O Estado de S. Paulo - 12/04/2010
A aptidão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a política ninguém nega e seus acertos nesse quesito até os adversários invejam. Mas terá ele cometido um grande erro de timing no lance mais importante da sua carreira? Será que investiu demais e prematuramente na promoção da sua candidata? Será que, por causa disso, seu estoque de popularidade injetável já não adicionará mais nada ao potencial de votos que granjeou para ela?
A indagação está em várias cabeças curiosas que tentam descobrir, nos resultados das muitas pesquisas, alguma indicação de quanta massa muscular o electoral trainer de Dilma conseguirá ainda bombear para dentro da esquálida pretendente a líder política dos brasileiros.
Lula tem dito que, tão logo a lei permita, partirá como uma locomotiva para decisivo corpo a corpo de apoio à figura que escolheu para dar continuidade ao seu "projeto nacional". Mas embora explique que, por causa da lei, na fase atual só pode fazer isso "fora do expediente", pois precisa "governar o Brasil" uma vez que "é essa minha obrigação", todo mundo sabe, vê, sente - e muitos deploram - que outra coisa ele não tem feito na verdade, fora ou dentro do expediente, do que batalhar pela ex-ministra.
É de perguntar, portanto, o que mais ele ainda poderá fazer, até a data do pleito, que possa, efetivamente, inflar o balão de Dilma Rousseff mais do que já foi inflado. E a pergunta tem mais cabimento ainda porque, com tudo o que ele fez por ela até agora - e que não tem paralelo na história eleitoral brasileira -, Dilma ainda resfolega atrás do seu principal oponente, cuja campanha está apenas iniciada e que não conta com uma turbina Lula-engineered para impulsioná-la. Na verdade, todo esforço de Serra até agora foi apenas para livrá-lo de bancos de areia movediça providenciados por companheiros desse ninho de ególatras inapaziguáveis chamado PSDB.
Não há por que, nem como, duvidar da fúria com que Lula se empenhará na missão que se impôs de fazer sua companheira presidente do Brasil pelos próximos quatro, quiçá oito anos. Mas aquela velha história de que voto não se transfere, principalmente no caso de eleição majoritária, ainda tem seu peso, que pode ser suficiente para barrar o ímpeto presidencial da senhora Rousseff. Com a ajuda substancial da pouca, ou nenhuma, vis atractiva que ela exerce sobre o público, que, por onde ela passa, só tem olhos para Lula.
Não é só por falta de tutano eleitoral - que seu chefe se esforça por transferir-lhe quando está junto dela - ou pela falta de carisma que, na ausência de Lula, aparece a ponto de constranger até os adeptos.
O problema é outro. Dilma Rousseff é presa de uma lastimável desarticulação oratória e de uma dispersão mental que a derrubam nesses momentos. E não tem nem um pingo da verve do chefe para encobrir a pobreza da mensagem. Os improvisos em que ela se arrisca, sempre atrapalhada, não passam de tagarelice infantil, na forma. E, no conteúdo, dão mais para lembrar os de Cantinflas. Nem são inteligíveis. Deles não se extrai a menor inspiração para se aderir a um projeto nacional de longo prazo, para o qual ela e Lula parecem querer cooptar o entusiasmo popular.
E uma campanha eleitoral ainda é feita, em boa medida, de discursos, sejam quais forem os expedientes de marketing e os avanços da tecnologia de que os candidatos se aproveitem no mundo moderno. A vitória de Obama foi fruto de diversos fatores favoráveis, mas um deles, importante, foi sua oratória, que empalidecia a do adversário. E discurso eleitoral é feito, principalmente, de duas coisas que precisam ser muito bem dosadas: brilho e racionalidade. Nos debates inevitáveis entra um terceiro fator: presença de espírito para colocar o adversário em xeque e sair-se com a última palavra.
Nesse último quesito, nenhum dos dois oponentes principais do cenário atual é um Carlos Lacerda. Para quem não viveu no tempo dele, basta dizer que foi, entre os políticos brasileiros, um dos mais ágeis na arte de, com uma palavra ou meia frase, deixar o adversário a gaguejar em busca de réplica.
Mas nem Serra nem Dilma têm esse dom. Quanto ao brilho, escasseia nos dois. Resta a racionalidade. Nesse terreno Serra levaria vantagem, não só pelo conhecimento que assimilou de economia, de administração, de política internacional, como pela experiência como governante e consultor de governos aqui e no exterior.
Lula talvez já sinta que precisará estar escorando a pupila o tempo todo para evitar que ela embarque em "dilmásias", que o vice, Alencar, perplexo, pensou ser o nome de nova doença. Mas isso não será possível. E também não restam a Lula muitas mais armas secretas para arrancar novas adesões... O muito que podia fazer já está feito.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
abril
(259)
- DORA KRAMER Em nome da História
- Os 'hermanos' se afagam EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- MERVAL PEREIRA A busca do diálogo
- O MST sem aliados Alon Feuerwerker
- MÍRIAM LEITÃO As duas faces
- Belo Monte Rogério L. Furquim Werneck
- Anatomia de um fracasso Nelson Motta
- A nova cara dos britânicos Gilles Lapouge
- China só promete, não cumpre Alberto Tamer
- Coisas simples /Carlos Alberto Sardenberg
- Um tranco nos juros Celso Ming
- A política da eurozona:: Vinicius Torres Freire
- DORA KRAMER Ficha limpa na pressão
- MÍRIAM LEITÃO Última escalada
- LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Bravatas de Lula e ...
