O Globo - 12/04/2010
O saudoso Nelson Rodrigues, brilhante frasista, dizia: "Subdesenvolvimento não se improvisa.
É trabalho árduo de vários anos." Se ele conhecesse a favela do Bumba, em Niterói, talvez a frase fosse um pouco diferente. Ali, há alguns anos, existiu um lixão. Problema grave, que, infelizmente, se repete por todo o Brasil. Foco de vetores, de doenças, que produz chorume, gás metano e contamina o solo, os rios e o ar.
Um dia resolveram desativar o lixão ilegal. Que, como o nome diz, não devia estar ali. Sem nenhuma preocupação em conter vetores, recolher o chorume, queimar o gás e com isso evitar doenças e eventuais explosões. Naquela área livre e perigosa começaram a surgir os primeiros barracos, até virar a comunidade do Bumba. Que poderia perfeitamente se chamar do Bomba, por conta do risco que corria.
Por fim, um administrador irresponsável resolveu fazer obras de infraestrutura na área. É mais ou menos como se uma bomba-relógio fosse embrulhada para presente.
Nelson, existe forma mais improvisada de subdesenvolvimento? A história é sempre é a mesma. Pode ser a cidade alagada por conta da chuva, um arrastão na praia, mortes num hospital público, não importa.
As vítimas choram seus mortos e feridos, a população fica indignada, a mídia cobra e as autoridades dão explicações, muitas vezes sem nexo. E pior: começam a tomar decisões sem planejamento só para dar uma satisfação aos eleitores.
Empresas como a Petrobras e a Vale, só para citar as duas maiores do Estado, com certeza, estão com os seus planejamentos estratégicos para os próximos cinco anos prontos. Sabem exatamente o que fazer e quais são as prioridades.
Não sei se o Rio precisa de um Plano Diretor, de um Plano Gerente ou de um Plano Contínuo. Mas não podemos continuar improvisando.
Entidades como a Firjan, a Fecomércio, a Associação Comercial ou a OAB poderiam deixar suas divergências políticas de lado e liderar esse processo. Não estou falando da cobertura do bolo, da cereja, que pode ter a cor e o sabor que cada partido ou candidato quiser dar.
Estou falando da massa básica, da farinha, do fermento, daquilo que uma cidade como Rio não pode deixar de ter. Algo que estaria acima de candidatos e partidos. Como a remoção de famílias das áreas de risco, o fim dos lixões ilegais, o tratamento do esgoto, a limpeza dos rios e lagoas, a despoluição da Baía de Guanabara. Ações que nos deixassem mais distantes do subdesenvolvimento e do improviso.
Entrevista:O Estado inteligente
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