Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 04, 2011

Dois movimentos ROBERTO RODRIGUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/06/11


No país, mais investidores visam o agronegócio; no exterior, outros países aumentam a área plantada


INFORMAÇÕES divulgadas recentemente apontam para o crescimento do padrão tecnológico na safra brasileira de 2011/2012: haverá novo recorde na venda de fertilizantes, a procura por sementes também está crescendo e foi grande a venda de máquinas e implementos agrícolas na Agrishow e em feiras similares.
Todos são indicativos claros naquela direção e também sinalizam para um possível aumento da área plantada, especialmente em pastagens degradadas.
Tudo isso resulta do maior estímulo para a produção rural, que é o bom preço das commodities em geral. Mas não se trata apenas de uma posição dos agricultores tradicionais do Brasil.
Dois outros movimentos muito nítidos vão se delineando, um aqui e outro no exterior.
Internamente, vem crescendo o interesse de investidores de fora do setor rural pela produção agropecuária. Esse fato não se baseia apenas nos altos preços atuais que, de resto, como era previsto, já começaram a cair, ainda que suavemente.
Tais agentes são operadores de fundos ou companhias de investimentos que, finalmente, deram-se conta de que a terra agricultável disponível no planeta não vai aumentar muito, que a demanda por produtos do campo -alimentos, fibras, energia e seus subprodutos- vai crescer, de modo que esses ativos (terra e produtos) passaram a atrair muito mais do que outros, até porque entre esses outros houve perdas espetaculares na famosa crise financeira de 2008/2009.
De qualquer modo, é de olho nesse horizonte de longo prazo que tais capitais buscam o campo. E aí tem de tudo: aqueles que esperam se beneficiar com a valorização imobiliária em determinado prazo, aqueles que desejam montar um projeto produtivo para depois abrir o capital ou simplesmente vendê-lo e aqueles que querem entrar para valer, inclusive já projetando a agregação de valor via agroindústrias ou tradings.
Em todos os casos, no entanto, o investidor deseja resultados rápidos, mesmo se o investimento for um negócio meramente imobiliário e precisa produzir bem. E isso tem uma importante consequência: a atividade deve ser lastreada em dois pilares essenciais: tecnologia e gestão.
Os gestores contratados utilizam os mais modernos mecanismos de produção sustentável, com respeito ao ambiente e preocupação social.
Isso é muito bom, porque gera um efeito demonstração que se propaga por todo o meio produtivo. E, por outro lado, exige segurança jurídica: ninguém vai investir sem o indispensável aparato jurídico que garanta a estabilidade do empreendimento.
Nesse sentido, a recente votação do novo Código Florestal tem um efeito bastante positivo, porque tira do horizonte a questão da ilegalidade que vinha assombrando nossos produtores.
E isso leva ao segundo movimento já referido, o do exterior, porque o Brasil não é o único país com nova fronteira agrícola por abrir. É de longe o maior (tem 72 milhões de hectares cultivados em todas as culturas e mais 93 milhões por cultivar), mas outros países estão aumentando sua área plantada.
Países africanos e do Leste Europeu estão entre os que mais cresceram ultimamente. Dados do Usda mostram que, de 2007 até este ano, a área plantada com os quatro principais grãos (arroz, trigo, milho e soja) aumentou 5% no mundo todo.
No Leste Europeu, com as ex-repúblicas da União Soviética, o crescimento foi de 12%; nos principais países africanos, de 9%. Só a Ucrânia cresceu 26,7% em suas férteis terras planas. E a Nigéria, 13,1%.
No Brasil, segundo a Conab, a expansão de área plantada será de 7%, acima da média mundial, mas abaixo daquelas outras regiões.
Também nesse capítulo temos muito o que fazer, seja para atrair capitais de fora que queiram investir aqui, seja para evitar que nossos grandes investidores prefiram outras terras.
Segurança jurídica é essencial, como também a nossa velha lição de casa: logística, infraestrutura, acordos comerciais e apoio ao pequeno produtor, que está fora desses movimentos.

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