Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 24, 2010

Dever de casa Regina Alvarez

O GLOBO - 24/04/10

A América Latina saiu-se bem na crise, mas ainda há um importante dever de casa por fazer se a região quiser competir, em condições de igualdade, com os concorrentes asiáticos nas próximas décadas. O Itaú Unibanco fez uma análise apontando os principais gargalos que ameaçam a região: carência de infraestrutura; déficit de mão-de-obra qualificada; e entraves aos negócios estão no topo dessa lista.

O economista Tomás Málaga lembra que o bom desempenho na crise decorre do acúmulo de reservas que os países fizeram, aproveitando o apetite da China por commodities. As reservas serviram de colchão, que foi usado no auge da desconfiança para a proteção das moedas. Mas Málaga ressalta que esse cenário não se sustentará eternamente. Por isso, é tão importante aumentar a poupança nacional para financiar investimentos em capital humano, capital físico e infraestrutura.

— A taxa de poupança na América Latina é muito baixa em relação aos asiáticos, que possuem taxas acima de 30%. O Brasil, por exemplo, tem poupança em torno de 16% do PIB. O Chile é quem se sai melhor, com 25%. Mas ainda é muito pouco — destaca.

O fundamental, na visão do economista, é financiar os investimentos que resultem em vantagens comparativas futuras. E para isso defende incentivos que atraiam os esforços do empresariado e o capital humano qualificado.

— É muito importante aproveitar esta boa fase da região para garantir a competitividade futura — diz.

Alguns dados incluídos no estudo do Itaú Unibanco indicam com clareza as deficiências da região. No ranking Doing Business 2010, elaborado pelo Banco Mundial, o país mais bem colocado da América Latina é a Colômbia, que aparece na 37aposição, em uma lista de 183 países. O Chile está em 49olugar; seguido pelo México, em 51o. A Argentina é 118ocolocado, enquanto o Brasil aparece na 129aposição.

A baixa qualificação da mão-de-obra fica evidente na quantidade de pessoas que ainda permanecem abaixo da linha de pobreza na região — quase 190 milhões — e nas notas obtidas por alunos de 15 anos no PISA, o exame educacional coordenado pela OCDE.

— Tudo isso evidencia que as empresas da região não encontram facilidades para operar e isso as torna menos competitivas num cenário global — conclui.

O dia seguinte

O sinal verde dado ontem pelo governo grego ao pacote de ajuda do FMI tem um sentido simbólico forte, mas quanto aos resultados práticos pairam muitas dúvidas. A primeira intervenção do Fundo na zona do euro terá um impacto positivo, pois alivia a crise fiscal de curto prazo, mas não vai resolver os problemas da Grécia, observa o economista Gustavo Loyola, da consultoria Tendências. Os problemas são estruturais: produtividade baixa, capacidade de emprego baixa. E o remédio do FMI é amargo. Vai exigir um ajuste fiscal forte, que vai inibir o crescimento no curto prazo.

— Será que a Grécia vai aceitar o sacrifício? Terá condições políticas de fazer o ajuste? Como fazer a população aceitar esse remédio amargo? — indaga Loyola, lembrando que o país é parlamentarista e que já se observa uma forte reação da sociedade a medidas mais duras.

Na visão do economista Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, o mercado continuará atento aos problemas da Grécia e dos demais países da zona do euro que têm uma situação fiscal parecida, como Portugal e Espanha.

— O empréstimo resolve o problema de rolagem da dívida deste ano, não do ano que vem — destaca.

Leal e Loyola acreditam que a crise da Grécia pode servir de lição para outros países, inclusive para o Brasil.

Com a criação da zona do euro, os gregos se beneficiaram dos juros baixos e do crédito farto e desperdiçaram tudo isso sem construir as bases para o crescimento sustentável.

— Mais do que nunca está valendo a frase de Milton Friedman, "Não existe almoço grátis" — diz Otávio Leal.

Consumo de luxo

A estimativa da Azimut Yachts, estaleiro italiano especializado em embarcações de luxo, é de que o mercado náutico brasileiro crescerá mais de 10% este ano.

De acordo com Luca Morando, CEO da Azimut do Brasil Yachts, o Brasil se tornou prioridade para a empresa, com um mercado consumidor de 800 mil famílias, dispostas a pagar entre US$ 1 milhão a US$ 8 milhões por uma embarcação. Esse mercado está concentrado em São Paulo (50%); Rio de Janeiro (20%) e Santa Catarina (20%).

À frente

A Azul anunciou cinco novos voos saindo de Belo Horizonte, a partir de 1º de julho: São Paulo/Campinas, Porto Alegre, Porto Seguro, Recife e Fortaleza. Assim, a capital mineira passará à frente do Rio, hoje a segunda cidade melhor servida pela companhia, com três voos. A empresa tentou montar no Rio a sede de suas operações, mas as restrições à liberação de voos no Santos Dumont empurraram a Azul para Campinas.

Formigas

A agência Fitch estima que metade das perdas de US$ 1,7 bilhão das empresas aéreas europeias ainda pode ser recuperada com a remarcação de passagens.

A avaliação é que a crise provocada pelas cinzas do vulcão Eyjafjallajokull só não é maior porque as companhias aprenderam a fazer caixa após o colapso vivido no setor com os atentados de 11 de Setembro, nos Estados Unidos.

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