O GLOBO
Consumada a decisão do Supremo Tribunal Federal de abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB mineiro, temos definido que cada um dos principais partidos políticos brasileiros carrega agora acusações do mesmo teor. Há o mensalão do PT, o do PSDB e, agora, o do DEM. Mesmo que as características de cada um sejam diferentes entre si — o do PT com caráter nacional e arquitetado de dentro do Palácio do Planalto, de acordo com a acusação acolhida pelo Supremo, e o do PSDB e do DEM de caráter regional em Minas e no Distrito Federal, o fato é que eles não se distinguem para a opinião pública e em termos políticos.
Suas consequências são arrasadoras não só para partidos que, cada um a seu tempo, quiseram assumir a bandeira da moralidade na política, mas também para o debate político.
Nivelando-se por baixo, nossos partidos ficam parecidos aos olhos dos eleitores, e o alívio que hoje sentem os petistas com a desdita de seus adversários oposicionistas é o sintoma mais evidente do desvio de conduta que tomou conta da política brasileira.
Há um raciocínio perverso que leva alguns a acusar os partidos oposicionistas que abandonaram o governo do Distrito Federal de traição a um correligionário, embutindo nesse raciocínio a ideia de que pelo menos os petistas não abandonam os seus.
Uma variante desse raciocínio político degradado leva alguns “democratas” a pensarem que, se o PT não puniu nenhum de seus mensaleiros, por que eles têm que punir os seus? Dizer que o falso moralismo derrotado pelos fatos é um bom indício de que a política agora se travará no debate real das realizações, e não no plano etéreo da moralidade, é aceitar que a corrupção é fator inerente à atividade política.
Esse excesso de pragmatismo é o responsável pela degradação da nossa vida política e se reflete na tentativa que todos os partidos, sem exceção, fizeram e fazem para reduzir a culpa de seus correligionários.
A começar pelo presidente da República, que, não contente de passar a mão na cabeça de todos os mensaleiros e aloprados petistas, ainda tentou relativizar as imagens escabrosas da farta distribuição de dinheiro nas salas do governo do Distrito Federal.
A recusa do DEM de expulsar sumariamente o governador José Roberto Arruda de seus quadros, adiando a decisão por dez dias, só demonstra a força que ele tem dentro do partido, contagiando toda a sua já reduzida estrutura partidária, que vem minguando a cada eleição.
Também o PSDB hesitou em punir o senador Eduardo Azeredo quando surgiu a denúncia do “mensalão mineiro”, que teria sido a origem do “mensalão petista”.
Da mesma maneira que o governador José Roberto Arruda emparedou seus companheiros de partido, ameaçando “radicalizar” no final se “radicalizassem” contra ele, também Azeredo, então presidente nacional do PSDB, mandou seu recado quando achou que seria abandonado pelos companheiros tucanos: “A campanha de 1998 não era só minha. Era de todo o partido, inclusive da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso no estado”, disse ele em entrevista em 2007.
O fato é que Azeredo continua no PSDB até hoje, e até bem pouco tinha planos de se candidatar à reeleição ao Senado. No momento, parece mais fácil ser candidato a deputado federal.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que naquela eleição concorreu a deputado federal, já o avisou de que não há espaço para disputar uma das duas vagas de senador.
O governador Arruda, por sua vez, dificilmente continuará no DEM, perdendo assim a possibilidade de se candidatar em 2010; mas tentará se manter no governo do Distrito Federal até o último momento, para ser julgado em foro privilegiado pelo Superior Tribunal de Justiça.
E o PMDB é um injustiçado, não aparece em nenhum esquema dos mensalões? A explicação vem de um membro ilustre daquele aglomerado político, o senador Pedro Simon: “O PMDB está em todos eles”.
No mensalão petista, o acusado foi o deputado José Borba, do PMDB do Paraná.
No mensalão do DEM, aparece em uma conversa gravada, entre outros correligionários, o nome do presidente da Câmara, Michel Temer, cotado para ser o vice da chapa da ministra Dilma Rousseff.
Temer nega as acusações e, juntamente com a direção do partido, pretende processar na Justiça seus acusadores. As acusações de corrupção atingem de maneira direta ou indireta a sucessão do presidente Lula, e não apenas os partidos de oposição, embora estes sejam os mais obviamente afetados.
O governador de São Paulo, José Serra, tinha com o DEM uma clara parceria política, que levou Gilberto Kassab à prefeitura paulista. Já o governador de Minas, Aécio Neves, ganhou o apoio recente do presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, na disputa interna pela candidatura à sucessão de Lula.
Além disso, o partido era o potencial parceiro para indicar o vice-presidente na chapa tucana, se não fosse possível formar uma chapa puro-sangue do PSDB.
A crise instalada pelos escândalos de corrupção no governo do Distrito Federal está abalando as relações interpartidárias, mas é pouco provável que o DEM se afaste da chapa oposicionista, embora seja praticamente certo que não dará mais o vice.
