A MB Associados calcula que as exportações do agronegócio saltarão de R$ 76,5 bi em 2010 para R$ 93 bi este ano. Estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), de ontem, diz que a tendência dos preços na próxima década é de alta. Na média, os preços das commodities agrícolas entre 2011 e 2020 devem ser maiores do que os preços entre 2001 e 2010.
Eles podem cair, oscilar, mas na média estarão mais altos. Para entender melhor, veja o gráfico do índice de preços de alimentos (Food Price Index) da FAO. Ele revela que durante a maior parte da década passada, entre 2000 e 2006, o preço dos alimentos ficou estável, crescendo muito a partir de 2007. Houve queda em 2009, na crise internacional, e voltou a subir aos níveis recordes.
"O preço das commodities pode cair dos atuais níveis recordes do início de 2011, mas em termos reais a projeção é de aumento médio de 20% para os grãos e 30% para as carnes na comparação entre os anos de 2011 e 2020 e entre 2001 e 2010", registra a FAO.
O Brasil é um dos mais beneficiados pela alta. Para este ano, a receita agrícola — somando exportações e vendas internas — deve saltar para R$ 215 bilhões. O número é quase o dobro do que se viu em 2007: R$ 124 bilhões.
A soja continuará sendo o produto agrícola com maior receita, R$ 56 bilhões, seguido pela cana de açúcar, R$ 32,6 bi, e café, R$ 31,7 bi.
Segundo a economista Ana Laura Menegatti, da MB Associados, há uma mudança no padrão de consumo de alimentos na China, Índia, Brasil, entre outros países, pelo aumento da renda e o ingresso de novas famílias na classe média. A produção não tem acompanhado o ritmo da demanda e há ainda a competição do biocombustível.
— Este ano, os EUA terão 120 milhões de toneladas de milho destinados à produção de etanol. Isso é mais de um terço da produção americana.
Milho é usado na ração do gado bovino, então o aumento do seu preço também tem impacto na carne.
Essa é uma das dificuldades para aumentar a produção — disse Ana Paula.
A economista explica que entre 2001 e 2010 a produção mundial de alimentos cresceu 28% enquanto o consumo subiu 29%. Entre 2011 e 2020, a FAO estima que a produção deve crescer num ritmo anual ainda menor, de 1,7%, contra 2,6% ao ano da década anterior.
Há ainda o excesso de liquidez mundial. Os países ricos em crise reduziram muito os juros e o Fed injetou mais dólares na economia.
Parte desses recursos vai parar nas bolsas de commodities agrícolas, pressionando os preços. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, vai propor na reunião de ministros da agricultura do G-20, dia 22, a regulação desse mercado para evitar especulação. A economista-chefe da Link Investimentos, Marianna Costa, e o diretor para área de commodities, Mário Lívio Frioli, acham difícil a ideia sair do discurso.
— Sempre que os preços dos alimentos sobem, surge esse apelo político, mas é muito difícil tentar restringir a entrada de participantes no mercado futuro. Ele é extremamente importante para a economia porque antecipa negócios, garante liquidez de oferta e demanda. Os investidores financiam operações, dividem e diluem riscos — explicou Marianna.
O economista-chefe da RC consultores, Fábio Silveira, ainda prevê preços altos este ano, mas faz a ressalva de que o baixo crescimento dos Estados Unidos e da Europa pode puxar para baixo as cotações. Ele estima que a alta dos preços elevará a produção em outros países e que a África pode ser uma nova fronteira. Por isso, considera prematuro garantir que na próxima década os preços estarão mais altos do que nos últimos dez anos.
Seja como for, o importante é que o Brasil aproveite a oportunidade conciliando suas duas grandes vocações: a de produtor de alimentos e a de país com a maior biodiversidade do planeta.