Pão de Açúcar-Pão francês MIRIAM LEITÃO
- Pão de Açúcar-O cofre e os negócios JANIO DE FREITAS
- O que é Estado laico? IVES GANDRA MARTINS FILHO
- Amigo ou inimigo, o jogo continua SERGIO FAUSTO
- Crônica ou parábola? ROBERTO DaMATTA
- Indecentes úteis DORA KRAMER
- Exorbitâncias do BNDES Editorial - O Estado de S.P...
- Encruzilhada MIRIAM LEITÃO
- Sem convencer Merval Pereira
- A pergunta ANTONIO DELFIM NETTO
- A Europa compra tempo Celso Ming
- Regime diferenciado e imoral José Serra
- Sigilo para incompetência? Rolf Kuntz
- Veja Edição 2223 • 29 de junho de 2011
- Verdes e cidadania MERVAL PEREIRA
- O tamanho da sombra MIRIAM LEITÃO
- Mundo bizarro José Paulo Kupfer
- Um brasileiro na FAO Editorial- O Estado de S.Paulo
- Os avanços tecnológicos e as novas formas de guerr...
- Bandidagem agrária - Xico Graziano
- GOVERNO SÉRGIO CABRAL: O REI ESTÁ NU !
- É mais investimento Celso Ming
- Redução de danos Dora Kramer
- A competência generosa José Serra
- Coisas estranhas Paulo Brossard
- FHC e o carcereiro ROBERTO POMPEU DE TOLEDO Revist...
- Falácias e verdades MAÍLSON DA NÓBREGA Revista Veja
- No Reino dos Coliformes CLAUDIO DE MOURA CASTRO Re...
- MINISTÉRIO DE ALOPRADOS REVISTA VEJA
- Segredos de liquidificador MELCHIADES FILHO
- Diga aí, Cabral! RICARDO NOBLAT
- Não existe almoço de graça LUIZ FELIPE PONDÉ
- Água no etanol JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
- Sinal vermelho na Petrobrás EDITORIAL O Estado de ...
- Segredo de Estado e corrupção Carlos Alberto di Fr...
- Como surge o separatismo Paulo R. Haddad
- Paulo Renato sabia o que fazer na Educação e perse...
- Razões que a razão desconhece FERREIRA GULLAR
- Os oráculos MIRIAM LEITÃO
- Depois do dilúvio de dólares VINICIUS TORRES FREIRE
- Sejamos civilizados DANUZA LEÃO
- Eliane Cantanhêde Hackers pela ética
- A Era dos hackers Alberto Dines
- Ideologias Merval Pereira
- Suspense grego Editorial Estadão
- A ficha caiu Adriano Pires e Abel Holtz
- Itália e Brasil, aproximações Luiz Sérgio Henriques
- Presos na teia de aranha Gaudêncio Torquato
- Esboços de uma obra capital José Arthur Giannotti
- Desonestidade é cultura João Ubaldo Ribeiro
- Obama aciona as reservas Celso Ming
- Em nome da Copa Dora Kramer
- Alimento e petróleo assustam Alberto Tamer
- O visto de Battisti é ilegal Editorial O Estado de...
- Obama aciona as reservas Celso Ming
- Inquietação na Grã-Bretanha Gilles Lapouge
- A política vai mudar KÁTIA ABREU
- Redes & redes! Cesar Maia
- Cabral, o bom amigo FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Laranja madura na beira da estrada... Sandra Caval...
- Na contramão VALDO CRUZ
- Governabilidade MERVAL PEREIRA
- Crise de confiança Celso Ming
- Segredo é para quatro paredes Fernando Gabeira
- Disputa tecnológica Merval Pereira
- O Supremo e o custo do emprego VINICIUS TORRES FREIRE
- Antes da queda DORA KRAMER
- Proposta irresponsável O Globo Editorial
- O grande momento de FH Rogério Furquim Werneck
- A luta do século Nelson Motta
- Fed diz que fez o que podia Alberto Tamer -
- Governo reage:: Merval Pereira
- Sem eira nem beira DORA KRAMER
- Drogas e gravatas CONTARDO CALLIGARIS
- A promiscuidade na vida pública EDITORIAL
- Gregos e bárbaros MIRIAM LEITÃO
- Festa macabra DEMÉTRIO MAGNOLI e ADRIANO LUCCHESI
- Muito além do Big Mac JOSÉ SERRA
- Os sigilos e a presidente EDITORIAL O Estado de S....
- Alegria e farsa nos mercados VINICIUS TORRES FREIRE
- Recesso à vista! VALDO CRUZ
- Metas e inflações MIRIAM LEITÃO
- O último tango em Atenas ALEXANDRE SCHWARTSMAN
- Jabuti maroto DORA KRAMER
- Elogio ao sociólogo que virou tese JOSÉ NÊUMANNE
- Desigualdade persiste MERVAL PEREIRA
- Desmandos e calotes ROLF KUNTZ
- O piano e o banquinho ELENA LANDAU
- O problema do passado Roberto DaMatta
- A economia de Dilma é essa aí VINICIUS TORRES FREIRE
- Absoluto e relativo MIRIAM LEITÃO
- Visão autoritária MERVAL PEREIRA
- DEPUTADOS NÃO LEGISLAM?
- A Europa vacila CELSO MING
- Exercício da razão Dora Kramer
- A presidente hesita João Augusto de Castro Neves
-
▼
junho
(310)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA