Inaugurações pomposas escondem sob o tapete o atraso
de obras prometidas para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016
Ronaldo Soares
Fotos Rafael Andrade/Folha Imagem; Felipe Dana/AP | |
Ritmo de Carnaval Cabral e Lula no metrô de Ipanema e favela ocupada: cronograma apertado |
Em sua preparação para receber jogos da Copa do Mundo de 2014 e sediar a Olimpíada de 2016, o Rio de Janeiro tem como principal desafio resolver problemas crônicos em transporte e segurança pública. Está precisamente aí a explicação para o estardalhaço que cerca qualquer anúncio e, principalmente, qualquer inauguração relacionada a essas duas rubricas. Na semana passada, o próprio presidente Lula esteve no Rio para inaugurar a mais nova estação de metrô da cidade, em Ipanema. Foi o fim de uma novela que durou vinte anos – tempo decorrido desde a abertura do primeiro canteiro de obras, durante o governo Moreira Franco (1987-1991). Agora, o que se quer saber é quando sairá do papel o metrô até a Barra da Tijuca. Prevista para ser concluída até a Olimpíada, a obra não conta sequer com recursos garantidos para começar. Dois dias depois da abertura da Estação de Ipanema, foi a vez de o governo do estado lançar mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), projeto de ocupação permanente em favelas onde quem mandava eram os traficantes de drogas. É mais um passo num projeto de bons resultados. No conjunto, entretanto, a cidade ainda está longe de equacionar o drama da segurança pública. Olhando-se o cronograma das intervenções necessárias para os Jogos de 2016 e, principalmente, para a Copa, o que se nota é uma lentidão preocupante. E não apenas no Rio.
Em 2009, nenhuma das doze cidades que vão sediar jogos da Copa cumpriu o que estava definido inicialmente em relação aos estádios de futebol. As licitações para construções e reformas atrasaram, e as obras, que deveriam começar até fevereiro de 2010, estão sendo reprogramadas. O Maracanã, por exemplo, que deveria ser fechado no início do primeiro semestre para reformas, só entrará em obras para valer a partir de setembro. No quesito segurança pública, a maior dificuldade é conseguir policiais em número suficiente para o principal projeto do governo no combate à violência. As UPPs consistem em expulsar os traficantes das favelas e manter a polícia em caráter permanente no local para impedir o retorno dos bandidos. Os policiais destacados para a missão são todos recém-formados – cuidado que se adotou para evitar que PMs mais antigos, e eventualmente envolvidos em corrupção, pusessem o trabalho a perder.
Criado há um ano, o projeto mudou o panorama nas cinco favelas onde foi implantado até o momento. Traficantes não circulam mais com armas, as bocas de fumo pararam de funcionar e os bailes funk, normalmente usados para aumentar a venda de drogas, foram proibidos. Na semana passada, mais uma UPP foi inaugurada e outra começou a ser implantada em quatro favelas da Zona Sul do Rio. Com elas, serão nove favelas atendidas até hoje. O problema é que, das mais de 1 000 existentes no Rio de Janeiro, quase metade está sob o domínio de bandidos – traficantes ou grupos conhecidos como milícias. O governo acertou ao adotar a estratégia de desencastelar os bandidos. A questão agora é saber se terá fôlego para continuar ampliando o projeto até 2016. O deputado Silvio Torres (PSDB-SP), autor de um projeto que estabelece normas para acompa-nhamento e fiscalização das obras da Copa e da Olimpía-da, alerta para os prazos. Diz ele: "Não sabemos quando as coisas vão realmente começar a sair do papel. Não custa lembrar que os atrasos na organização dos Jogos Pan-Americanos provocaram um festival de problemas".