- MERVAL PEREIRA Direitos humanos
- Lula celebra Geisel em Belo Monte DEMÉTRIO MAGNOLI
- Cavalo de Troia na Europa:: Vinicius Torres Freire
- MERVAL PEREIRA 'Irã é indefensável'
- JOSÉ NÊUMANNE Turma do sítio de dona Dilma bota pr...
- MÍRIAM LEITÃO Contágio grego
- Democracia reduzida Merval Pereira
- Novo ciclo Miriam Leitão
- Mercosul e integração regional Rubens Barbosa
- NICHOLAS D. KRISTOF Jovens super-heróis numa cabana
- As crises previstas por Ciro Gomes EDITORIAL - O G...
- ''Audiência'' para Ahmadinejad EDITORIAL - O ESTAD...
- Debate eleitoral brasileiro nos EUA VINICIUS TORRE...
- A candidata Bengell Jânio de Freitas
- Uma estranha no espelho Dora Kramer
- A farsa Celso Ming
- Usina de alto risco ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ
- O jogo duplo do Planalto no trato com os sem-terra...
- O dono da festa Luiz Garcia
- Norma Rousseff Fernando de Barros e Silva
- DENIS LERRER ROSENFIELD Viva Marighella!
- Omissão oficial é coautora de crimes Demóstenes To...
- A desindustrialização gradual no Brasil Paulo Godoy
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Ciro Gomes: modos de usar
- MARIANO GRONDONA ¿Muere o renace el ciclo de los K...
- O valor da UNE -Editorial O Estado de S.Paulo
- Suely Caldas - Os que têm tudo e os que nada têm
- Primeiro aninho Ferreira Gullar
- O peso das palavras Sergio Fausto
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Planejamento familiar
- DORA KRAMER Sequência lógica
- GAUDÊNCIO TORQUATO O OLHO DA NOVA CLASSE MÉDIA
- REGINA ALVAREZ Ampliando o leque
- O maior dom DANUZA LEÃO
- Governo criará "monstro", diz ex-diretor da Aneel
- Plebiscito de proveta-Ruy Fabiano
- Ciro Gomes: "Estão querendo enterrar o defunto com...
- Depois de Belo Monte Celso Ming
- Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a...
- MAURO CHAVES A propaganda subliminar
- Hora da verdade MARCO AURÉLIO NOGUEIRA -
- DORA KRAMER Baliza de conduta
- Arrebentou FERNANDO DE BARROS E SILVA
- UM VAGA-LUME NA SELVA EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO ...
- Pobres vão pagar caro pela crise dos ricos Rolf K...
- Dever de casa Regina Alvarez
- Amazônia peruana é nossa Marcos Sá Correa
- Estatais apontam que Belo Monte é inviável
- Belo Monte, o leilão que não houve:: Vinicius Torr...
- Economia brasileira e importações:: Luiz Carlos Me...
- JOÃO MELLÃO NETO Por que a nossa política externa ...
- LUIZ GARCIA Da carochinha
- BARBARA GANCIA Ordem do Rio Branco pelo correio!
- CELSO MING O rombo está aumentando
- DORA KRAMER Pior é impossível
- A conta fictícia de Belo Monte Editorial de O Est...
- VINICIUS TORRES FREIRE Belo Monte, o leilão que nã...
- A notícia linchada Antonio Machado
- NELSON MOTTA Movimento dos Sem Tela
- DORA KRAMER De boné e outros males
- MÍRIAM LEITÃO Decisão britânica
- CELSO MING O vizinho roubado
- A diplomacia do gol contra EDITORIAL - O ESTADO DE...
- Sinais contraditórios EDITORIAL - O GLOBO
- PAULO RENATO SOUZA Salários na educação paulista
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Brasília, um equívoco caro
- Uma carta do Diabo ROBERTO DaMATTA
- Erro até o final Miriam Leitão
- O jogo bruto da candidata
- Dom de confundir Dora Kramer
- RUY CASTRO Zero hora para a mudança
- A bolha de imóveis brasileira Vinicius Torres Freire
- DORA KRAMER Proposta estratégica
- MÍRIAM LEITÃO Custo do inesperado
- CELSO MING A pressão do consumo
- ENIGMA AGRÁRIO XICO GRAZIANO
- A recuperação da economia americana é real Luiz Ca...
- Paulo Guedes É hora de enfrentar o Leviatã brasileiro
- Celso Lafer O Brasil e a nuclearização do Irã
- Carlos Alberto Di Franco Drogas, ingenuidade que mata
- JOSÉ GOLDEMBERG A nova estratégia nuclear dos Esta...
- Yoshiaki Nakano Juros e câmbio de novo!
- Ferreira Gullar Os políticos do lixo
- CELSO LAFER O BRASIL E A NUCLEARIZAÇÃO DO IRÃ
- GAUDÊNCIO TORQUATO CAMPANHA DO MEDO?
-
▼
abril
(259)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA