O Estado de S. Paulo - 15/04/2010
Após algumas idas e vindas, Henrique Meirelles anunciou que não deixaria o cargo de presidente do Banco Central (BC) para se dedicar à carreira política, devendo, portanto, permanecer à frente do BC até o final do mandato do presidente Lula. Com essa decisão, Meirelles provavelmente terá exercido o mais longo mandato como presidente daquela instituição, desde a sua criação, em 1964, pois nem mesmo durante a ditadura militar aquele cargo esteve tanto tempo nas mãos de uma única pessoa. É um bom indicador da estabilidade institucional alcançada pelo BC e isso deve ser creditado ao governo petista que, apesar de toda sua retórica contra a independência da autoridade monetária, conferiu, de fato, a autonomia operacional que o BC necessitava para implementar suas decisões de política monetária. Os resultados alcançados até agora confirmam que Meirelles e sua diretoria fizeram bom uso dessa autonomia.
De fato, sem pretender fazer um balanço completo da administração Meirelles, (o que seria fora de propósito, por várias razões), o comportamento de duas variáveis, no início e no término de sua gestão, pode resumir, mesmo que grosseiramente, seu desempenho à frente do BC: a taxa de inflação, medida pelo IPCA, que estava em 9,3% em 2003, deve terminar 2010 em 5,3% (segundo o último indicador da expectativa de mercado do relatório Focus de 9/4/2010). No mesmo período, o crescimento do PIB deve saltar de 1,1%, ocorrido em 2003, para uma taxa esperada de 5,6 %, em 2010. Em outras palavras, crescimento robusto do PIB e queda na taxa de inflação constituem resultados auspiciosos para bancos centrais. Além disso, há que se considerar ainda o notável crescimento das reservas internacionais, a elevação do País a grau de investimento e a solidez revelada pelo sistema bancário brasileiro ante as turbulências provocadas pela crise financeira internacional.
O desempenho recente do BC convida à comparação com a gestão de Alan Greenspan nos seus 19 anos à frente da Junta de Governadores do Federal Reserve System, de 1987 a 2006. Apesar de várias crises durante seu mandato, seus últimos anos à frente do Federal Reserve foram saudados como sendo um longo período de estabilidade monetária e crescimento econômico conhecido como A Grande Moderação. Esse resultado deu a Greenspan um reconhecimento não apenas no rarefeito círculo de banqueiros centrais, executivos de instituições financeiras multilaterais e banqueiros de Wall Street, mas também no conjunto da sociedade norte-americana, uma fama quase equivalente à de um popstar (e não pelas suas habilidades como saxofonista). Esse período foi denominado de a era Greenspan por banqueiros centrais, acadêmicos de renome, executivos de bancos internacionais, que se reúnem no tradicional simpósio anual do Federal Reserve de Kansas, em Jackson Hole, cujo principal tema, em 2005, foi dedicado à celebração dos resultados alcançados por Greenspan à frente do banco central norte-americano. Lamentavelmente, após deixar o cargo, a sua reputação foi mortalmente corroída pelos ativos tóxicos, cuja desintegração provocou a mais devastadora crise financeira das últimas décadas, a qual teve, entre suas possíveis causas, a política monetária extremamente expansionista conduzida por Greenspan.
Pode-se, por analogia, falar em uma era Meirelles à frente do BC brasileiro a partir de 2003? Os resultados das políticas monetária e cambial nos anos precedentes, bem como a atuação do BC na crise financeira, justificariam claramente tal denominação tão honrosa quanto cheia de significado e de responsabilidade. Isso em um momento particularmente desafiador, quando a expansão de demanda ? sustentada pelos gastos públicos e pelo crédito bancário ? provoca os aumentos da taxa de inflação, do nível de atividade econômica e do desequilíbrio externo. A atuação do BC nos próximos meses será crucial para a consolidação dos ganhos macroeconômicos da era Meirelles e para não repetir a melancólica trajetória da era Greenspan.
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