Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 27, 2010

O jogo duplo do Planalto no trato com os sem-terra Rui Nogueira

 O Estado de S.Paulo
O Estado de S. Paulo - 27/04/2010
 

 


Em Brasília existem duas orientações para pautar a relação do governo Lula com os movimentos dos sem-terra.


Para o trato público, em geral - audiências, solenidades, entrevistas e discussões sobre políticas estatais -, segue-se a regra da "não criminalização dos movimentos sociais", o discurso de que nenhum governo deu "tanta atenção" e "dialogou tanto" com os sem-terra, nenhum outro presidente tirou e botou tantos bonés do MST, Contag e outras associações de agricultores com ou sem terra e sem-terra que não querem terra, mas engrossam o movimento pró-socialismo do líder João Pedro Stédile.

A ordem, igualmente genérica, é preservar ao máximo a "relação fraterna" com os sem-terra, "não satanizar" os seus líderes. Mas é tudo uma política de relações públicas.

Quando os sem-terra viram as costas e pegam os elevadores de saída, quando os ministros e secretários aliviam os nós das gravatas e desabotoam o primeiro botão dos colarinhos, aí vem o desabafo e a ordem: ir enrolando os sem-terra, não deixar de exercer a boa convivência, espargir uns trocados que mantenham os movimentos ativos, distribuir umas cestas básicas e apressar a inscrição no Bolsa-Família. E nada além disso porque o governo sabe que assentar, assentar e assentar a reboque das novas invasões equivale a jogar dinheiro num buraco sem fundo.

O governo fala em investir nos assentamentos dos verdadeiros agricultores, fala em recheá-los com o melhor em matéria de assistência técnica e fala em convênios com a Embrapa e outros órgãos que possam dar independência econômica às famílias. Fala, a portas fechadas, mas não tem coragem de admitir junto às lideranças do MST que esse é o desejo.

Stédile sabe desse jogo duplo do governo. É por isso que, vez ou outra, ele desce a língua contra o próprio governo Lula. E quando se sente acuado leva o movimento a descer a língua e o braço em invasões que são, na prática, o preço do jogo duplo que o Planalto é obrigado a pagar.

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