FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/10
RIO DE JANEIRO - À zero hora de 21 de abril de 1960, os sinos das igrejas cariocas repicaram. Ranchos, blocos e escolas de samba tomaram a avenida Rio Branco num segundo Carnaval. Bandas de música saíram às ruas tocando "Cidade Maravilhosa", novo hino oficial. Fábricas apitaram, carros buzinaram e houve foguetório nos morros e no asfalto. A cidade saudava a transferência da capital e a inauguração de Brasília, mas principalmente a criação do Estado da Guanabara -a libertação do Rio.
Hoje, parece incrível que o Rio aprovasse a perda da sua condição de capital, mas foi assim. Primeiro, porque não se acreditava que houvesse uma perda: os ministérios, o corpo diplomático e o próprio Congresso continuariam aqui por tempo indeterminado -nenhum político trocaria a Corte por um ermo sem telefone, hotéis, restaurantes, boates, teatros, livrarias, boutiques e onde, para comprar um lápis ou um retrós, era preciso tomar o carro e comer poeira.
Ao mesmo tempo, o Rio, como cidade-Estado, conquistaria a autonomia pela qual sempre lutara. O carioca poderia finalmente eleger seus governantes, capazes de cuidar de buracos de rua ou da falta d'água, sem prejuízo de sua vocação nacional, atlântica e cosmopolita.
Só não se contava com as falsetas da história. De 1961 a 1965, Carlos Lacerda, primeiro governador da Guanabara, ajudou a derrubar Jânio Quadros e João Goulart, e rompeu com Castello Branco, primeiro presidente militar. Os generais-ditadores seguintes, temendo a oposição no Rio, efetivaram a transição para Brasília, onde podiam governar sem a opinião pública.
Para acabar de esvaziar politicamente o Rio, Ernesto Geisel, em 1975, fundiu a Guanabara com o velho Estado do Rio sem consultar cariocas e fluminenses. Foi pior para o Rio e pior para o Brasil.
Entrevista:O Estado inteligente
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