Consumada a decisão do Supremo Tribunal Federal de abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB mineiro, temos definido que cada um dos principais partidos políticos brasileiros carrega agora acusações do mesmo teor. Há o mensalão do PT, o do PSDB e, agora, o do DEM. Mesmo que as características de cada um sejam diferentes entre si — o do PT com caráter nacional e arquitetado de dentro do Palácio do Planalto, de acordo com a acusação acolhida pelo Supremo, e o do PSDB e do DEM de caráter regional em Minas e no Distrito Federal, o fato é que eles não se distinguem para a opinião pública e em termos políticos.
Suas consequências são arrasadoras não só para partidos que, cada um a seu tempo, quiseram assumir a bandeira da moralidade na política, mas também para o debate político.
Nivelando-se por baixo, nossos partidos ficam parecidos aos olhos dos eleitores, e o alívio que hoje sentem os petistas com a desdita de seus adversários oposicionistas é o sintoma mais evidente do desvio de conduta que tomou conta da política brasileira.
Há um raciocínio perverso que leva alguns a acusar os partidos oposicionistas que abandonaram o governo do Distrito Federal de traição a um correligionário, embutindo nesse raciocínio a ideia de que pelo menos os petistas não abandonam os seus.
Uma variante desse raciocínio político degradado leva alguns “democratas” a pensarem que, se o PT não puniu nenhum de seus mensaleiros, por que eles têm que punir os seus? Dizer que o falso moralismo derrotado pelos fatos é um bom indício de que a política agora se travará no debate real das realizações, e não no plano etéreo da moralidade, é aceitar que a corrupção é fator inerente à atividade política.
Esse excesso de pragmatismo é o responsável pela degradação da nossa vida política e se reflete na tentativa que todos os partidos, sem exceção, fizeram e fazem para reduzir a culpa de seus correligionários.
A começar pelo presidente da República, que, não contente de passar a mão na cabeça de todos os mensaleiros e aloprados petistas, ainda tentou relativizar as imagens escabrosas da farta distribuição de dinheiro nas salas do governo do Distrito Federal.
A recusa do DEM de expulsar sumariamente o governador José Roberto Arruda de seus quadros, adiando a decisão por dez dias, só demonstra a força que ele tem dentro do partido, contagiando toda a sua já reduzida estrutura partidária, que vem minguando a cada eleição.
Também o PSDB hesitou em punir o senador Eduardo Azeredo quando surgiu a denúncia do “mensalão mineiro”, que teria sido a origem do “mensalão petista”.
Da mesma maneira que o governador José Roberto Arruda emparedou seus companheiros de partido, ameaçando “radicalizar” no final se “radicalizassem” contra ele, também Azeredo, então presidente nacional do PSDB, mandou seu recado quando achou que seria abandonado pelos companheiros tucanos: “A campanha de 1998 não era só minha. Era de todo o partido, inclusive da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso no estado”, disse ele em entrevista em 2007.
O fato é que Azeredo continua no PSDB até hoje, e até bem pouco tinha planos de se candidatar à reeleição ao Senado. No momento, parece mais fácil ser candidato a deputado federal.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que naquela eleição concorreu a deputado federal, já o avisou de que não há espaço para disputar uma das duas vagas de senador.
O governador Arruda, por sua vez, dificilmente continuará no DEM, perdendo assim a possibilidade de se candidatar em 2010; mas tentará se manter no governo do Distrito Federal até o último momento, para ser julgado em foro privilegiado pelo Superior Tribunal de Justiça.
E o PMDB é um injustiçado, não aparece em nenhum esquema dos mensalões? A explicação vem de um membro ilustre daquele aglomerado político, o senador Pedro Simon: “O PMDB está em todos eles”.
No mensalão petista, o acusado foi o deputado José Borba, do PMDB do Paraná.
No mensalão do DEM, aparece em uma conversa gravada, entre outros correligionários, o nome do presidente da Câmara, Michel Temer, cotado para ser o vice da chapa da ministra Dilma Rousseff.
Temer nega as acusações e, juntamente com a direção do partido, pretende processar na Justiça seus acusadores. As acusações de corrupção atingem de maneira direta ou indireta a sucessão do presidente Lula, e não apenas os partidos de oposição, embora estes sejam os mais obviamente afetados.
O governador de São Paulo, José Serra, tinha com o DEM uma clara parceria política, que levou Gilberto Kassab à prefeitura paulista. Já o governador de Minas, Aécio Neves, ganhou o apoio recente do presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, na disputa interna pela candidatura à sucessão de Lula.
Além disso, o partido era o potencial parceiro para indicar o vice-presidente na chapa tucana, se não fosse possível formar uma chapa puro-sangue do PSDB.
A crise instalada pelos escândalos de corrupção no governo do Distrito Federal está abalando as relações interpartidárias, mas é pouco provável que o DEM se afaste da chapa oposicionista, embora seja praticamente certo que não dará mais o vice.