O Globo - 15/09/2010
Dois anos depois do dia em que o Lehman Brothers quebrou, o balanço mostra que a economia americana cresce pouco, a Europa teve que fazer um esforço para salvar o euro, o Japão voltou à estagnação, o mundo fez um acordo por nova regulação bancária. A China e a Índia crescem forte. A América Latina toda cresce, exceto Venezuela, Cuba e Haiti
Não deixa de ser animador que na semana em que o mundo completa dois anos daquela assustadora segunda, 15 de setembro, a capa da revista “The Economist” fale sobre o “renascimento” latinoamericano, justo a região que sempre foi mais atingida pelas crises mundiais.
Um mapa do mundo ao contrário, com a América do Sul acima e a do Norte abaixo, decora há décadas a parede do gabinete do ministro no Itamaraty. Essa mesma ideia está na última capa da “Economist”, com o título: “Não é quintal de ninguém”.
Claro que há ainda muitas mazelas por aqui. Quem tiver em mente o massacre no México, de 72 imigrantes, alguns brasileiros, que tentavam chegar ilegalmente aos Estados Unidos, atrás do sonho americano, pode achar que ainda é cedo para comemorações.
A região tem muitos sinais do passado: o caudilhismo do Chávez lembra velhos tipos da região.
Há sinais assustadores de neo-caudilhismo no Brasil também. O casal Kirchner conspira contra a modernização da Argentina. A guerra contra as drogas no México exibe falhas de outras instituições, como as Forças Armadas.
No Brasil, a corrupção parece incansável.
Mas na área macroeconômica, a região enfrentou muito bem a crise. No Brasil, a agilidade do BC e as altas reservas impediram que se repetisse o cenário de crise cambial. A região teve rapidez na recuperação pós-crise na maioria dos países e, este ano, está com forte crescimento, não apenas no Brasil.
Uma das razões desse bom momento é o crescimento forte da China e da Índia e a demanda por matérias-primas da região, diz a “Economist”, que, no entanto, registra como principal fator do progresso o sucesso na luta contra a inflação crônica, a maior responsabilidade fiscal e a regulação bancária mais prudente que nasceram das crises dos anos 80 e 90.
Essa é a lição da América Latina para o sul da Europa: a crise das dívidas soberanas foi enfrentada com reformas estruturais que agora estão mostrando seu valor.
A crise derivada da quebra do Lehman Brothers remodelou a conjuntura econômica.
Hoje, a Europa ainda vive engasgada com enormes déficits e dívidas, cresce pouco e houve um momento em que o próprio euro correu riscos.
Nos Estados Unidos, a popularidade do presidente Obama se esvaiu nos primeiros dois anos de mandato, em decorrência direta do ambiente econômico. Ele herdou a crise, não a fez, mas a cabeça da sua equipe econômica está sendo pedida no debate pré-eleitoral, sob a acusação de não ter sido capaz de superar a crise e recuperar o emprego.
Já no mundo emergente, houve gradações diferentes de impacto da crise. O Brasil teve uma queda abrupta do ritmo de crescimento. O país crescia a 6% e caiu a -0,2%. A Pnad de 2009 mostrou que a taxa de desocupação aumentou 18,5%. O país teve dois trimestres de recessão. A Índia e a China tiveram apenas uma redução do ritmo de crescimento. Rússia e México tiveram recessões de 7%.
Em 2010, todos voltaram a crescer, inclusive o México.
A América Latina tem vários países com crescimento forte: Brasil, Peru, Colômbia, Chile, Argentina. Mas a “Economist” mostra também que os velhos problemas permanecem.
A produtividade tem crescido a níveis mais baixos do que em outras partes do mundo. A região tem baixos níveis de poupança e de investimento. Aceita padrões medíocres na educação e inovação. Tem uma regulação trabalhista que induz a um grau enorme de informalidade na economia.
Para resolver esses problemas, a região precisaria, diz o texto, de líderes que renovassem seu apetite por reformas. Outro risco atual é o fortalecimento da ideologia do Estado forte.
A América Latina precisa também evitar o antiamericanismo de Hugo Chávez e, de acordo com a “Economist”, o país com mais chance de neutralizar esse “nonsense” é o Brasil. Por outro lado, os Estados Unidos também precisam mudar a atitude com que sempre trataram os países do sul do continente. O muro separando os Estados Unidos do México é o exemplo desse erro de ver os riscos e não as oportunidades na relação com os vizinhos. O país deveria construir pontes, diz a revista, até pelo dinamismo econômico da região.
A reportagem foi feita a propósito dos 200 anos de independência de vários países hispânicos que se comemora em 2010. A nossa independência, como se sabe, veio depois, teve outro caminho.
Mas este momento que o Brasil vive não é muito diferente do que é vivido pela maioria dos outros países latinoamericanos. Nas suas vantagens, acertos, riscos e erros. A fórmula é não errar velhos erros e fortalecer os acertos das últimas duas décadas.
Porque crises como a de 2008/2009 sempre acontecem.
É preciso se preparar para os sustos como o daquele 15 de setembro que ainda não foi digerido por inúmeras economias.
Entrevista:O Estado inteligente
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